Profile Mozambique: O Projecto DIGI tem sido apontado como uma das apostas mais relevantes da Machel Fidus no campo da transformação digital. Pode explicar-nos em que consiste, quais os seus principais eixos e de que forma se propõe a criar impacto real no quotidiano das comunidades moçambicanas?
Charles Chadali: O Projecto DIGI nasceu da necessidade de digitalização acelerada que observamos durante a pandemia da Covid-19, quando se intensificou a utilização da tecnologia como solução para comunicação, educação e conexão social. Em setembro de 2023, na Machel Fidus, formalizamos esta iniciativa com o objectivo de capacitar estudantes com habilidades digitais essenciais para o futuro e, ao mesmo tempo, desenvolver soluções práticas para as suas comunidades.
Apostamos na formação e no desenvolvimento de competências que permitam aos estudantes identificar os desafios enfrentados tanto no contexto académico como nas suas comunidades. Com estas ferramentas, incentivamos a criação de soluções tecnológicas funcionais, práticas e úteis, capazes de gerar impacto directo na qualidade de vida das pessoas.
Mais do que uma iniciativa académica, o DIGI procura contribuir de forma ampla para o desenvolvimento nacional, fortalecendo a capacidade das comunidades de responder a desafios locais e promovendo o acesso a direitos fundamentais através da inovação digital.
PM: O MoU assinado entre a ENPCT e a Machel Fidus constituiu um momento de referência na 7.ª edição das Conferências Índico. Quais os compromissos centrais deste acordo e que mudanças práticas ele poderá trazer para a agenda nacional de inclusão digital?
CC: O MoU assinado entre a ENPCT e a Machel Fidus representa um marco importante na 7.ª edição das Conferências Índico. Este acordo estabelece compromissos claros de colaboração entre as duas instituições, com foco na promoção da inclusão digital e na capacitação de jovens e comunidades em Moçambique.

Como exemplo concreto, destacamos um caso de sucesso do nosso projeto de digitalização: um grupo de estudantes, orientados pelo seu professor de ITICS, desenvolveu uma biblioteca digital destinada a disponibilizar material didático em formato digital, com alcance potencial a nível nacional. Esta iniciativa demonstra a capacidade dos estudantes de criar soluções práticas e relevantes para as suas comunidades.
Com o MoU, reforçamos o compromisso de apoiar estas iniciativas, mobilizando recursos, know-how e sinergias entre o Parque de Ciência e Tecnologia e a Machel Fidus. O objectivo é transformar projectos promissores em soluções concretas, acessíveis e sustentáveis, assegurando que os resultados do projeto de digitalização se traduzam em impactos tangíveis no quotidiano das comunidades e na agenda nacional de inclusão digital.
PM: Um dos princípios defendidos pela Machel Fidus é que “moldar mentes é a chave para um futuro promissor”. De que forma essa visão se materializa nos programas implementados, sobretudo na capacitação de jovens e na promoção de competências digitais?
CC: Abraçamos a missão da Machel Fidus porque acreditamos firmemente que moldar mentes é a chave para um futuro promissor. Para nós, a educação é o alicerce da transformação social, e a tecnologia funciona como um veículo para materializar essa visão.
Nos nossos programas, utilizamos todos os recursos disponíveis, tecnológicos, digitais e pedagógicos, para capacitar jovens moçambicanos. O objectivo é prepará-los para agir como agentes de mudança, promovendo soluções concretas nas suas comunidades e tornando-se vetores de transformação da sociedade.
O projecto de digitalização, por exemplo, integra a capacitação em competências digitais com a disponibilização de equipamentos informáticos às escolas, garantindo que os estudantes não só aprendam, mas também tenham ferramentas práticas para aplicar o conhecimento. A nossa prioridade é tornar os jovens autossuficientes, capazes de enfrentar desafios e contribuir para um desenvolvimento sustentável e inclusivo, moldando uma mentalidade orientada para soluções e inovação.
PM: O acesso desigual às tecnologias continua a ser um dos principais entraves ao desenvolvimento inclusivo. Que medidas concretas o Projecto DIGI pretende implementar para reduzir a exclusão digital e garantir que a transformação tecnológica seja, de facto, abrangente?
CC: No Projecto DIGI, encaramos a inclusão digital como um dos pilares centrais da nossa acção. A nossa prioridade é levar tecnologia e educação digital para aqueles que tradicionalmente têm menos acesso, garantindo que a transformação tecnológica seja abrangente e inclusiva.
Para tal, estabelecemos critérios de selecção dos beneficiários que privilegiam estudantes e comunidades mais afastadas, menos abrangidas pelas oportunidades digitais. Actuamos diretamente nessas comunidades, fornecendo equipamentos informáticos, capacitação em competências digitais e acesso à internet. Ademais, implementamos praças digitais, em parceria com outras instituições, para criar espaços de aprendizagem e conectividade onde a tecnologia ainda não chegou.
PM: Finalmente, olhando para o futuro próximo, quais são as metas estratégicas da Machel Fidus na área da inclusão digital e como prevê que a instituição se posicione na promoção de um ecossistema digital sustentável em Moçambique?
CC: Na Machel Fidus, encaramos a inclusão digital como uma prioridade estratégica, que requer uma base estrutural sólida, incluindo o fornecimento de equipamentos informáticos e o acesso à internet. A nossa visão de médio e longo prazo passa por consolidar parcerias com instituições e actores comprometidos com a promoção da transformação digital, de forma a maximizar o impacto das nossas iniciativas.
Prevemos que a instituição se posicione como um catalisador do ecossistema digital em Moçambique, criando oportunidades para colaboração, inovação e desenvolvimento sustentável.
Ao integrar esforços com os nossos parceiros, buscamos unir competências, recursos e ideias para construir sinergias que fortaleçam a inclusão digital e promovam soluções tecnológicas que beneficiem tanto comunidades escolares quanto a sociedade em geral.

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