Thursday, November 13, 2025
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Clávio Macuácua: “Transformamos o Corredor Logístico de Maputo num eixo de integração regional”

Situado estrategicamente na região sul do país, o Corredor Logístico de Maputo, considerado o maior porto seco nacional, representa um marco na modernização da cadeia logística, conjugando tecnologia avançada, eficiência operacional e visão estratégica voltada para o futuro.

Com uma capacidade superior a 50 mil toneladas de armazenamento, o CLM posiciona-se como um actor decisivo na integração económica regional, assegurando a ligação entre os principais corredores de exportação e os países do hinterland.

Em entrevista exclusiva à PROFILE, o presidente do Conselho Directivo do CLM, Clávio Macuácua, fala sobre o papel da instituição no fortalecimento do comércio regional, os investimentos estruturais em curso, os desafios regulatórios e a ambição de transformar Moçambique num hub logístico de referência na África Austral.

A conversa decorre num momento em que o país reafirma o seu compromisso com a modernização do sistema de transportes e a dinamização das cadeias de valor regionais, áreas em que o CLM surge como um parceiro estratégico do Estado e do sector privado.

Profile Mozambique: Qual é o papel do Corredor Logístico de Maputo no contexto do comércio regional e como a sua localização estratégica contribui para o desenvolvimento económico do país?

Clávio Macuácua: A CLM, sigla de Corredor Logístico de Maputo, é uma empresa vocacionada para a gestão integrada de mercadorias e operações logísticas, abrangendo todo o processo de importação, exportação e trânsito de bens. Operamos com diferentes tipos de carga, assegurando a coordenação de serviços aduaneiros e alfandegários no local, e garantimos que as mercadorias cheguem aos seus destinos, sejam eles nacionais, regionais ou internacionais, com eficiência e segurança.

Enquanto operador logístico, o nosso papel é central na dinamização do comércio e na circulação de mercadorias na região austral de África. Acreditamos que a nossa actuação ganha ainda mais relevância quando consideramos a localização estratégica de Moçambique no contexto regional. O país dispõe de cerca de 3 mil quilómetros de costa, o que nos posiciona como um eixo natural de ligação entre o hinterland e o resto do mundo.

É precisamente neste contexto que o Corredor Logístico de Maputo assume importância vital, somos um elo entre os mercados internos e os portos de saída, facilitando o acesso das mercadorias provenientes de países vizinhos e do interior aos principais corredores de exportação.

Moçambique conta com três portos principais, Maputo, Beira e Nacala, que desempenham funções complementares no escoamento de mercadorias e no fortalecimento das cadeias de valor regionais. Contudo, é igualmente importante destacar a relevância de outros pontos de entrada fronteiriços, como Machipanda, Ressano Garcia, Goba e Ponta do Ouro, que contribuem para o fluxo comercial entre Moçambique e os países vizinhos.

PM: A CLM define-se como empresa de logística de “Quinta Parte da Logística (5PL)”. Que implicações práticas esse conceito tem nas operações em Maputo e no corredor que integra?

CM: Nós, no Corredor Logístico de Maputo, não nos definimos como uma empresa de logística propriamente dita, mas sim como um terminal integrado que desempenha um papel estratégico dentro da cadeia logística. No entanto, a nossa actuação posiciona-se ao mais alto nível dessa cadeia, razão pela qual fazemos referência ao conceito de logística de quinta geração, ou 5PL.

Este conceito representa o estágio mais avançado da evolução logística, que vai desde a 1PL até à 5PL. A 1PL corresponde ao produtor ou fornecedor inicial de bens, enquanto a 2PL abrange as empresas que se dedicam à manufactura e produção, aquelas que fabricam bens, mas que não necessariamente se envolvem na sua distribuição.

a 3PL, por sua vez, envolve empresas especializadas na gestão da distribuição e transporte, garantindo que os produtos cheguem aos mercados. E a 4PL é caracterizada por entidades que fazem a integração de processos e acrescentam valor, como acontece, por exemplo, com empresas que se dedicam à montagem ou acabamento de produtos.

A 5PL, onde nos enquadramos, é o nível que agrega todas essas funções, assumindo uma visão global da cadeia logística. Na prática, significa que participamos desde a negociação de fretes marítimos, rodoviários e ferroviários, até ao manuseamento, embalagem e entrega final das mercadorias.

PM: Num recente comunicado, a CLM anunciou um investimento estimado em 50 milhões de dólares para um novo terminal de mercadorias. Pode partilhar os principais objectivos deste investimento e como ele vai alterar o panorama logístico local?

CM: O investimento de 50 milhões de dólares representa um marco importante na consolidação do Corredor Logístico de Maputo como uma das principais infra-estruturas logísticas de Moçambique e da região. Este valor corresponde ao investimento global realizado no nosso terminal e em todo o complexo logístico, desenvolvido em parceria com o nosso parceiro estratégico, a Agility, uma empresa de referência internacional.

Este investimento permitiu-nos dotar o terminal de condições modernas e eficientes para o manuseamento, armazenamento e distribuição de mercadorias, reforçando a nossa capacidade operacional e a integração com outros meios de transporte, nomeadamente o ferroviário e o rodoviário. O objectivo central é criar um sistema logístico de excelência, capaz de responder às crescentes exigências do comércio regional e internacional, tornando o porto de Maputo um verdadeiro hub de conectividade.

