Segunda-feira, Setembro 16, 2024
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Cristiana Paco Langa: “Investimentos em capacitação e apoio às PMEs são essenciais para transformar o potencial em benefícios práticos”

Com vasta experiência na Gestão da Cadeia de Abastecimento de Conteúdo Local nos sectores de Petróleo e Gás, bem como na indústria das telecomunicações, Cristiana Paco Langa, Directora de Conteúdo Local e Procurement no Grupo Paco, conversou com o Profile para oferecer uma análise aprofundada sobre o actual panorama da Indústria Extractiva em Moçambique.

Durante a entrevista, Cristiana também abordou a introdução e evolução das políticas de conteúdo local no sector de petróleo e gás, propondo soluções para os desafios e oportunidades que o país atravessa.

Profile Mozambique: Como caracteriza o actual momento do sector da Indústria Extractiva em Moçambique?

Cristiana Paco Langa: O sector está em uma fase de crescimento e diversificação, com projectos de grande escala em gás natural, carvão, e minerais como grafite e titânio. As oportunidades geradas têm impactado positivamente a economia nacional, sobretudo em áreas como emprego e infra-estrutura, ao mesmo tempo, o sector enfrenta desafios significativos, incluindo a necessidade de equilibrar o desenvolvimento económico com a responsabilidade social e ambiental, a integração de práticas sustentáveis, com foco no impacto ambiental e nas comunidades locais, é fundamental para garantir o desenvolvimento a longo prazo.

O conteúdo local tornou-se uma peça central nas políticas de desenvolvimento da indústria extractiva em Moçambique. Empresas multinacionais são incentivadas a priorizar fornecedores e trabalhadores locais, promovendo a capacitação técnica e o desenvolvimento de pequenas e médias empresas (PMEs) locais.

Essa prática está contribuindo para a industrialização e a criação de uma economia mais diversificada e autossustentável. A digitalização e automação são tendências que estão ganhando força, ajudando a melhorar a eficiência operacional e a atrair mais investimentos internacionais.

PM: No meio deste cenário que acaba de descrever, que oportunidades o país pode ou deve explorar?

CPL: Em meio ao cenário actual da Indústria Extractiva em Moçambique, há várias oportunidades estratégicas que o país pode e deve explorar como o desenvolvimento de Capacidades Locais, pois o fortalecimento do capital humano através de treinamentos especializados e educação técnica pode transformar Moçambique em um centro de competências no sector.

O país pode explorar programas de capacitação alinhados às necessidades da indústria, permitindo que a força de trabalho local participe mais directamente de projectos de alta complexidade tecnológica, a expansão das Cadeias de Suprimentos Locais pois Moçambique deve fomentar o desenvolvimento de uma cadeia de fornecedores locais, apoiando pequenas e médias empresas (PMEs) a se tornarem fornecedoras qualificadas para o sector extractivo.

Isso pode ser feito através de parcerias público-privadas (PPP’s) e programas de incubação que facilitem o acesso a financiamento, inovação e capacitação técnica, uma das maiores oportunidade que o País deve explorar também é o Conteúdo Local como Factor de Competitividade, sendo que a implementação eficaz de políticas de conteúdo local pode atrair mais investimentos estrangeiros, especialmente de empresas que buscam não apenas explorar recursos, mas também contribuir para o desenvolvimento sustentável das economias locais.

O país pode se posicionar como líder regional ao adoptar políticas inovadoras que priorizem a inclusão social e o desenvolvimento económico local.

PM: Como é que o país está em termos de introdução de conteúdo local na indústria de petróleo e gás?

CPL: Em termos de introdução de conteúdo local na indústria de petróleo e gás, Moçambique tem feito avanços significativos, mas ainda enfrenta desafios para consolidar essa prática de forma ampla e sustentável, um dos maiores desafios é a Participação de Empresas Locais, existem esforços para aumentar a participação de empresas locais nas cadeias de valor da indústria.

No entanto, muitos fornecedores locais ainda enfrentam dificuldades para atender aos rigorosos requisitos técnicos e operacionais das grandes empresas internacionais de petróleo e gás. O desenvolvimento de programas de capacitação para aumentar a competitividade desses fornecedores é uma área que continua a precisar de atenção, a capacitação e treinamento, vários projectos de treinamento e capacitação têm sido implementados para garantir que a mão de obra local possa atender às demandas do sector de petróleo e gás.

