PROFILE Mozambique: A Vivo Energy Moçambique assinou recentemente um memorando de entendimento com a Vodafone M-Pesa. Que significado tem esta parceria para a empresa e para os consumidores moçambicanos?
Hugo Narcy: A Vivo Energy representa a marca Engen e os lubrificantes Shell, estando presente a nível nacional com cerca de 60 postos de abastecimento. Estes postos, formais e informais, são verdadeiros polos de atracção, por onde circula diariamente uma diversidade de clientes que já utilizam plataformas tecnológicas, como o M-Pesa.
Por isso, esta parceria faz todo o sentido. Queremos oferecer soluções mais convenientes, tanto para quem abastece combustível, como para quem utiliza os nossos espaços de conveniência. A integração das soluções de pagamento do M-Pesa nos postos Engen permitirá encurtar a distância entre o cliente e o produto final, através de uma experiência mais rápida, segura e simples.

Esta, no entanto, é apenas a primeira iniciativa. Combinando o poder tecnológico e a capacidade de análise estatística e financeira do M-Pesa com a nossa presença física no mercado, abrangendo passageiros, transportes e consumidores em geral, acreditamos que será possível desenvolver sinergias em diferentes áreas. O nosso propósito é criar soluções inovadoras, acessíveis e com impacto real na economia nacional, fortalecendo a inclusão financeira e oferecendo alternativas alinhadas ao estilo de vida dos moçambicanos.
PM: E para quando está previsto o arranque desta actividade em terreno?
HN: O roll-out desta iniciativa está previsto para as próximas três a quatro semanas, podendo até acontecer antes. Na verdade, a fase piloto já se encontra em andamento e o go-live será muito em breve. Dentro de pouco tempo, todos os nossos clientes poderão aceder ao M-Pesa e encontrar já disponível o produto desenvolvido em parceria com a Vivo Energy.
Numa fase inicial, iremos igualmente disponibilizar um cartão M-Pesa Vivo, que complementará a experiência digital. A partir daí, seguiremos com a expansão gradual da solução, de forma estruturada e adaptada às necessidades do mercado. Evidentemente, ainda não podemos revelar todos os detalhes, mas garantimos que este é apenas o início de um processo com grande potencial para transformar a relação dos consumidores com os nossos serviços.
PM: Gostaríamos de perceber como está o posicionamento da Vivo Energy no mercado neste momento e, em particular, no contexto do sector em que operam.
HN: Tal como aconteceu em praticamente todos os sectores, também fomos afectados pelos choques registados no terceiro e quarto trimestres do ano passado. Ainda sentimos alguns efeitos dessa conjuntura, mas conseguimos colocar-nos novamente de pé e traçar uma estratégia assente no essencial, focar-nos no básico e garantir que estamos a fazer as coisas certas neste momento.

Neste cenário, não podemos falar ainda em crescimento, sobretudo porque persistem restrições ao nível da importação de combustíveis. Trata-se de desafios estruturais que estamos a procurar ultrapassar em coordenação com o regulador, o Banco Central, o Governo e os restantes operadores privados do sector.
PM: E como é que a escassez de divisas impacta a vossa operação, em termos da gestão das actividades e do desenvolvimento do negócio?
HN: Mais do que a escassez de divisas em si, o que temos enfrentado são grandes dificuldades ao nível da importação, resultantes de um conjunto de factores. Naturalmente, a questão cambial é relevante, mas não é o único ponto de foco.
O que temos procurado fazer é desenhar uma estratégia que assegure as condições mínimas necessárias para a continuidade da nossa operação. Tal como as restantes gasolineiras, estamos a trabalhar em estreita articulação com o Banco Central, os bancos comerciais, o regulador e os demais parceiros do sector, de forma a encontrar soluções que nos permitam ultrapassar este cenário.
Vale destacar que, nos últimos dois a três meses, já se notou uma melhoria, o que nos dá confiança de que, paulatinamente, conseguiremos alcançar um equilíbrio mais favorável para o negócio e para o sector no seu conjunto.
PM: Quais são, neste momento, os principais desafios que persistem e que continuam a pesar sobre o sector das gasolineiras no país?
HN: Mais do que um desafio exclusivo das gasolineiras, estamos perante uma realidade que afecta toda a indústria. É inegável o impacto que os últimos acontecimentos, como manifestações, o período eleitoral e o contexto difícil que atravessamos, tiveram directamente no bolso do cidadão moçambicano.
Naturalmente, isso reflectiu-se nos volumes de consumo, no desempenho do nosso negócio e na capacidade de resposta do sector. O esforço que temos vindo a fazer é precisamente o de quebrar este ciclo adverso e caminhar para um ciclo mais favorável.
É um processo que levará tempo, mas acreditamos que, aos poucos, a economia moçambicana está a dar sinais de recomposição, o que abre espaço para que o sector recupere a sua estabilidade e volte a criar valor para todos os intervenientes.