Terça-feira, Agosto 26, 2025
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Lúcia Brito: “Human Leaders Congress coloca África no centro das soluções globais”

Profile Mozambique: Poderia nos contar brevemente sobre o seu percurso profissional e como surgiu o conceito do Human Leaders Congress em Cabo Verde?

Lúcia Brito: Sou cabo-verdiana, natural da ilha das montanhas, Santo Antão, e mãe de um príncipe e uma princesa, de 15 e 8 anos, respectivamente. Trago comigo mais de 20 anos de experiência em Gestão, Marketing e Consultoria de Negócios, em áreas como Turismo, Indústria Alimentar, Indústria Cimenteira, Serviços Corporativos, Serviços Públicos e Empreendedorismo Social.

Sempre acreditei que a verdadeira liderança começa em casa, no seio da família, e depois se projecta na sociedade e nas organizações. O Human Leaders International Congress nasceu dessa convicção, a de criar um espaço internacional onde a liderança seja pensada e praticada de forma humanizada, inclusiva e integradora, com África no centro da discussão global.

Lúcia Brito, CEO da DILUB e fundadora do Human Leaders International Congress Cabo Verde 2026 (HLICCV2026)

Ao longo do meu percurso profissional, tanto em contextos nacionais como internacionais, percebi que as nossas organizações careciam de um espaço que unisse resultados e pessoas, estratégia e propósito. É nesse espírito que o HLIC nasce em Cabo Verde, para colocar a liderança humanizada no centro do debate continental e aproximar ecossistemas lusófonos, anglófonos e francófonos, promovendo uma verdadeira rede de transformação em África.

PM: Como se define o papel do Human Leaders International Congress no panorama africano, e que nichos de liderança e desenvolvimento a organização pretende preencher?

LB: África é o continente mais jovem do mundo 70% da população da África Subsariana tem menos de 30 anos o que faz do talento jovem a grande alavanca de transformação do continente.

O Human Leaders International Congress posiciona-se como uma plataforma de referência para refletir e agir sobre uma liderança centrada nas pessoas, adaptada às realidades e potencialidades africanas. Para isso, reunimos líderes corporativos, sociais, religiosos, académicos e políticos num diálogo construtivo, inclusivo e com impacto real. O nosso objectivo é ocupar o nicho onde a liderança é pensada de forma humanizada, com África como protagonista na definição de soluções globais.

PM: Observamos que discussões de liderança em África têm vindo a priorizar temas como transformação digital e empoderamento juvenil. Em que medida o Human Leaders Congress pretende reflectir essas tendências, e como as adaptará às necessidades locais?

LB: Integramos essas tendências no centro do debate, sempre com um olhar atento e realista sobre o contexto africano, a juventude como motor de inovação e a digitalização como uma ferramenta de inclusão não apenas de progresso tecnológico.

O Human Leaders International Congress (HLIC) nasce para criar pontes entre países lusófonos, francófonos e anglófonos, promovendo soluções replicáveis, sustentáveis e adaptadas ao nosso contexto. Os dados são claros, em 2024, apenas 38% dos africanos tinham acesso à internet, comparado com uma média global de 68%. O fosso entre áreas urbanas e rurais é o maior do mundo (57% vs. 23%). Esse cenário reforça a urgência de tratarmos a inclusão digital como uma prioridade de liderança, com impacto directo no desenvolvimento de talentos, políticas públicas e modelos de negócio.

Até 2050, mais de um terço da juventude mundial será africana, uma oportunidade única para moldar o futuro do continente. O HLIC propõe-se a criar laboratórios práticos (em competências digitais, literacia de dados e inteligência artificial responsável), policy roundtables e plataformas de partilha de soluções concretas. O nosso compromisso é acompanhar as tendências globais e, acima de tudo, traduzi-las em ações acessíveis, eficazes e transformadoras para toda a África continental.