Neste momento, o terminal atingiu praticamente a sua capacidade máxima de ocupação, o que confirma a confiança dos nossos clientes e parceiros nos serviços que prestamos. Por essa razão, estamos a preparar uma segunda fase de expansão, estimada em mais 20 a 25 milhões de dólares, que permitirá o aumento da área do terminal em cerca de 10 hectares e a construção de novos armazéns, com uma média de 20 mil metros quadrados adicionais.

PM: Como estão a ser geridas as relações com as fronteiras de Goba e Namaacha para reduzir tempos de trânsito e custos logísticos?

CM: A gestão das relações com as fronteiras de Goba e Namaacha continua a ser um dos grandes desafios do sistema logístico nacional. Historicamente, Moçambique sempre contou com terminais de interior que serviam de apoio às fronteiras e aos principais pontos de entrada do país. No entanto, ao longo dos anos, alguns regulamentos vieram limitar a criação e o funcionamento desses terminais, o que acabou por afectar a fluidez e a eficiência do processo logístico.

Nos últimos tempos, tem vindo a surgir uma nova abordagem, que defendemos e acreditamos ser a mais acertada, a de reactivar e expandir os terminais interiores, de forma a complementar o trabalho das fronteiras e reduzir os tempos de trânsito. Estes terminais funcionam como extensões operacionais das alfândegas, permitindo um melhor controlo, maior capacidade de manuseamento e, sobretudo, redução de custos logísticos.

Reconhecemos que ainda há entraves de natureza regulatória, pois a legislação vigente nem sempre acompanha a dinâmica do comércio transfronteiriço. Ademais, existe o desafio da harmonização das normas entre os países da região, uma vez que, por exemplo, os limites de carga por eixo variam de país para país. Enquanto em Moçambique o peso máximo permitido para certos camiões triéxel é de 28 toneladas, noutros mercados pode variar entre 25 e 30 toneladas, o que acaba por gerar penalizações e constrangimentos na circulação de mercadorias.

No caso do CLM, temos conseguido manter um nível de ocupação de cerca de 90%, o que demonstra o reconhecimento do papel estratégico que desempenhamos na cadeia logística nacional. Acreditamos que ainda há espaço para a criação de mais terminais interiores, capazes de apoiar as fronteiras e dinamizar o comércio entre Moçambique e os países do hinterland.

Em última instância, o grande beneficiário deste esforço será sempre o consumidor final, que poderá contar com produtos a custos mais acessíveis e com cadeias de abastecimento mais eficientes e seguras.

PM: Como pretende a CLM contribuir para a integração regional, nomeadamente no âmbito da SADC, e para a atracção de investimento estrangeiro no sector logístico moçambicano?

CM: A nossa interacção com o Governo é absolutamente imprescindível. Pela primeira vez, Moçambique conta com um Ministério dos Transportes e Logística, uma estrutura que vem dar um novo enquadramento à gestão integrada do sistema logístico nacional.

Enquanto CLM, reconhecemos o nosso papel preponderante neste ecossistema, não apenas como operadores, mas como parceiros estratégicos do Estado. Temos experiência directa na logística global e um conhecimento profundo das dinâmicas que influenciam o comércio regional e internacional. Por isso, acreditamos que podemos contribuir de forma activa para a definição e implementação de políticas públicas mais eficazes no sector.

Presidente do Conselho Directivo do Corredor Logístico de Maputo, Clávio Macuácua

Mantemos uma colaboração próxima com o Ministério dos Transportes e Logística, bem como com as Alfândegas e a Autoridade Tributária de Moçambique (AT), especialmente no que diz respeito ao alargamento da base tributária. Sabemos que a colecta de receitas é um dos grandes desafios actuais do país, e é precisamente nesse ponto que o CLM procura acrescentar valor, criando mecanismos que tornem o comércio mais eficiente, transparente e contributivo para a economia nacional.

PM: Em que horizonte temporal vê a CLM a assumir uma posição de liderança como hub logístico na África Austral?

CM: Acreditamos que, ao nível nacional, o Corredor Logístico de Maputo já ocupa uma posição de liderança no sector logístico. Hoje somos uma referência incontornável na movimentação e gestão de mercadorias em Moçambique. No contexto da África Austral, reconhecemos que ainda há um percurso a percorrer, mas também estamos convictos de que dispomos das condições necessárias para competir de igual para igual com qualquer infra-estrutura regional.

O grande desafio que identificamos prende-se, sobretudo, com as questões de regulamentação, que variam de país para país e, por vezes, limitam a fluidez do comércio regional. No entanto, em termos de infraestrutura física, tecnológica e operacional, o nosso terminal está ao nível e em muitos casos acima de várias instalações da África do Sul. Se retirássemos o contexto geográfico, muitos poderiam até presumir que esta infraestrutura se encontra naquele país, dado o seu padrão internacional de qualidade.

Contamos hoje com clientes de grande dimensão, incluindo as principais empresas petrolíferas, mineiras e de gás que operam em Moçambique, algumas das quais recentemente avançaram com o FID (Final Investment Decision). Essa confiança é reflexo do nosso rigor técnico, da qualificação das nossas equipas e da robustez das nossas operações.

O tipo de infraestrutura e modelo de gestão que implementamos na CLM é comparável ao que se encontra em centros logísticos de referência mundial, como o Dubai ou o Gana, o que demonstra que estamos prontos para integrar a nova geração de hubs logísticos internacionais.

Saiba mais aqui: Corredor Logístico de Maputo

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