Terça-feira, Agosto 26, 2025
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Neide Tsenane: “Agility regista 90% de ocupação e expande seu parque logístico”

Profile Mozambique: A Agility inaugurou o seu Logistics Park em Maputo em 2021, com 290 000 m² de terreno e 32 000 m² de armazéns prontos para arrendamento, oferecendo soluções para armazenamento, distribuição e até fabrico ligeiro. Como descreve o percurso desde o lançamento até à actualidade, em termos de crescimento e resposta ao mercado?

Neide Tsenane: Consideramos 2021 como o verdadeiro relançamento do nosso parque logístico em Maputo. Iniciamos as operações em 2019, ainda na fase de implementação, mas rapidamente fomos condicionados pelo impacto da pandemia da Covid-19, que reduziu o mercado a níveis mínimos, nessa altura, contavamos apenas com um cliente. Foi apenas em 2021, já no processo de retoma económica, que conseguimos dinamizar a operação e avançar com a estratégia de crescimento.

Num primeiro momento, tivemos de investir na educação do mercado, sobretudo junto das grandes empresas, para explicar as vantagens de operar num espaço de armazenagem construído segundo padrões internacionais. A realidade habitual em Moçambique é bastante diferente, muitos operadores limitam-se a disponibilizar um espaço para colocar mercadorias ao nível do chão. Trouxemos uma proposta inovadora, com armazéns de 9 metros de altura, que permitem não apenas armazenar na horizontal, mas também optimizar o espaço na vertical.

Quando chegamos, em 2021, tínhamos apenas 10% de ocupação. Encerramos esse mesmo ano com 47% e, desde então, o crescimento tem sido consistente. Hoje, contamos com cerca de 90% de taxa de ocupação, um reflexo claro da aceitação e confiança do mercado.

PM: Em Outubro de 2023, o grupo DSV, operador global de logística, arrendou 12 000 m² no parque, com opção de expansão. Como avalia o interesse crescente de multinacionais e empresas locais? Quais sectores têm mostrado maior procura?

NT: Desde a inauguração do nosso parque logístico, temos registado um interesse crescente de multinacionais e empresas locais, reflexo da confiança nas soluções que oferecemos. A parceria estabelecida, em Outubro de 2023, com o grupo DSV, cujo cliente final é uma reconhecida empresa holandesa de produção e distribuição de cerveja, demonstrou que o nosso espaço reúne condições ideais para operações de grande escala, sobretudo nos sectores de bebidas e de produtos de grande consumo (FMCG).

Já anteriormente tínhamos conquistado clientes estratégicos, como a distribuidora Oceana, que centralizou a sua logística no nosso parque pela combinação de localização privilegiada e elevados padrões de segurança. Muitos dos nossos parceiros enfrentavam, noutros armazéns, problemas de pragas e más condições de conservação, resultando em perdas significativas de mercadoria. Ao transferirem as operações para as nossas instalações, perceberam que, embora o investimento inicial possa ser superior, a redução de prejuízos e a eficiência na distribuição compensam amplamente. Localizados junto a um dos principais eixos de saída de Maputo, oferecemos uma vantagem competitiva para abastecer de forma célere e segura todo o país.

PM: Qual tem sido o contributo do parque para a economia local, em termos de emprego, cadeia de valor e incremento da competitividade logística do país? Existe retroalimentação positiva para sectores como energia, mineração ou produtos de consumo?

NT: O nosso contributo para a economia local começa pelo facto de termos sido pioneiros numa zona onde, até à nossa instalação, praticamente não existiam projectos estruturados. A nossa presença impulsionou a dinamização da área, atraindo outros investimentos e a construção de mais armazéns no entorno. Desde o início, assumimos o compromisso de devolver valor à comunidade que nos acolheu, e uma das formas mais concretas de o fazer foi através da geração de emprego local. Estabelecemos com os nossos subcontratados a exigência de priorizar a contratação de residentes da região, o que permitiu que muitos dos homens e mulheres que hoje trabalham connosco sejam vizinhos próximos do parque, actualmente inserido no município de Marracuene.

Mantemos também uma relação activa com as autoridades municipais, colaborando em iniciativas que reforçam a sustentabilidade e a capacitação da comunidade. Um exemplo é o nosso projecto com a Fundação Clarísse Machanguana, através do qual apoiamos a literacia informática nas zonas circundantes. Reabilitamos o bloco informático de uma escola local e fornecemos computadores, garantindo que crianças e jovens tenham acesso a ferramentas de aprendizagem essenciais para o seu futuro. Desta forma, não apenas fortalecemos a cadeia de valor logística do país, como criamos um impacto social duradouro, promovendo a inclusão e a competitividade a partir da base.

PM: Considerando a política de construção sustentável e gestão ecológica do parque, como enquadra a Agility a sua estratégia de responsabilidade ambiental num quadro económico nacional e regional?

