Moçambique deu, esta semana, um passo decisivo na transformação do seu sector energético com a inauguração, em Inhassoro, da Infra-estrutura Integrada de Processamento de Hidrocarbonetos, um investimento que marca a transição para a produção doméstica de gás natural, GPL e condensado, reduzindo a dependência de importações e reforçando a competitividade económica do país.
O acto contou com a presença do Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, simbolizando o fortalecimento da cooperação económica e energética entre os dois países, num momento em que a região procura alternativas sustentáveis e integradas para responder às suas necessidades industriais.
Marco industrial que reposiciona o sector de gás
A nova infra-estrutura constitui a mais relevante adição industrial ao sector energético nacional desde o arranque do Coral Sul FLNG. O complexo combina, no mesmo espaço, produção, refinação, processamento e distribuição de gás natural, gás doméstico (GPL) e condensado, permitindo a Moçambique capturar maior valor dos seus recursos naturais.
No seu discurso, o Presidente da República, Daniel Chapo, afirmou que a instalação “representa um salto qualitativo na diversificação da economia, no estímulo à inovação tecnológica e no aproveitamento sustentável dos recursos nacionais”, sublinhando que o projecto reforça a autonomia e estabilidade energética do país.
Com esta capacidade integrada, Moçambique reduz significativamente os encargos anuais com importações de derivados, estabiliza o mercado interno e reforça a sua posição como produtor emergente de gás na África Austral.
Impacto económico e nova competitividade regional
A produção de GPL e condensado a partir de capacidade doméstica coloca Moçambique entre os poucos países africanos com um modelo industrial completo de transformação de gás natural. A redução das importações de combustíveis, estimadas em centenas de milhões de dólares anuais, traduz-se numa melhoria do balanço comercial e no aumento da resiliência económica.
Segundo Daniel Chapo, trata-se de um “empreendimento que posiciona Moçambique num novo patamar de competitividade regional”, capaz de atrair investimentos adicionais, gerar empregos e estimular cadeias de valor locais, particularmente nos sectores de transporte, logística, serviços industriais, metalomecânica e petroquímica.
Presença de Ramaphosa reforça cooperação estratégica
A participação do Presidente Cyril Ramaphosa conferiu ao evento uma dimensão política e económica adicional. A África do Sul enfrenta constrangimentos energéticos que afectam a sua indústria, tornando natural o reforço da interconexão com Moçambique, país que é, segundo Ramaphosa, “o maior parceiro comercial africano e o quarto maior parceiro comercial mundial da África do Sul”.

O líder sul-africano reafirmou o compromisso de aprofundar a cooperação em áreas como gás natural, energia, agro-indústria e mineração, destacando que o projecto de Inhassoro fortalece a estabilidade energética sul-africana e a sustentabilidade das cadeias industriais da região.
Inhassoro e Inhambane ganham nova centralidade económica
A infra-estrutura projecta o distrito de Inhassoro como um novo polo energético e industrial, com capacidade para atrair operadores logísticos, fornecedores industriais e investimentos complementares. A longo prazo, a região poderá acolher novas indústrias transformadoras, incluindo petroquímica, fertilizantes e metalurgia de suporte.
Este reposicionamento confere à província de Inhambane um papel central na matriz energética nacional e na integração económica regional.
Estabilidade e segurança como pilares da cooperação
Daniel Chapo destacou que o reforço da capacidade produtiva energética deve caminhar a par de esforços na estabilização da região, afirmando que apenas com cooperação e respeito mútuo será possível enfrentar desafios como o terrorismo, o crime organizado e outras ameaças transnacionais que afectam a África Austral.
Fórum Empresarial reforça dinamismo do sector privado
A inauguração da infra-estrutura coincidiu com o Fórum Empresarial Moçambique–África do Sul, realizado em Vilankulo, que reuniu operadores económicos dos dois países. Chapo apelou a um ambiente de negócios “mais dinâmico, seguro e previsível”, capaz de acelerar investimentos produtivos e garantir que o sector privado seja motor da transformação económica.

Estimativas indicam que o volume de negócios entre os dois países ronda actualmente os 2 mil milhões de dólares anuais, com tendência de crescimento impulsionada pela nova infra-estrutura e pelo reforço das relações diplomáticas.
Com a entrada em operação do complexo de Inhassoro, Moçambique afirma-se como um dos protagonistas da transformação energética da África Austral, consolidando uma economia mais industrial, mais integrada e mais competitiva.