PM: Que sectores (corporativo, académico, público) espera-se que participem de forma mais activa e o que isso revela sobre o interesse em liderança transformacional?

LB: Esperamos uma forte participação dos setores corporativo, académico e das lideranças da sociedade civil, pois acreditamos que são catalisadores essenciais de mudança prática e de pensamento crítico. Queremos que esses setores atuem não apenas como participantes, mas como verdadeiros promotores de uma liderança transformacional e comprometida com impacto real.

O sector público, por sua vez, é indispensável para traduzir políticas públicas em melhorias concretas, garantindo que a inovação chegue a todos e seja sustentável. O crescente envolvimento destes setores revela que África está pronta para abraçar uma liderança mais colaborativa, consciente e orientada para soluções.

O sector corporativo e o académico têm um papel central neste processo através da requalificação de talentos (upskilling), da investigação aplicada e da promoção de boas práticas. Já o sector público deve ser a âncora de políticas e regulações que incentivem a inovação e a inclusão.

Ademais, a rápida urbanização do continente impõe desafios e exige novas formas de liderança. Até 2050, espera-se que a população urbana africana duplique, o que torna ainda mais urgente o desenvolvimento de soluções conjuntas, sustentáveis e adaptadas às realidades locais.

PM: Em relação à participação de Moçambique, que avanços se registam até agora ao nível das relações estratégicas?

LB: Temos vindo a estabelecer contactos com instituições, agentes de mudança e líderes de referência em Moçambique, que têm demonstrado grande abertura e interesse em cooperar. O país surge como um parceiro estratégico fundamental para expandir, a nível regional, a visão de uma liderança mais humanizada, inclusiva e transformadora.

Mantemos um diálogo activo com actores institucionais e empresariais, no sentido de co-criar delegações e contribuir para temas-chave como juventude, inclusão digital, governança e igualdade de género. A participação moçambicana tem-se revelado promissora, com muitos parceiros entusiasmados em fazer parte desta jornada de transformação.

1.ª edição do COMARP Talk com a participação da Lúcia Brito, em Maputo.

Moçambique será, sem dúvida, um dos pilares desta rede regional de liderança que o Human Leaders International Congress Cabo Verde 2026 pretende fortalecer. O evento, agendado para os dias 24 e 25 de julho, promete ser uma verdadeira imersão em liderança e futuro e Moçambique estará representado como parte activa dessa construção.

PM: Que efeitos concretos espera-se que a iniciativa Human Leaders Congress provoque na qualificação da liderança moçambicana, a nível empresarial, institucional ou social?

LB: Almejamos que o Human Leaders International Congress contribua de forma tangível para o fortalecimento da liderança moçambicana em várias frentes empresarial, institucional e social. A nossa ambição é apoiar Moçambique na adopção de ferramentas práticas de liderança, fomentar redes de cooperação estratégicas e criar espaços onde líderes emergentes possam ganhar projeção internacional.

Esperamos gerar impactos concretos em diversas frentes. Na área de capacitação, promovemos programas de liderança organizacional orientados para resultados e alinhados com valores humanizados. No âmbito das redes, incentivamos o matching entre líderes emergentes e executivos de topo da região, com foco na partilha de experiências e mentoria.

Em termos de transformação digital, desenvolvemos iniciativas para reduzir o gap de uso e competências, baseadas em indicadores da GSMA e da ITU, reforçando o acesso às tecnologias, a cobertura móvel e a literacia digital. Por fim, na esfera da igualdade de género, buscamos fortalecer o pipeline de mulheres líderes, com ênfase no sector empresarial e institucional. Moçambique já se destaca regionalmente com 39,2% de mulheres no parlamento, e o HLIC visa acelerar essa representatividade em outras áreas de liderança.

O nosso compromisso é contribuir para que Moçambique ganhe ainda mais visibilidade e confiança, alinhando as suas práticas aos padrões globais de excelência sempre preservando a sua identidade africana e promovendo uma liderança centrada nas pessoas.