NT: A responsabilidade ambiental é um pilar central da nossa actuação, enquadrando-se tanto na realidade económica nacional como no contexto regional. Levamos este compromisso muito a sério e, actualmente, acreditamos ser o único operador de armazéns em Moçambique com certificação EDGE, reconhecida internacionalmente pelas suas exigências em construção sustentável. Desde o planeamento, incorporamos soluções que reduzem o consumo energético, como o sistema Skylight, que integra aberturas no tecto para permitir a entrada de luz natural, diminuindo a dependência da iluminação eléctrica durante o dia.

Os nossos armazéns foram construídos com painéis “sanduíche”, que garantem melhor isolamento térmico e, simultaneamente, utilizam materiais mais sustentáveis, reduzindo o impacto ambiental. A nossa equipa de engenharia está constantemente a avaliar formas de aperfeiçoar os projectos, assegurando que cada nova infraestrutura seja mais eficiente e amiga do ambiente. Como Grupo Agility, investimos em mercados emergentes com uma perspectiva de longo prazo, não estamos aqui para cinco ou dez anos, mas para permanecer e contribuir de forma duradoura. É nesse sentido que procuramos certificações e adoptamos práticas que não apenas qualificam os nossos empreendimentos actuais, mas também elevam o padrão dos projectos futuros.

PM: Dada a elevada procura por armazéns de referência, há planos de expansão das infra-estruturas ou abertura de novos polos logísticos noutras regiões do país ou na região Austral de África?

NT: Sim, temos planos claros de expansão. Actualmente, a nossa presença em África Austral limita-se a Moçambique, mas estamos activos em outros mercados emergentes do continente, como Gana, Costa do Marfim e regiões do Norte de África. Para Moçambique, especificamente, já definimos um plano de crescimento, que se concentrará na área de Maputo.

Hoje, o nosso parque logístico ocupa apenas um terço da área total que nos foi atribuída. Entre o final deste ano e o início do próximo, planeamos a construção de mais de 20 mil metros quadrados de espaço de armazenagem, elevando a capacidade total do parque para mais de 50 mil metros quadrados. Trata-se de uma marca significativa, rara mesmo na África Austral, em termos de espaço disponível num único local.

Reconhecemos que o mercado está em expansão e que a procura por armazéns de referência cresce a cada dia. Por isso, queremos oferecer uma opção acessível também a pequenas e médias empresas que estão a iniciar as suas operações. Estes novos armazéns terão especificações ligeiramente diferentes, altura menor, adaptação a cargas que não exigem prateleiras elevadas, e plataformas de carregamento ajustadas às realidades locais. Mantemos, no entanto, o padrão de qualidade Agility, garantindo que o produto atenda às necessidades específicas do mercado moçambicano e de diversos setores económicos.

PM: Como potencializa o parque para que empresas nacionais, especialmente PME, acedam a infra-estruturas logísticas de nível internacional? Há programas de apoio ou condições diferenciadas?

NT: Sim, temos plena consciência de que a capacidade financeira de uma multinacional difere da de uma pequena ou média empresa nacional, especialmente aquelas que estão no início do seu percurso. Por isso, procuramos apoiar esses empreendedores de formas adaptadas às suas realidades.

Momentos durante a entrevista

Nem sempre isso se traduz em redução direta do preço do espaço, mas podemos, por exemplo, oferecer períodos de instalação em que a empresa não paga imediatamente a renda, permitindo-lhe organizar a operação e ajustar a sua estrutura de custos antes de assumir plenamente as despesas do parque. Avaliamos cada projecto individualmente, mantendo essa flexibilidade para que o cliente possa “respirar” até atingir um ponto de estabilidade operacional.

Adoptamos esta abordagem porque compreendemos que muitas empresas se intimidam ao comparar os custos com o seu orçamento inicial. Por isso, incentivamos sempre a conversa, conhecer o projecto e o seu potencial é o primeiro passo para encontrar soluções que facilitem o acesso às nossas infra-estruturas de nível internacional, mantendo o padrão de qualidade Agility.

PM: Que desafios regulatórios, cambiais ou infra-estruturais ainda enfrentam e como avalia o quadro de estabilidade e políticas públicas em Moçambique para o desenvolvimento do sector logístico?

NT: No nosso envolvimento com a cadeia logística, enfrentamos desafios ligados principalmente à infra-estrutura e à organização urbana. Por exemplo, estamos num município em fase de aprendizagem, e algumas questões não avançam na velocidade desejada. Um caso concreto é o acesso ao nosso parque, actualmente, quem circula pelo local precisa fazer um desvio de mais de cinco quilómetros para chegar aos armazéns. Desde o início, já sinalizamos às autoridades a necessidade de vias de acesso mais eficientes, que optimizarão significativamente as operações logísticas.

Acreditamos que a melhoria das infra-estruturas, como acessos viários, terá um impacto directo na eficiência do setor. Com a criação recente de um ministério dedicado, esperamos que estas questões recebam atenção prioritária. Ademais, defendemos uma abordagem colaborativa na logística, em que empresas como a Agility oferecem suporte a agentes que não possuem infraestrutura própria. Dessa forma, podemos juntos criar soluções completas para o mercado, permitindo que clientes e operadores logísticos utilizem nossos espaços para armazenagem, manutenção de cargas e serviços complementares. Este tipo de parceria contribui para fortalecer toda a cadeia logística nacional.

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