Sexta-feira, Agosto 15, 2025
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Gaspar Buque: “A Field Ready surge para maximizar a empregabilidade juvenil”

Nesta entrevista concedida à PROFILE Mozambique, Gaspar Buque, Director-Geral da Field Ready em Moçambique, fala sobre os princípios que orientam a actuação da organização, os resultados alcançados, a parceria com empresas como a ExxonMobil, CFM e ROMPCO, e os planos de expansão para as diferentes províncias.

Numa conversa pautada pela visão estratégica e realismo, Buque defende que o sucesso na transição para uma economia de empregabilidade baseada em competências passa por um esforço conjunto entre governo, sector privado e instituições de ensino.

Profile Mozambique: Poderia começar por explicar, ao público moçambicano, como opera o vosso modelo, combinando inovação, design digital e resposta local, e quais as regiões-alvo em Moçambique?

Gaspar Buque: Assumimos a liderança da Field Ready desde a sua implementação em Moçambique, onde operamos há já sete anos. A origem do grupo empresarial está no Reino Unido, com sede em Londres, e temos operações também no Ghana e na Nigéria. Enquanto grupo empresarial, temos uma presença global consolidada, com mais de 30 anos de experiência em diversos sectores com foco, no sector da energia e projectos desenvolvidos em todos os continentes.

O que constatamos, nos diversos mercados onde actuamos, é que os jovens enfrentam dificuldades semelhantes para aceder ao emprego, independentemente do grau académico, seja ensino básico, técnico-médio, licenciatura ou mestrado.

As empresas sinalizam que os recém-graduados não reúnem, muitas vezes, as competências exigidas para o emprego. Quando confrontamos as instituições de ensino com esta realidade, percebemos que existe uma grande distância entre estas e o sector industrial. As escolas formam com base em suposições, sem uma ligação real com as necessidades do mercado.

É precisamente essa desconexão que procuramos reduzir, criando uma ponte entre a formação e o mercado, para que os jovens moçambicanos tenham acesso a oportunidades reais e sustentáveis de trabalho, em sectores estratégicos para o desenvolvimento económico do país.

PM: A Field Ready estabeleceu recentemente presença em Moçambique voltada ao desenvolvimento de capacidades técnicas e empregabilidade juvenil. Poderiam partilhar de quando data a vossa operação nacional e como foi o processo de adaptação ao contexto local?

GB: Esta parceria tem como principal objectivo maximizar as oportunidades de empregabilidade para os jovens, promovendo acções de sensibilização e capacitação através da nossa plataforma digital. A ExxonMobil financiou o acesso gratuito à plataforma Field Ready, onde os módulos de empregabilidade estão disponíveis, incluindo um módulo específico de HST desenvolvido de raiz em colaboração com a própria ExxonMobil e com o contributo de especialistas nacionais.

Trata-se de uma ferramenta de preparação para a futura empregabilidade no âmbito do projecto liderado pela ExxonMobil e parceiros da Área 4, e permitirá que 10 mil jovens moçambicanos tenham acesso gratuito a este módulo ainda este ano, a nível nacional. A ideia é garantir que, quando for alcançada a fase decisão final de investimento, o país tenha uma base de jovens com competências sólidas em matéria de segurança no trabalho, num sector reconhecidamente de alto risco.

Gaspar Buque, Director-Geral da Field Ready em Moçambique

É uma abordagem preventiva e estratégica, que assegura maior eficiência e segurança nos processos de mobilização de mão de obra.

Desde o lançamento do programa de HST, a plataforma da Field Ready já registou cerca de 4 mil novos utilizadores em apenas dois meses. Actualmente, a plataforma conta com mais de 14 mil jovens registados a nível nacional, o que demonstra o elevado interesse dos jovens e a relevância da iniciativa.

PM: Celebraram MoU com a UP-Maputo e parceria com a CFM para a empregabilidade juvenil. Como estas iniciativas fortalecem o vosso alcance e contribuem para a profissionalização de jovens moçambicanos?

GB: Nós somos um elemento aglutinador das diversas entidades que intervêm no domínio da empregabilidade. Esta colaboração não é nova. Já temos acordos assinados com várias instituições, incluindo a extinta Secretaria de Estado do Ensino Técnico Profissional, o IFPELAC, bem como organizações empresariais e industriais, com o propósito de garantir que os jovens formados tenham acesso efectivo ao mercado de trabalho.

O que fizemos agora foi consolidar e expandir relações que existiam há sete anos. Trazemos agora a Universidade Eduardo Mondlane, a Universidade Pedagógica, o ISCTEM e outras instituições, bem como empresas públicas e privadas que figuram entre os principais empregadores do país.

