Quinta-feira, Maio 2, 2024
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FMI: implementação da Tabela Salarial Única em Moçambique excedeu custos previstos

A implementação da Tabela Salarial Única (TSU) em Moçambique custou cerca de 28,5 mil milhões de Meticais, “mais do que o esperado”, devido ao “mapeamento incorrecto dos funcionários públicos”, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), na sua terceira avaliação sobre o programa de assistência técnica e financeira a Moçambique.

Os cálculos apontam para um gasto na ordem de nove mil milhões de Meticais acima do projetado, já que o custo inicial esperado da reforma da massa salarial durante o período 2022-2023 era de 19,2 mil milhões de Meticais (1,4% do PIB). Assim, a implementação da TSU acabou por custar 28,5 mil milhões de Meticais (2,1% do PIB).

O organismo explica que as derrapagens nos custos da implementação se deveram às dificuldades provocadas pela “reforma complexa da massa salarial”. Tal complexidade acabou por dar lugar a um “mapeamento incorrecto dos funcionários públicos para a nova tabela salarial, subestimando o custo”, segundo o FMI.

“As medidas de poupança salarial foram insuficientes para fazer face aos custos. O custo adicional foi de cerca 2,5% do PIB em 2022. A derrapagem fiscal foi financiada, principalmente através de dispendiosos recursos internos”, alerta o FMI no mesmo documento.

Recorde-se que a Tabela Salarial Única foi fruto da recomendação do FMI com vista a “melhorar a previsibilidade” da massa salarial e dos gastos através da “unificação das escalas salariais e da racionalização dos subsídios” entre as várias classes e áreas da função pública. O instrumento foi aprovado em 2022, definindo uma harmonização de regras e critérios para a fixação de remuneração dos serviços públicos, dos titulares e membros de Órgãos Públicos e da Administração da Justiça.

Entretanto, a sua implementação gerou descontentamento para alguns segmentos de profissionais. A contestação vem principalmente dos médicos e professores, sem excluir o registo de atrasos salariais na defesa e o interior.

O facto é o Governo assumiu o desafio de controlar e reduzir as despesas com remunerações por via de reformas. Aliás, ao longo da última década, a massa salarial da Função Pública em Moçambique aumentou de 10% do PIB, em 2017, para 17% em 2022, crescimento “impulsionado principalmente pelos salários e não pelas contratações”.

O FMI buscou na sua terceira avaliação para o histórico das despesas com pessoal desde 2016, e concluiu que a remuneração dos trabalhadores cresceu três vezes mais rapidamente que o PIB per capita, enquanto o crescimento do emprego no sector público ficou aquém do crescimento populacional.

Entretanto, o FMI encoraja que o governo tem implementado medidas adicionais dada a necessidade de trazer a cifra do impacto para o nível inicialmente previsto, dos cerca de 19 mil milhões de meticais.

O organismo usa como exemplos a auditoria da folha salarial do efectivo dos funcionários e agentes do Estado, civis e militares, a revisão dos subsídios de chefia, representação e de localização, o processo de aposentação de cerca de 25.278 funcionários e agentes do Estado ou a racionalização de novas admissões.

Aliás, o governo anunciou, no ano passado, a redução significativa de contratações, na saúde e educação, sectores que mais demandam funcionários no aparelho do Estado. “Estas medidas visam reduzir essencialmente o impacto global da política para aproximadamente ao previsto no ato da sua implementação”.

Segundo o FMI, estas medidas estão fixadas em mais de 199.375 milhões de meticais no Orçamento para 2024, o equivalente a 13% do PIB, menos um ponto percentual face ao orçamentado no ano anterior.

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