Tuesday, December 2, 2025
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Dipak Lalgi: “Apostamos em talento, digitalização e boas práticas para impulsionar o crescimento sustentável no país”

A Forvis Mazars Moçambique completa uma década de presença no país num momento em que o ambiente económico se mostra simultaneamente desafiante e cheio de oportunidades. Com operações consolidadas nas áreas de auditoria, outsourcing, contabilidade, sustentabilidade, impostos e consultoria legal aplicada ao registo e organização de empresas, a firma pretende reforçar o seu posicionamento num mercado marcado por reformas fiscais, maior exigência regulatória e crescente dinâmica nos sectores de energia, infra-estruturas, serviços financeiros, agricultura e mineração.

Em entrevista à PROFILE, o Country Manager da Forvis Mazars, Dipak Lalgi, traça um retrato claro das tendências que moldam o investimento no país, destacando a necessidade de maior aproximação às entidades públicas para fortalecer a confiança no sector empresarial e abrir espaço à prestação de serviços especializados.


Profile Mozambique: Como descreve a presença da Forvis Mazars em Moçambique e o vosso posicionamento no actual contexto económico nacional?

Dipak Lalgi: Nós estamos em Moçambique há cerca de dez anos e, ao longo deste período, fomos consolidando a nossa visão institucional. As nossas principais linhas de negócio passam pela auditoria, outsourcing que inclui serviços de contabilidade e recursos humanos, sustentabilidade, impostos e uma componente legal mais focada em apoiar investidores e empreendedores nacionais na constituição e organização prática das suas empresas e outras actividades complementares relacionadas.

Quando olhamos para o contexto económico nacional, vemos oportunidades claras nos sectores-chave que impulsionam a economia moçambicana, energia, petróleo e gás, infra-estruturas, serviços financeiros como banca, seguros e corretagem, mineração, pescas, agricultura e, naturalmente, o sector público, que hoje ganha uma importância estratégica.

Um dos nossos desafios é reforçar a aproximação às entidades públicas, para que haja maior confiança na nossa marca e sejamos chamados a contribuir com o nosso conhecimento técnico. O nosso compromisso é sempre oferecer soluções ajustadas a cada sector, ajudando a melhorar a eficiência na alocação de capital e a impulsionar um crescimento sustentável.

PM: Que desafios regulatórios específicos enfrentam no mercado moçambicano e como a Forvis Mazars em Moçambique tem respondido para garantir transparência, compliance e confiança dos stakeholders?

DL: Neste momento, o mercado moçambicano vive uma fase de transformação regulatória, marcada por maiores exigências de transparência e de cumprimento rigoroso das normas. Para nós, o desafio começa por garantir que as empresas compreendem estas mudanças e se adaptam com segurança.

A nossa resposta assenta, antes de tudo, na aplicação de práticas técnicas robustas nas áreas de auditoria, contabilidade, consultoria e impostos. Trabalhamos para que tudo o que está regulado seja correctamente interpretado e transmitido aos nossos clientes, ajudando-os a manter a conformidade e a evitar riscos desnecessários.

Paralelamente, colaboramos de perto com as entidades locais, alinhando as melhores práticas internacionais com as particularidades do contexto moçambicano. Participamos activamente em diálogos regulatórios e promovemos metodologias consistentes, capazes de reforçar a confiança dos nossos clientes e de todos os stakeholders que dependem de decisões transparentes e bem fundamentadas.

PM: Há sinais recentes de mudança no ambiente de negócios em Moçambique, por exemplo em matéria de fiscalidade, investimentos ou incentivos. Como a Forvis Mazars em Moçambique avalia o actual panorama para investidores estrangeiros e nacionais?

DL: Hoje, convivemos com um ambiente regulatório em constante mutação. As reformas fiscais já em curso, a maior pressão por transparência e o crescimento do apetite por grandes projectos de infra-estruturas e energia criam um cenário dinâmico, mas também exigente. Para investidores nacionais e estrangeiros, as oportunidades são substanciais sobretudo nos sectores de gás, energias renováveis e infra-estruturas, mas vêm acompanhadas de uma necessidade reforçada de due diligence, conformidade e boa governação.

Da nossa parte, defendemos uma abordagem que combine a análise rigorosa do risco local, o cumprimento das obrigações fiscais e o alinhamento com as práticas de ESG como condição essencial para entrar e crescer de forma sustentável no mercado moçambicano.

