Há cerca de uma semana, o Governo moçambicano anunciou a redução dos preços dos combustíveis, em vigor desde quinta-feira (24.02). A medida foi recebida com expectativa por parte da população, na esperança de que pudesse aliviar a pressão financeira sentida nos últimos meses. No entanto, os efeitos práticos ainda não se fazem sentir de forma significativa no custo de vida.
Vários cidadãos têm manifestado descontentamento, pois os preços de bens e serviços permanecem elevados, apesar de o custo dos produtos petrolíferos ter sofrido uma ligeira descida. Nos mercados, a reclamação é de que produtos como arroz, farinha, açúcar e óleo alimentar continuam a ser vendidos a preços altos, inviabilizando o acesso por parte das famílias de baixa renda.
Também os transportadores alegam dificuldades para reduzir as tarifas. A Associação dos Transportadores de Moçambique (ATROMO) reconhece que a baixa do preço dos combustíveis é um passo positivo, mas ressalva que outros fatores, como a inflação, a depreciação cambial, os custos de manutenção e os impostos, continuam a pesar na formação dos preços do transporte.
A recente decisão do Governo de reduzir o IVA de 17% para 16% é vista por alguns economistas como mais uma tentativa de mitigar a crise e travar a alta generalizada dos preços. Todavia, alertam que esta medida, por si só, pode não ser suficiente para estancar a escalada inflacionária.
“É preciso um conjunto de ações coordenadas que envolvam a produção interna, a estabilização cambial e a fiscalização dos preços, para que os moçambicanos sintam, de fato, um alívio no bolso”, afirma um dos especialistas ouvidos pelo nosso jornal.
Enquanto isso, o cidadão comum continua a aguardar por resultados concretos no seu dia a dia. Muitos dizem que a situação é “lamentável quanto antes”, pois a capacidade de compra segue em queda, ao mesmo tempo que o desemprego e o custo dos serviços básicos não param de aumentar.
Em alguns mercados informais da capital, o preço do quilograma de arroz subiu cerca de X meticais em relação ao mês anterior. O óleo alimentar, que chegou a registar um pico de preço em janeiro, mantém-se em valores ainda elevados, segundo os vendedores.
“Estamos a vender caro porque também compramos caro. A redução do combustível ajuda, mas ainda não se refletiu nos nossos fornecedores”, explica um comerciante entrevistado.
Para os consumidores, o cenário é desanimador. “Cada dia que passa, o salário não acompanha a subida dos preços. Vamos ao mercado com um valor e voltamos com poucos produtos. Não há mudanças palpáveis após o anúncio do Governo”, lamenta uma cidadã que preferiu não se identificar.
“A redução do IVA para 16% pode ter impacto a médio prazo, mas não resolve de imediato a alta de preços. É fundamental que se adote uma política económica mais ampla, que inclua incentivos à produção nacional, para reduzir a dependência das importações e a pressão sobre o metical.”
A população, por sua vez, clama por uma intervenção mais incisiva do Governo na regulação e fiscalização de preços, pois teme que as reduções anunciadas acabem por não chegar ao consumidor final.
“Anunciar redução de combustíveis e IVA é uma coisa, mas garantir que o efeito chegue às bancas e aos transportes é outra. Se não houver fiscalização, continuaremos a ver preços altos, e o custo de vida vai continuar a castigar as famílias”, defende um representante de uma associação de consumidores.
Assim, passados sete dias desde que as novas medidas entraram em vigor, o consenso é de que ainda há um longo caminho pela frente para que o custo de vida se torne efectivamente mais acessível à maioria dos moçambicanos. (Estrela Charles – Economista CIP)