LB: Qual é a vossa visão de médio e longo prazo para o país? Está prevista expansão de formato, frequência de eventos ou recorrência em regiões fora de Cabo Verde?

LB: A nossa visão é transformar o Human Leaders International Congress numa plataforma itinerante em África, tendo Cabo Verde como ponto de partida, mas não como único destino, para promover diálogos globais com impacto local. No médio prazo, queremos realizar eventos temáticos em países estratégicos, no longo prazo, consolidar uma verdadeira rede de líderes africanos interligados. O modelo prevê Cabo Verde como hub e rota de eventos satélite em países-chave, incluindo Moçambique.

Quanto à frequência, o formato prevê a realização de congressos bienais e de laboratórios semestrais, focados em temas estratégicos como digitalização, juventude, género, ESG (Environmental, Social and Governance), educação, inovação social e saúde.

O impacto esperado consiste na criação de uma comunidade continental de prática, sustentada por benchmarks claros, ampla penetração digital, significativa participação feminina e pelo número de projetos incubados. O acompanhamento dessas iniciativas será realizado com base em dados de referência de instituições como a ONU, GSMA e ITU.

PM: Considerando os desafios persistentes na representatividade de mulheres nos espaços de decisão, a vossa organização tem estratégias específicas para promover a liderança feminina?

LB: Sim, temos um compromisso firme e estruturado com a equidade de género. Em Cabo Verde, já foram dados passos significativos com a implementação da Lei da Paridade, que posicionou o país entre os que têm maior representatividade feminina no parlamento (44,4%). O nosso objectivo é expandir esse progresso para além do setor político alcançando empresas, instituições e organizações da sociedade civil para que a liderança feminina se torne cada vez mais visível, ativa e decisiva.

No Human Leaders International Congress, implementamos estratégias específicas para promover a liderança feminina, incluindo a criação de espaços de mentoria e a promoção do allyship. Estabelecemos metas concretas de representatividade, garantindo que, no mínimo, 40% dos oradores e membros dos painéis sejam mulheres.

Ademais, desenvolvemos programas com indicadores mensuráveis, focados na promoção de mulheres em cargos de liderança, na igualdade salarial e no acesso a financiamento, de forma a avaliar o impacto real das nossas iniciativas.

No domínio digital, reconhecemos que muitas mulheres empreendedoras ainda enfrentam barreiras como o custo de acesso e questões de segurança online. Por isso, estamos a desenvolver parcerias com atores tecnológicos e financeiros para criar toolkits (kits de ferramentas) de capacitação digital, com soluções práticas que ampliem a participação feminina na economia digital tanto em Cabo Verde como em outros países africanos.

Leia a entrevista: “Agility regista 90% de ocupação e expande seu parque logístico”

Acreditamos que uma liderança transformadora só será possível com a presença equitativa das mulheres em todos os espaços de decisão.

PM: Qual é a visão que gostaria de deixar aos leitores do PROFILE, especialmente jovens profissionais e líderes emergentes em Moçambique, a partir da experiência acumulada?

LB: A mensagem é simples e profunda, liderar não é sobre cargos  é sobre impacto.

Cada jovem moçambicana e moçambicano carrega em si o poder de ser agente de transformação, começando por liderar a si mesmo, à sua família e à sua comunidade. O futuro de África será construído por líderes conscientes, humanos e capazes de gerar resultados sustentáveis e inclusivos.

Temos uma vantagem única, somos o continente mais jovem do mundo, com uma mediana etária de apenas 19 anos. Esta é a nossa força competitiva e o momento é agora.

Invistam em competências digitais, em ética, em empatia e em colaboração. Construam pontes entre sectores, comunidades e países. Porque o futuro de África depende da coragem, da visão e da acção da sua juventude e da geração vindoura.

Saiba mais, aqui: Human Leaders International Congress

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