Reconhecemos, contudo, que ainda há um vazio regulatório importante, falta ao país um quadro legal claro que torne obrigatória a apresentação de relatórios de sustentabilidade e ESG pelas grandes empresas que operam em Moçambique. Acreditamos que a actualização dessa legislação é fundamental para elevar os padrões de governação, reforçar a transparência e, ao mesmo tempo, criar novas oportunidades profissionais e empresariais neste domínio.

PM: Que impactos práticos têm as novas políticas fiscais ou reformas regulatórias para as empresas que a Forvis Mazars em Moçambique assessora? Poderia partilhar exemplos?

DL: As recentes mudanças fiscais e ajustamentos regulatórios têm impacto directo no funcionamento diário das empresas que assessoramos. Quando falamos de reformas, falamos também de planeamento tributário uma área que hoje se tornou indispensável para garantir previsibilidade e sustentabilidade financeira.

No nosso trabalho, acompanhamos as empresas no dia a dia, ajudando-as a interpretar as novas políticas fiscais, a ajustar processos internos e a optimizar o fluxo de caixa. O nosso papel é garantir que cada cliente cumpre as obrigações emergentes sem perder eficiência operacional. É esse acompanhamento próximo que permite às organizações adaptarem-se com segurança às novas regras e manterem a sua competitividade num ambiente em rápida transformação.

PM: Quais são os principais objectivos estratégicos da Forvis Mazars em Moçambique  para os próximos cinco anos? Há sectores específicos ou nichos de mercado onde pretendem expandir?

DL: Nos próximos cinco anos, traçamos um rumo claro para reforçar a nossa posição no mercado e responder às exigências de uma economia em transformação. O nosso primeiro objectivo é consolidar e expandir a oferta multidisciplinar das nossas linhas de serviço auditoria, tax, outsourcing (contabilidade & recursos humanos), sustentabilidade e consultoria garantindo soluções integradas e alinhadas com os padrões internacionais.

Queremos também aumentar a nossa presença nos sectores de energia, infra-estruturas e serviços financeiros, que continuam a liderar a dinâmica económica nacional. Paralelamente, estamos a acelerar a transformação digital dos nossos serviços, tirando proveito das plataformas tecnológicas da rede Forvis Mazars para elevar a eficiência e a qualidade do trabalho que realizamos

Outro eixo estratégico central é o investimento no talento local. A Forvis Mazars é uma equipa maioritariamente jovem e acreditamos que o nosso crescimento depende directamente do desenvolvimento das nossas pessoas. Por isso, reforçamos programas de formação contínua, certificações obrigatórias, parcerias académicas e iniciativas de estágio, sempre com enfoque na diversidade e na liderança inclusiva.

Com estas prioridades, queremos posicionar a Forvis Mazars como um parceiro de confiança para empresas, organizações não governamentais, entidades públicas e instituições do sector financeiro incluindo banca e seguros que ambicionam crescer com transparência, robustez técnica e sustentabilidade.

PM: Como avaliam o actual contexto de acesso a divisas no país e que impacto este cenário tem sobre as operações da Forvis Mazars em Moçambique e das empresas que acompanham?

DL: Vemos, antes de tudo, o actual constrangimento no acesso a divisas como um desafio, mas também como um alerta para reforçarmos a nossa capacidade produtiva interna. Se queremos, de facto, desenvolver a economia nacional, precisamos reduzir a dependência do exterior, investir mais na agricultura, estimular o consumo de produtos locais e criar espaço para que os nossos engenheiros desenvolvam soluções tecnológicas produzidas em Moçambique, evitando recorrer constantemente a alternativas além-fronteiras. Naturalmente, reconhecemos que alguns serviços e bens continuarão a exigir importação, mas o equilíbrio é fundamental sobretudo quando se trata de know-how, expertise ou serviços altamente especializados que ainda não estão amplamente disponíveis no país.

Acreditamos que o Governo, em coordenação com a CTA e outras entidades empresariais, deve intensificar os esforços para melhorar a disponibilidade de divisas e tornar o processo mais fluido. Esta aproximação é essencial para aliviar encargos e dar previsibilidade às empresas. No nosso caso, sendo ainda uma empresa de menor porte, não sentimos o impacto de forma significativa. Contudo, lidamos com algumas facturas em moeda estrangeira cujo pagamento tem sido mais lento, seja pela escassez de divisas, seja por limitações momentâneas de tesouraria. É uma situação que estamos a gerir com prudência e que acreditamos que o país, gradualmente, também conseguirá ultrapassar.

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