Sexta-feira, Agosto 15, 2025
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Rogério Samo Gudo: “MCNet prova que digitalizar é desenvolver”

Com uma estratégia assente nos pilares da qualidade, segurança e inclusão, a MCNet, SA acaba de alcançar um importante marco institucional ao obter as certificações ISO 9001 e ISO 45001.

Para o Presidente do Conselho de Administração (PCA), Rogério Samo Gudo, esta conquista representa não apenas o cumprimento de padrões internacionais, mas sobretudo a consolidação de um percurso que reflecte a maturidade organizacional da empresa.

Profile Mozambique: Como avalia o impacto da JUE na eficiência do comércio exterior e na competitividade das empresas moçambicanas?

Rogério Samo Gudo: Quando falamos da Janela Única Electrónica, temos de reconhecer que ela representa um dos grandes marcos nas reformas do comércio externo em Moçambique. Desde o início, o nosso objectivo, enquanto Estado, foi claro, queríamos simplificar, modernizar e tornar mais eficientes todos os processos relacionados com a importação e exportação de mercadorias.

Sabemos que a nossa economia depende fortemente das importações, mais de 90% dos bens que consumimos vêm de fora. Por isso, era essencial criarmos condições que facilitassem o comércio, reduzissem a burocracia e dessem mais previsibilidade às empresas. E foi nesse contexto que surgiu a JUE.

Ao integrarmos numa única plataforma digital todos os intervenientes do processo, desde as alfândegas até às entidades que emitem licenças e certificações, conseguimos ganhos reais. Reduzimos tempos de espera, aumentámos a transparência, e com isso, diminuímos custos operacionais para os agentes económicos.

Mas é importante dizer que esta transformação não aconteceu isoladamente. A JUE veio acompanhada por um conjunto de outras reformas institucionais, que abrangem vários sectores ligados à logística, à inspecção sanitária, à regulação portuária, entre outros.

PM: Quais são os principais desafios que persistem, e que evolução tem evidenciado a plataforma desde a sua criação até hoje?

RSG: A introdução da Janela Única representou um avanço crucial na modernização do comércio externo em Moçambique, com destaque para a redução do tempo de desembaraço de mercadorias. Esta melhoria tem impacto directo nos custos de importação e, por consequência, no preço dos produtos para o consumidor final. Numa economia fortemente dependente de bens importados, como é o caso moçambicano, essa eficiência traduz-se num alívio para a cadeia logística e para o custo de vida.

O efeito positivo estende-se também às empresas que utilizam matérias-primas importadas para fins de transformação local. Reduzir os prazos logísticos permite-lhes manter maior competitividade no mercado, evitar encarecimento da produção e oferecer produtos a preços mais acessíveis. Neste contexto, a Janela Única tornou-se uma ferramenta estratégica para impulsionar o ambiente de negócios e promover a industrialização nacional.

Esse progresso exigiu uma profunda modernização dos processos administrativos e financeiros. A integração com os bancos e a digitalização dos pagamentos de impostos trouxeram maior agilidade e controlo ao sistema. O Termo de Compromisso, por sua vez, tem desempenhado um papel central na regulação cambial, no combate à evasão fiscal e na protecção da economia nacional, reforçando a transparência nas operações de comércio externo.

PM: Em que medida o uso de inteligência artificial pode melhorar a prestação de serviços públicos no país?

RSG: Quando falamos da introdução da Inteligência Artificial nos serviços públicos, vemos nela uma grande oportunidade para resolver muitos dos problemas que ainda enfrentamos na administração pública. Durante anos, lidámos com limitações de recursos, formação insuficiente e infraestruturas frágeis.

A IA permite-nos identificar com mais precisão os principais entraves dos nossos processos, planear melhor a alocação de recursos e tomar decisões com base em dados mais fiáveis e actualizados. Isto ajuda-nos a reduzir custos, acelerar procedimentos e aumentar a eficiência de todo o sistema público.

Na prática, já estamos a aplicar estas soluções com impacto visível, como acontece com a Janela Única Electrónica. Com a introdução de chatbots inteligentes, por exemplo, conseguimos dar respostas rápidas a perguntas de investidores e operadores económicos, como dados de importações, consumo e tendências de mercado.

PM: Como vê a colaboração público‑privada na MCNet (PPP) como modelo replicável em outros sectores da economia?

RSG: Nós, na MCNet, vemos as parcerias público-privadas como uma solução prática e eficiente para muitos dos desafios que o país enfrenta, especialmente quando olhamos para a limitação de recursos do Estado, sejam financeiros, humanos ou tecnológicos. Acreditamos que a junção das forças do sector público e privado permite acelerar a implementação de projectos estratégicos e melhorar a qualidade dos serviços prestados.

Quando o Estado, que tem a missão e a escala das necessidades, se junta ao sector privado, que tem a agilidade, o investimento e o conhecimento técnico, todos ganham, especialmente o cidadão.

Momentos da entrevista Com Rogério Samo Gudo

Ao longo dos últimos 15 anos, temos provado que este modelo funciona. A experiência da Janela Única é uma evidência clara disso: conseguimos melhorar os serviços, garantir maior eficiência e responder com mais rapidez às exigências dos nossos clientes. Por isso, acreditamos que este tipo de colaboração pode e deve ser replicado em outras áreas críticas da economia, como as infraestruturas, a saúde ou a educação, onde as necessidades crescem a um ritmo que o Estado, sozinho, não consegue acompanhar. É uma questão de visão estratégica e compromisso com o desenvolvimento do país.

PM: Quais barreiras regulamentares ou operacionais ainda impedem uma adopção mais ampla das soluções tecnológicas?

RSG: Temos percebido que uma das maiores barreiras para a adopção plena das soluções tecnológicas não está na própria tecnologia, mas nas pessoas. A resistência à mudança continua a ser muito forte. Por mais que apresentemos sistemas inovadores, se quem os vai utilizar não estiver preparado ou disposto a mudar, o impacto será sempre limitado. E sabemos que mudar hábitos não é fácil, muitas vezes, o receio do desconhecido, o conforto com o método antigo ou mesmo a falta de confiança no digital criam entraves.

Por isso, em todos os nossos projectos, fazemos questão de integrar acções de gestão da mudança. Acompanhamos, formamos, explicamos. Queremos que cada pessoa perceba o valor da tecnologia e como ela pode facilitar e melhorar o seu trabalho.

Mas também enfrentamos desafios do ponto de vista legal e institucional. A digitalização obriga-nos a repensar a forma como o Estado e as instituições funcionam. Isso significa rever leis, regulamentos e procedimentos que, muitas vezes, estão desactualizados face à realidade tecnológica actual.

Se queremos acelerar a transformação digital em todos os sectores, temos de reconhecer que essa transformação também passa por reformas legislativas. Precisamos de uma base legal que acompanhe a inovação, que permita fazer mais com menos, com transparência, rapidez e eficiência. E esse é um trabalho colectivo, de todos os sectores, ministérios e lideranças.

Saiba mais aqui: MCNet SA

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