Quinta-feira, Novembro 21, 2024
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Jónia Presado: “A pirataria é um grande desafio para o mercado de televisão paga e não só”

Chama-se Jónia Presado e é uma das Top 50 Women in Management Africa, é vencedora do prémio Africa Silent Heroes e uma das 100 Personalidades Negras mais Influentes da lusofonia – Bantumen Powerlist 2023. Actualmente, Jónia assume as funçoes de Directora de Marketing, Comunicação e Relações Públicas da Multichoice Moçambique gerindo as marcas DStv e GOtv.

Em conversa com o Profile, Jónia, deixou ficar o seu parecer sobre o Superbrands Moçambique e destacou os desafios e expectativas do Marketing Empresarial no contexto moçambicano.

Profile Mozambique: Como avalia a relevância do Superbrands Moçambique?

Jónia Presado: É louvável a iniciativa do Superbrands, que admiro pela sua resiliência desde que se estabeleceu em Moçambique (2019), agora na sua sexta edição para 2023-2024, apesar dos desafios atravessados e interrupção no período da covid-19.

A organização tem se mostrado resiliente em manter a marca Superbrands relevante no mercado moçambicano. Isso é crucial, pois buscamos elevar as marcas e seus negócios, bem como dar a conhecer à sociedade moçambicana o trabalho e contribuição destas marcas.

PM: Qual é a sua perspectiva sobre o posicionamento das empresas moçambicanas no contexto do marketing actual?

JP: Cada empresa define o seu posicionamento com base na sua visão estratégica e objectivos. O mercado moçambicano tornou-se mais competitivo, dinâmico e exigente e as empresas veem-se obrigadas a explorar o marketing como uma das soluções comerciais para assegurar o seu posicionamento no mercado em que operam. Há um notável avanço na área de comunicação principalmente na Telefonia móvel, Televisão paga, a Banca, sector de Alimentos e Bebidas e poucos mais. Tem se visto estratégias inteligentes que tem resultado em belos trabalhos por parte das agencias de publicidade. Vemos campanhas que decididamente ressoam com o mercado e por isso dou os meus parabéns aos autores e profissionais de marketing. Contudo, ainda não somos um país que se possa propriamente dizer que pratica consistentemente o marketing na sua íntegra, precisamos explorar os vários tipos de marketing adequando a natureza do produto/serviço e condição orçamental de cada empresa.

Não nos podemos esquecer da mídia tradicional que apesar das limitações, como a falta de ferramentas de medição de campanhas ATL, tem servido de alavanca principal para as empresas na divulgação das marcas e continuará relevante por muito tempo no nosso país, onde para alcançar maior audiência envolvendo todos segmentos e esferas sociais só é possível com a mídia tradicional, devido à baixa penetração de internet e custo elevado para acesso à mesma. Por outro lado, o marketing digital tem sido uma boa aposta a não ignorar para os marketeiros, à medida em que já nos dá a possibilidade de mensurar o valor e resultado das nossas campanhas. O aumento do número de profissionais de marketing no país indica que há mais demanda por parte das empresas que apostam na comunicação e a qualidade do trabalho realizado são evidentes, tanto pelas agências de publicidade quanto pela colaboração entre marcas, agências de Mídias.

Os consumidores estão mais cientes dos seus direitos e mais exigentes em relação as ofertas do mercado, destacando a necessidade de melhorar a experiência e o atendimento ao cliente. É preciso concentrar-se na experiência do cliente ao longo de toda a sua jornada, e não apenas penas nas marcas e no branding. Este é um desafio crucial para as instituições e marcas. Oferecer uma experiência positiva ao cliente é fundamental para fidelização dos clientes, para manter a consistência e o sucesso das marcas.

PM: Que repercussões acredita que empresas que não desenvolvem uma estrutura de comunicação ou marketing podem enfrentar em termos de competitividade e relevância no mercado?

JP: As empresas devem comunicar a sua marca para poderem estar na mente de potenciais clientes e dos consumidores. Não comunica, não é visível logo não existe. A inexistência de um departamento de comunicação e Marketing em muitas instituições africanas é comum devido aos orçamentos limitados e à percepção enganadora de que o mesmo não é essencial. No entanto, essa lacuna resulta em várias desvantagens.

A ausência de uma visão clara compartilhada por todos dificulta a direcção estratégica da organização. Embora algumas instituições possam ter uma visão e valores, isso só por si não basta, a falta de um departamento de comunicação compromete a consistência na comunicação e compreensão desses princípios.

Além disso, é difícil identificar e comunicar efectivamente a marca e a sua proposta de valor ao mercado sem uma estratégia, algo que só seria possível com a existência de uma estrutura de comunicação. Isso leva a uma abordagem dispersa na comunicação e dificuldade em entender o público-alvo e adaptar os produtos ou serviços às suas necessidades. Por outro lado, sendo o Marketing uma área de suporte, a sua ausência diminui o sucesso das áreas de Vendas, Retenção e Experiencia ao Cliente entre outros.

Apenas as marcas que comunicam de forma consistente, tem uma proposta de valor que responde as expectativas do seu publico e cumprem com a sua promessa, conseguem se manter relevantes e competitivas no mercado em que operam. Em suma, a falta de um departamento de comunicação prejudica a capacidade das instituições de se comunicarem de forma eficaz, entenderem o mercado, fazerem frente aos seus concorrentes e alcançarem seus objectivos.

PM: De que forma a Multichoice está lidar com os desafios específicos que enfrenta no seu sector de actuação em Moçambique?

JP: O presente e o futuro se entrelaçam diariamente, especialmente à medida que avançamos na era da inteligência artificial. A crescente demanda por serviços de streaming em Moçambique reflecte a busca de mais por menos, onde a proposta de valor muitas vezes se traduz em obter muito pagando pouco.

No entanto, essa percepção desafia a ideia de uma comparação equilibrada entre preço e qualidade.

Enquanto operadores tradicionais de Televisão paga como a DStv, a ZAP, Startimes, TMT e TV Cabo, partilham o mercado e fazem concorrência perfeita, a ascensão do streaming, muitas vezes pirata, representa um desafio adicional para os operadores tradicionais licenciados. A pirataria não apenas prejudica os provedores legais, mas também tem impactos negativos na indústria do entretenimento, afectando músicos, cineastas e outros profissionais.

Além disso, a “recessão económica” e a procura de mais por menos, contribui de certa forma para a procura de conteúdos pirateados e agrava os desafios enfrentados pelo mercado da televisão paga em Moçambique.

Há uma grande necessidade de se educar os consumidores no geral sobre o que é a pirataria, as suas consequências negativas para o próprio consumidor assim como para quem a promove, pois esta, sonega milhões em direitos intelectuais de autores, artistas e inventores, promove o desemprego, inviabiliza a competição com empresas sérias que investem em pesquisa, pagam impostos e cumprem todas as exigências legais e fiscais, consequentemente, regride o desenvolvimento económico do país.

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