Entre as entidades com as quais a Field Ready mantém parcerias activas destacam-se: ExxonMobil, CFM – Caminhos de Ferro de Moçambique, Sasol, Van Oord, Grindrod, MPDC – concessionária do Porto de Maputo, entre outras. Ao todo, são cerca de 65 instituições parceiras em todo o território nacional.

Todos nós já passámos pela ansiedade do pós-formação: ‘e agora?’, ‘para onde vou?’, ‘o que faço para encontrar um emprego?’. Muitos jovens saem da universidade sem saber quais ferramentas usar, como preparar um CV, como se apresentar a uma entrevista, ou como interagir com o mercado.

Através da plataforma Field Ready, os jovens podem aceder gratuitamente a conteúdos e módulos que abordam lacunas frequentemente não cobertas pelos currículos tradicionais. As instituições de ensino parceiras, passaram a integrar o esforço de difusão da plataforma nas suas comunidades estudantis.

As empresas que fazem parte da nossa aliança, sabem que os jovens inscritos na nossa plataforma já foram expostos a conteúdos de empregabilidade, o que facilita a integração nas empresas e reduz os desafios relacionados com retenção ou adaptação no início das suas carreiras profissionais.

PM: Parcerias com ExxonMobil, ROMPCO, CFM e U.P. Maputo mostram uma estratégia integrada. Que critérios utilizam na selecção de parceiros e como garantem o alinhamento entre conteúdos e mercado de trabalho?

GB: Como faço sempre questão de sublinhar, a Field Ready não existe sem o valor da sua aliança. As empresas e instituições que integram essa rede são o principal ingrediente do nosso sucesso. Todos os nossos conteúdos são produzidos por esta aliança, são essas empresas e instituições, que definem as prioridades, que desenvolvem os currículos, e que ajudam a moldar as soluções que oferecemos aos jovens.

Antes de desenvolvermos um novo programa ou solução de empregabilidade, realizamos uma reunião da aliança. Ali procuramos perceber quais são as áreas prioritárias, quais são os principais desafios que as empresas enfrentam na contratação de jovens, e quais competências precisam de ser reforçadas.

É este modelo de co-criação com os empregadores que constitui um dos grandes diferenciadores da Field Ready. Ao integrarmos os empregadores desde o desenho dos conteúdos até à entrega da formação, estamos efectivamente a ajudar as empresas a encontrarem jovens altamente empregáveis, preparados para responder às exigências do mercado actual.

PM: Que indicadores quantitativos usam para medir impacto: número de formandos certificados, colocação em estágios/empregos, projectos concluídos? Podem partilhar dados recentes sobre colocações efectivas?

GB: Actualmente, a plataforma conta com cerca de 14 mil jovens registados, distribuídos por várias províncias do país, desde Zumbo ao Índico. Apesar de ainda representar uma pequena fração dos mais de 14 milhões de jovens moçambicanos, o nosso objectivo é atingir os 100 mil jovens até ao final de 2030, expandindo assim o alcance e o impacto da plataforma.

A nossa métrica de sucesso está na acessibilidade e utilização efectiva da plataforma independentemente das restrições de cobertura de rede digital. O objectivo seria assegurar que os utilizadores possam aceder a plataforma, mesmo sem acesso a internet, e sempre que o jovem tiver contacto com a internet, os dados são sincronizados, o que nos permite acompanhar a evolução de cada utilizador.

A estratégia de expansão territorial já contempla províncias como Nampula e Cabo Delgado, onde foram implementados programas-piloto. Para os próximos tempos, o foco estará na assinatura de novos memorandos de entendimento com instituições de ensino técnico-profissional e superior, permitindo que os jovens em final de formação tenham acesso directo à plataforma.

Queremos que todas as instituições de ensino do último ciclo de formação académica, em todas as províncias, estejam conectadas à Field Ready. Só assim podemos assegurar que os jovens chegam ao mercado, munidos das ferramentas certas para competir e contribuir activamente para o crescimento do país.

PM: Como veem o papel da Field Ready no contributo para a empregabilidade juvenil, industrialização e transição para uma economia baseada em competências técnicas em Moçambique?

GB: Quando falamos da Field Ready, falamos de um caso de sucesso empresarial, capaz de congregar mais de 65 empresas com um único propósito, preparar e integrar jovens moçambicanos no mercado de trabalho.

O modelo adoptado, que junta sector industrial, instituições de formação técnica e superior e empresas empregadoras, num esforço colaborativo para criar, testar e implementar currículos ajustados às reais exigências do mercado, foi reconhecido pela União Africana, em 2021, como uma das maiores inovações de formação profissional para a juventude no continente africano.

Este reconhecimento foi atribuído à abordagem sistémica e partilhada da Field Ready, que garante que os empregadores participem activamente não apenas no recrutamento, mas em todo o processo formativo dos jovens.

Saiba mais aqui: Field Ready

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