A actividade económica no sector privado moçambicano sofreu uma retracção significativa em Novembro de 2024, de acordo com o último relatório do Purchasing Managers’ Index (PMI) do Standard Bank. O índice desceu para 48,4, abaixo do limiar neutro de 50,0, marcando a primeira contração em sete meses e destacando os impactos das tensões pós-eleitorais, protestos violentos e greves.
Tensões políticas afetam a economia
A deterioração nas condições económicas foi amplamente atribuída à instabilidade política, que prejudicou a produção, as encomendas e as cadeias de abastecimento. Protestos após as eleições gerais e o encerramento temporário das fronteiras com a África do Sul contribuíram para um cenário de menor procura e restrições logísticas.
Fáusio Mussá, economista-chefe do Standard Bank Moçambique, descreveu a situação como “uma combinação de factores internos e externos que exacerbaram os desafios económicos do País”. Segundo Mussá, a previsão de crescimento do PIB para 2025 foi revista para 3,3%, enquanto a inflação poderá atingir 5,8%, pressionada por desequilíbrios fiscais e cambiais.
Produção e novas encomendas em queda
O relatório destaca que a produção caiu ao ritmo mais acelerado desde Janeiro de 2022. Todos os cinco sectores analisados registaram declínios, com destaque para a construção, que enfrentou as maiores dificuldades.
Novas encomendas, que vinham crescendo há nove meses consecutivos, também recuaram, afectadas pela redução na procura de clientes. A queda nas vendas foi consistente em todos os sectores, reflectindo um ambiente de negócios enfraquecido.
Emprego e custos laborais
De Acordo com o PMI de Novembro de 2024, as empresas reduziram ligeiramente os seus quadros de pessoal, marcando o declínio mais rápido no emprego desde Março de 2021. Os custos salariais também apresentaram a primeira redução em mais de três anos, uma medida associada à contenção de despesas.
Apesar dessas medidas, a confiança empresarial foi abalada. Reconhece o relatório do PMI, que acrescenta que, o índice de expectativas para os próximos 12 meses atingiu o nível mais baixo em quatro anos, embora um terço das empresas tenha relatado optimismo baseado em possíveis aumentos de vendas e maior publicidade.
Cadeias de abastecimento e custos
Nesta perspectiva, o PMI do Standard Bank, revela que os atrasos nas cadeias de abastecimento intensificaram-se, com prazos de entrega a registarem a maior deterioração mensal na história do índice. A redução das aquisições e inventários foi exacerbada pela falta de materiais e pelos desafios logísticos nas fronteiras com a África do Sul.
Paradoxalmente, o relatório registou uma redução nos custos de aquisição pela primeira vez em um ano. A menor procura por insumos e a estabilização do Metical contribuíram para aliviar as pressões inflacionárias.
Impactos e perspectivas
A tensão política e os protestos pós-eleitorais não apenas enfraqueceram a actividade económica, como também colocaram em risco a estabilidade futura. Fáusio Mussá advertiu que as condições de financiamento permanecerão restritivas devido aos elevados coeficientes de reservas obrigatórias e aos atrasos nos pagamentos do Estado e no reembolso do IVA.
Apesar do cenário adverso, há sinais de recuperação moderada. As empresas que mantêm optimismo apostam no reforço de vendas e campanhas publicitárias para retomar a trajectória de crescimento.
Caminho a seguir
Colocando em evidencia os dados e as perspectivas avançadas pelo relatório do PMI, do Standard Bank, de Novembro de 2024, infere-se que a recuperação económica exigirá esforços coordenados para estabilizar o ambiente político e reduzir as barreiras logísticas. Além disso, incentivos fiscais e financeiros podem ajudar a mitigar os impactos das recentes turbulências. A aposta em infraestruturas e na integração económica regional será crucial para impulsionar o comércio e fortalecer o sector privado.
Com a queda do PMI para níveis de contracção, a economia moçambicana enfrenta desafios significativos, mas também oportunidades de reestruturação e inovação para assegurar um crescimento sustentável nos próximos anos.