O papel dos dados na transformação digital esteve em destaque no debate subordinado ao tema “Os Dados como Commodities”, enquadrado na 7.ª edição das Conferências Índico, uma realização da Executive Moçambique. O encontro reuniu académicos, gestores e representantes institucionais para reflectir sobre infra-estruturas tecnológicas, segurança digital, regulação e inclusão no uso de informação como activo estratégico para o desenvolvimento nacional.
O director da BCX Moçambique, Emílio Jorge, destacou a necessidade de robustecer as infra-estruturas digitais como condição essencial para o avanço do país no domínio da computação em nuvem. Sublinhou que a transição para redes de maior capacidade, incluindo o 5G, e a consolidação de centros de dados locais são fundamentais para garantir segurança, soberania digital e eficiência na gestão de informação. “A base infra-estrutural deve estar firmada para que a transformação digital ocorra em ambiente seguro e competitivo”, defendeu.

Seguiu-se a intervenção de João Bambo, gestor de produto no Standard Bank Insurance, que centrou a sua apresentação na segurança digital e capacitação institucional. O responsável frisou a importância de assegurar protecção dos dados dos clientes e expansão de serviços digitais de seguros, acessíveis por plataformas online. “Não se pode falar de inovação sem garantir confiança e segurança nas transações digitais”, disse, acrescentando que a literacia digital deve caminhar lado a lado com a modernização tecnológica.
Por sua vez, o administrador do Instituto Nacional das Tecnologias de Informação e Comunicação (INTIC), Constantino Sotomane, realçou o papel da regulação e protecção de dados no processo de digitalização. Referiu que o país está em fase de finalização de instrumentos legais, incluindo a lei de proteção de dados pessoais e regulamentos complementares que irão reforçar a soberania digital e salvaguardar a privacidade dos cidadãos. “Não basta dispor de tecnologia, é necessário um quadro regulatório que assegure a confiança do utilizador e a cooperação com outras jurisdições”, sublinhou.
Na componente da inclusão digital, Charles Chadali, gestor de projectos da Machel Fidus, destacou o impacto do programa DIGI, que aposta na literacia digital e na formação de jovens em comunidades afastadas. O objectivo, disse, é reduzir desigualdades no acesso à tecnologia e criar condições para que os cidadãos participem de forma activa na economia digital. “A inclusão é a base de uma transformação digital sustentável, capaz de gerar oportunidades reais”, afirmou.

O debate encerrou com a intervenção de José Nhampossa, administrador executivo do Pelouro de Ciência, Tecnologia e Inovação da ENPCT, que destacou o apoio à inovação e às startups como elemento decisivo para dinamizar o ecossistema tecnológico. Defendeu maior articulação entre o sector público, universidades e empreendedores para acelerar a criação de soluções digitais nacionais com impacto económico.
No final, os participantes convergiram na ideia de que, à semelhança de recursos naturais, os dados são hoje um activo de elevado valor económico, e a sua gestão eficaz pode definir a competitividade de Moçambique no cenário regional e global.

Dados assumem-se como novo motor de valor na economia moçambicana
Ainda no quadro da 7.ª edição das Conferências Índico, o segundo painel debruçou em torno dos “Dados como Motor de Valor: Inovação, Finanças e Inteligência Artificial”, onde os especialistas de diferentes áreas reflectiram sobre o papel da informação como activo estratégico para a economia.
A primeira intervenção esteve a cargo de Huruda Malungane, fundadora e CEO do Fórum CFO Moçambique, que destacou a centralidade dos dados na gestão financeira moderna. “Nós, CFOs versão 4.0, pensamos em dois paradigmas, gestão de dados e sustentabilidade. Uma administração mais eficiente da informação garante a optimização de custos e maior sustentabilidade nos negócios”, afirmou. Para Malungane, Moçambique ainda se encontra numa fase embrionária de maturidade digital, com poucos sectores, como a banca, os seguros e as telecomunicações, a utilizarem os dados como ferramenta estruturante de decisão. “Ainda não temos instituições a monetizar dados como serviço, mas este é um passo inevitável”, concluiu.

Seguiu-se Ricardo Taca, director operacional da MCNet, que centrou a sua intervenção no impacto da inteligência artificial e da transformação digital no futuro da indústria moçambicana. O gestor sublinhou que a tecnologia só faz sentido quando aproxima os serviços públicos e privados do cidadão. “Temos infra-estruturas, universidades e centros tecnológicos. O desafio já não é a disponibilidade da tecnologia, mas a sua aplicação prática, capaz de criar valor para os moçambicanos”, observou. Taca acrescentou que a indústria nacional deve posicionar-se de forma a transformar dados em inovação, à semelhança do que ocorre em outros mercados africanos.
Por sua vez, Raimundo Zandamela, CEO do Grupo Máximo, analisou o papel dos dados no sector segurador, com enfoque na inclusão financeira das pequenas e médias empresas. Destacou que a análise inteligente de informação pode aumentar a penetração dos seguros no tecido empresarial, tradicionalmente marcado por baixas taxas de adesão. “A utilização estratégica de dados permite desenhar produtos adequados às PMEs e responder melhor às suas necessidades, reforçando a resiliência financeira das empresas”, defendeu.
O debate terminou com uma nota comum entre os intervenientes, a necessidade de transformar dados em activo económico real, capaz de gerar valor comparável ao petróleo, mas com maior potencial de sustentabilidade.