Essas iniciativas são realizadas tanto pelo governo quanto por empresas multinacionais como parte dos acordos de responsabilidade social e conteúdo local. No entanto, ainda há uma lacuna significativa entre a oferta e a demanda de mão de obra qualificada, principalmente em áreas técnicas especializadas, de um modo geral o nosso país tem mostrado progresso na introdução do conteúdo local na indústria de petróleo e gás, mas o caminho para uma plena integração ainda requer investimento contínuo em infraestrutura, capacitação e políticas de suporte mais eficazes.

O sucesso desse esforço depende da cooperação entre o governo, empresas multinacionais e o sector privado local para construir uma cadeia de valor sustentável e competitiva.

PM: A proposta de lei de Conteúdo Local foi submetida em 2019 ao Conselho de Ministros. Estamos em 2024. Parece-lhe necessário rever o seu conteúdo?

CPL: Na minha opinião, a revisão da proposta de Lei de Conteúdo Local submetida em 2019 ao Conselho de Ministros é essencial, dado o contexto actual e as transformações económicas e sociais que Moçambique tem enfrentado, especialmente no sector de petróleo e gás.

Portanto, vários são os factores, que justificam essa necessidade como as mudanças no Contexto Económico e Industrial, a indústria de petróleo e gás, assim como outros sectores relevantes, evoluíram desde 2019 novos projectos foram iniciados, a pandemia de COVID-19 teve impactos significativos na economia global e em Moçambique.

Ademais, revisar a regulamentação permitiria ajustar as políticas para apoiar a recuperação económica e garantir que as empresas locais possam se beneficiar de forma justa nas novas condições económicas.

PM: O que falta para se transformar este potencial teórico em benefícios práticos para as comunidades residentes nas zonas de produção?

CPL: Transformar o potencial teórico da Lei de Conteúdo Local em benefícios práticos para as comunidades nas zonas de produção depende de uma abordagem mais estratégica e integrada, como a capacitação Eficiente e Sustentável pois um dos maiores desafios é garantir que as comunidades locais tenham acesso a capacitação técnica que as prepare para trabalhar nas indústrias de petróleo, gás e mineração.

Actualmente, muitas das comunidades residentes nas zonas de produção carecem de qualificação e acesso a treinamentos especializados.

É necessário que o governo, em parceria com as empresas, desenvolva programas de capacitação focados nas necessidades específicas dessas indústrias, garantindo que as populações locais sejam mais do que apenas observadoras passivas do desenvolvimento econômico, o poio ao desenvolvimento de PMEs Locais, permitiriam com que as comunidades locais vejam os benefícios econômicos diretos, é crucial que pequenos negócios e empreendedores locais sejam integrados às cadeias de valor das grandes empresas de petróleo e gás.

PM: Que investimentos acha que devem ser feitos para que se incremente as actividades de petróleo e gás?

CPL: Para incrementar as actividades de petróleo e gás em Moçambique, é crucial realizar investimentos estratégicos em várias áreas. Minha opinião como especialista em conteúdo local e procurement se baseia em alguns pontos como a Capacitação Técnica, pois um investimento significativo deve ser feito no desenvolvimento de uma força de trabalho qualificada, os programas de treinamento técnico, parcerias com universidades e escolas técnicas são fundamentais para que a mão de obra local possa ocupar posições técnicas e especializadas nas operações de petróleo e gás, o desenvolvimento de Cadeias de Suprimentos Locais, pois incentivar o desenvolvimento de fornecedores locais para que possam atender às necessidades do sector é crucial pois requer investimentos em programas de incubação e apoio financeiro para pequenas e médias empresas (PMEs).

Fora o facto de garantir que as políticas de conteúdo local sejam implementadas de forma eficaz, esses investimentos podem não só incrementar as atividades de petróleo e gás, mas também criar um ecossistema económico sustentável, impulsionando o desenvolvimento industrial e social do país.

Siga e acompanhe o percurso profissional da entrevistada no seguinte link: Cristiana Paco Langa

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