Quarta-feira, Dezembro 18, 2024
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Germano Nhabinde: “O risco cambial é um desafio inevitável para países como Moçambique”

Em entrevista exclusiva ao Profile, Germano Nhabinde, Director de Tesouraria e Gestão de Capital do Standard Bank, reflecte sobre o CFO (Finance Executive Summit), um evento global que promove a troca de conhecimentos entre profissionais de finanças, destacando a importância da ética e governança na liderança financeira.

Nhabinde, vai ainda mais longe, ao discutir os desafios específicos enfrentados pelos CFOs em Moçambique e explora o papel crescente do CFO na integração de práticas de ESG (Ambiental, Social e Governança) no sector financeiro, sublinhando a importância da conformidade com as normas internacionais e o desenvolvimento contínuo para alcançar a excelência na gestão de negócios.

Profile Mozambique: Quem é Germano Nhabinde?

Germano Nhabinde: Sou um profissional especializado em contabilidade e finanças, com uma trajetcória que se iniciou na British American Tobacco, uma multinacional onde adquiri uma vasta experiência em diversos domínios de contabilidade e finanças.

Durante seis anos, desenvolvi competências em relatórios financeiros, controle, contabilidade de gestão e contabilidade financeira. Posteriormente, fui convidado a integrar o Standard Bank Moçambique, onde actuei em três funções: controlo financeiro, Gestão de Activos e Passivos, e, actualmente, como Director de Tesouraria e Gestão de Capital. Acredito no desenvolvimento contínuo como factor essencial para alcançar excelência em gestão de negócios.

PM: Qual é o principal objectivo do CFO ou Finance Executive Summit?

GN: O CFO, também conhecido como Finance Executive Summit, é uma comunidade global de profissionais de finanças, especialmente CFOs, que se reúnem para trocar ideias e compartilhar experiências.

Esse conceito existe em diversas partes do mundo. Embora eu não soubesse que estava sendo lançado aqui, o modelo já é replicado em vários países, como na África do Sul. A Huruda D’Castro, que lidera esse processo, mantém contacto com outras comunidades internacionais. A proposta central é criar uma plataforma de aprendizado mútuo e troca de conhecimentos.

PM: Qual foi a sua contribuição temática para o CFO Fórum?

GN: Neste Finance Executive Summit, abordei o tema da ética e governança na liderança financeira, um tópico crucial para gestores financeiros, que são frequentemente vistos como os guardiões do valor dos accionistas.

Para criar valor de maneira sustentável, é essencial operar dentro de padrões éticos e seguir as melhores práticas de governança. Isso inclui o cumprimento rigoroso de leis, políticas e procedimentos, além de adoptar standards internacionais A vários níveis.

As certificações internacionais em contabilidade e finanças são especialmente um requisito relevante para os profissionais que operam em ambiente multinacional, cuja transparência e comparabilidade são fundamentais para o mercado global.

PM: Quais desafios e oportunidades os CFOs encontram no contexto moçambicano, considerando a conjuntura actual? 

GN: Acredito que um dos principais desafios é a questão da formação. Durante o workshop, discutiu-se amplamente sobre a importância da certificação internacional. Para ser reconhecido como um profissional de contabilidade ou finanças, é fundamental ter uma sólida formação.

Em ambientes multinacionais, especialmente em cargos de liderança, é comum que se exija essa qualificação. As empresas buscam profissionais que atendam aos padrões internacionais de competência, garantindo que possam confiar no indivíduo para proteger seus activos.

PM: Muito tem sido discutido sobre os impactos potenciais das variações cambiais. Como a volatilidade cambial afecta as empresas moçambicanas, especialmente aquelas dependentes de importações?

GN: Recentemente, tem havido um aumento nas discussões sobre os riscos associados à volatilidade cambial em Moçambique. Nos últimos dois a três anos, observamos uma certa estabilidade da taxa de câmbios. No entanto, o risco cambial continua a ser uma preocupação para um país importador como o nosso.

Quando há flutuações significativas, isso impacta directamente os negócios e as empresas, especialmente aquelas com custos indexados a moedas estrangeiras. Exemplos como o Malawi e a Nigéria, onde as moedas desvalorizaram mais de 50%, ilustram como tal instabilidade pode afectar drasticamente o valor das empresas importadoras. Em Moçambique, essa exposição ao risco cambial é quase que inevitável nas condições actuais, de um país sobretudo importador.

PM: De que maneira o CFO desempenha um papel crucial na integração das práticas de ESG no sector financeiro?

GN: Ao longo das discussões, ficou claro que o papel do CFO está cada vez mais interligado ao compliance e às práticas de ESG (Ambiental, Social e Governança). O ESG é actualmente um tema central, especialmente no sector financeiro.

Reguladores em todo o mundo exigem que os bancos adoptem padrões de ESG, o que inclui financiar projectos sustentáveis e reduzir o apoio a actividades que impactam negativamente o meio ambiente. Embora o cumprimento dessas exigências traga custos, também pode agregar valor às empresas, posicionando os CFOs como líderes na promoção de negócios mais responsáveis e sustentáveis.

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