Quarta-feira, Julho 16, 2025
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Gulamhussen: “Queremos levar o turismo moçambicano a novas fronteiras”

Profile Mozambique: Conte-nos um pouco sobre o seu percurso profissional, o que o trouxe ao sector hoteleiro em Moçambique e, em particular, ao VIP Hotels?

Gulamhussen: Chamo-me Gulamhussen, embora seja mais conhecido por Dado. Nasci em Pemba há 41 anos. A minha infância foivivida entre Maputo e Pemba e desde cedo tive interesse pela área do turismo. Em Moçambique, o grupo está presente desde 2002, ano em que foi inaugurado o VIP Grand Maputo. Passados 23 anos, contamos actualmente com quatro unidades hoteleiras no país, somando cerca de 660 quartos, o que faz do VIP Hotels um dos maiores grupos hoteleiros nacionais em termos de capacidade instalada. Temos ainda um plano de expansão ambicioso para levar a marca a outras províncias e cidades do país.

A maior parte da minha carreira profissional está directamente ligada à história do Grupo VIP Hotels, que nasceu em Portugal em 1978 fruto da migração de muitas famílias, incluindo a minha.

Sendo um negócio de cariz familiar, escolhi formar-me em Administração de Empresas e Turismo para dar continuidade a este projecto, que abracei desde cedo.

PM: Quais foram os principais desafios que o Grupo VIP tem enfrentado no mercado moçambicano?

Gulamhussen: Os desafios têm sido constantes, especialmente num mercado como o moçambicano, onde tudo exige maior esforço no arranque. Nos últimos 23 anos, o percurso do VIP Hotels teve momentos de franco crescimento, seguidos de fases mais difíceis, marcadas por adversidades socioeconómicas.

Entre os principais obstáculos enfrentados, destaco o período de instabilidade em 2011-2012, os impactos das dívidas ocultas, a pandemia de COVID-19 e, mais recentemente, as manifestações que afectaram o país.

Perante este contexto, tornou-se essencial cultivar resiliência e capacidade de adaptação para garantir que o grupo continua a servir com qualidade e a manter-se competitivo no mercado.

PM: Como define a estratégia de crescimento do VIP Hotels em Moçambique? Há planos de expansão para outras regiões como Beira, Tete ou Nampula?

Gulamhussen: Actualmente, o VIP Hotels conta com quatro unidades em Moçambique: duas em Maputo, incluindo o VIP Suites, um apart-hotel localizado na Machava, e ainda hotéis nas cidades da Beira e de Tete.

Relativamente à estratégia de crescimento, temos projectos de expansão previstos para novas localizações como Pemba, Nacala, Nampula, Lichinga e Quelimane, além de uma unidade na Zona Sul, em Inhambane, focada no segmento de resorts. Também equacionamos reforçar a presença na Beira..

Gulamhussen, CEO do Grupo VIP Hotels

No entanto, sublinho que o avanço destes investimentos está directamente condicionado pela evolução do contexto político, social e económico do país, assim como pelos reflexos de fenómenos internacionais que acabam por impactar o mercado interno. Por isso, acompanhamos de perto os indicadores e realizamos análises de viabilidade para determinar o momento mais adequado para retomar e concretizar estes projectos de expansão.

PM: Como equilibra o investimento em inovação com a manutenção de qualidade de serviço e conforto para o hóspede?

Gulamhussen: A indústria do turismo, e em particular a hotelaria, está em constante reinvenção, acompanhando tendências que privilegiam cada vez mais o digital e a automatização de processos, como por exemplo o self check-in, que já é prática em várias partes do mundo.

No contexto de Moçambique, reconhecemos que existem limitações legislativas, regulamentares e estruturais que condicionam a adopção imediata dessas soluções. Ainda assim, temos procurado adaptar-nos progressivamente, introduzindo melhorias que reforcem a interacção do hóspede com os nossos serviços e assegurem padrões consistentes de qualidade e conforto.

Com mais de duas décadas de actividade no sector, acreditamos que o futuro da hotelaria nacional passará inevitavelmente por integrar essas novas tecnologias, ajustando-as à realidade local, de forma a manter o compromisso de bem-servir e posicionar Moçambique como destino competitivo no panorama internacional.

PM: Como avalia a evolução do turismo de negócios no país, e que impacto tiveram factores como o surgimento de novas plataformas digitais e a escassez de divisas no desempenho do sector hoteleiro?

Gulamhussen: Durante muitos anos, o turismo de negócios foi o motor do sector hoteleiro nas principais cidades moçambicanas, sustentado por grandes infraestruturas com capacidade para acolher conferências, reuniões e eventos corporativos.

Contudo, este cenário começou a mudar com a sucessão de adversidades, desde a pandemia da Covid-19, que popularizou plataformas de reuniões online como Zoom ou Teams, até ao surgimento de novas tendências globais, como o Airbnb, alojamento local e guesthouses, que passaram a concorrer directamente com as grandes cadeias.

Apesar destes desafios, acredito que há espaço para todos, desde que haja maior diversificação da oferta, regulamentação e fiscalização adequadas para o sector. Por outro lado, a insuficiência de divisas representa hoje um problema transversal, afecta as companhias aéreas, encarece bilhetes e reduz a vinda de turistas e investidores.

Este efeito em cadeia acaba por atingir toda a cadeia de valor, hotéis, restaurantes, transportes e guias turísticos.

PM: Na sua perspectiva, qual deve ser o papel do empresariado nacional na promoção do desenvolvimento sustentável e na afirmação do país como destino económico e turístico?

Gulamhussen: Participo activamente em várias estruturas ligadas ao sector, como a CTA e a Associação dos Hotéis, porque acredito que cabe a todos nós trabalhar para valorizar e divulgar as potencialidades que Moçambique oferece, seja nos recursos naturais, minerais, agrícolas, na logística, nas infraestruturas ou no turismo, sectores que têm um enorme peso no nosso potencial de exportação.

Tem havido um esforço conjunto, tanto do governo como do sector privado, para mostrar estas oportunidades ao mundo, nomeadamente através de feiras e conferências internacionais. É um processo que requer compromisso, planeamento e visão estratégica de longo prazo para produzir resultados sustentáveis.

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