Quinta-feira, Novembro 21, 2024
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Holger Hey: “A nossa missão é promover um intercâmbio empresarial e inclusivo entre a Alemanha e Moçambique”

Holger Hey, representante da Câmara de Comércio e Indústria da África Austral-Alemanha em Moçambique, destacou em entrevista ao Profile, realizada à margem da Conferência Bilateral entre os dois países em Maputo, a importância das pequenas e médias empresas (PMEs) e das oportunidades estratégicas nos sectores de infra-estrutura portuária e energia.

Holger sublinhou como essas áreas podem desempenhar um papel crucial no crescimento sustentável tanto de Moçambique quanto da Alemanha.

Profile Mozambique: Como a Câmara de Comércio e Indústria da África Austral-Alemanha pretende assegurar que essas parcerias com empresas alemãs beneficiem directamente o desenvolvimento económico de Moçambique?

Holger Hey: O nosso objectivo é fomentar o intercâmbio económico entre a Alemanha e Moçambique, promovendo tanto a entrada de investimentos alemães em Moçambique quanto a expansão de negócios moçambicanos na Alemanha.

Com esse propósito, organizamos uma Conferência de Alto-Nível apoiada pelo governo alemão, através do Ministério da Economia, que trouxe ao país sete empresas alemãs especializadas em infra-estrutura portuária, tecnologias associadas, sistemas energéticos e logística. Essas empresas vieram a Moçambique pela primeira vez para explorar as oportunidades que o mercado local oferece. Sabemos que o Porto de Maputo, por exemplo, registou um crescimento entre 20% e 30% nos últimos dois anos, e outros portos no país também desempenham papéis estratégicos no contexto do continente africano oriental, especialmente considerando a localização geoestratégica de Moçambique.

É importante sublinhar que Moçambique está adoptar uma abordagem inovadora para o desenvolvimento, e nós, com as nossas tecnologias e facilidades alemãs, estamos ansiosos para colaborar, buscando parcerias que nos permitam integrar e contribuir para esse progresso. A nossa pretensão é trabalhar em conjunto, alinhando esforços para promover o desenvolvimento sustentável de ambos os paíse

PM: Quantas empresas, incluindo PMEs, participam da Conferência Bilateral de Infra-estrutura Portuária Alemanha-Moçambique e de que forma este fórum pode fortalecer as relações económicas entre os dois países e impulsionar investimentos estratégicos no sector?

HH: Neste contexto específico, estamos a realizar uma viagem técnica que envolve sete empresas alemãs de médio porte, todas elas marcas com repercussão internacional. Essas empresas estão em Moçambique para uma visita de uma semana, durante a qual já visitamos os portos de Maputo, incluindo o porto de contentores gerido pela DP World. Ainda nesta senda, visitaremos o MozParks, uma iniciativa significativa que conta com a participação do governo moçambicano. Trata-se de zonas de desenvolvimento económico e free zones, que apresentam oportunidades atractivas para potenciais investimentos alemães.

Durante esta visita, exploraremos sistemas logísticos e instalações de energia descentralizada, como uma planta fotovoltaica instalada num dos centros comerciais da Matola, um projecto implementado por uma pequena empresa alemã. Ademais, visitaremos o Estádio Nacional do Zimpeto, especialmente relevante dado o recente triunfo da selecção nacional de Moçambique sobre a Guiné-Bissau.

Esta iniciativa combina elementos de uma viagem técnica com a realização de uma conferência de grande envergadura, como a que ocorre hoje, a primeira Conferência Bilateral de Infraestrutura Portuária entre Alemanha e Moçambique. Este evento conta com a participação do governo moçambicano, da APIEX, de entidades portuárias, de associações relevantes, e de uma parceria sólida com a Câmara de Comércio de Moçambique. Portanto, o fórum também atraiu consultores e potenciais parceiros de joint venture, incluindo empresas alemãs já estabelecidas no país, totalizando cerca de 100 participantes.

O objectivo é que este evento tenha uma repercussão considerável, e, paralelamente, queremos mostrar aos alemães a cultura e a mentalidade moçambicanas, destacando que o país possui um espírito empreendedor dinâmico, com uma juventude ágil e competente, pronta para colaborar no desenvolvimento de infraestrutura, inovação e transferência de conhecimento. Este é um diálogo abrangente, sem receio das barreiras linguísticas, incluindo o Português, o Xichangana e as outras línguas nacionais.

PM: Considerando a sua experiência, de que forma os eventos bilaterais podem ajudar a mudar a percepção sobre Moçambique na Alemanha e atrair mais investimentos para o país?

HH: Há um enorme potencial que muitas vezes nem é reconhecido em Moçambique. Já existe uma presença significativa de empresas alemãs no país, actuando em diversos mercados, como a DHL, uma das maiores empresas de logística do mundo, que é alemã e tem uma actuação forte em Moçambique, tanto nos portos quanto no interior do país. Portanto, os portos de Moçambique são estratégicos porque movimentam produtos agrícolas, tecnológicos e outros bens dos países vizinhos que dependem dessas infra-estruturas para exportar seus produtos.

Essa logística já possui um toque de “Made in Germany”. Além da DHL, a DB Schenker também está presente no mercado moçambicano, e há outras iniciativas alemãs em curso, como soluções de energia solar e uma forte cooperação com a GIZ, que trabalha em sistemas de energia descentralizada, especialmente para a agricultura.

Embora haja actividade significativa, ainda é insuficiente diante do enorme potencial de crescimento que Moçambique apresenta. Nesse caso, nosso intuito é intensificar essa cooperação bilateral, promovendo uma maior participação alemã neste caminho de sucesso. No entanto, pouco se sabe na Alemanha sobre as oportunidades que Moçambique oferece.

Daí que, eventos como este são fundamentais para mudar a narrativa sobre Moçambique na Alemanha e na Europa, onde, infelizmente, a percepção é muitas vezes negativa ou inexistente. Se contarmos a verdadeira história de Moçambique, surgirão inúmeras oportunidades. Problemas existem em todos os lugares, não apenas aqui.

PM: PM: Como a parceria entre empresas moçambicanas e alemãs pode promover o desenvolvimento do conteúdo local, permitindo que as PMEs beneficie-se das várias oportunidades apresentadas?

HH: A propósito, contamos com a presença do Presidente da Associação de Conteúdo Local de Mocambique (ACLM) numa das sessões desta conferência, Elthon Chemane.

E de facto, o conteúdo local é muito importante para o país, para o desenvolvimento da industrialização no país, mais uma vez para levar a juventude moçambicana para participar dessa onda que espero que sejam muitas de desenvolvimento e de sucesso e crescimento econômico. Então o conteúdo local é uma componente que a gente não pode esquecer, que nós queremos nesse evento desde já também transportar para os possíveis e para os investidores alemães que pensem também em soluções nesse conteúdo.

Treinando-se as pessoas, pode-se envolvê-las, pode-se conquistá-las para participarem nas atividades aqui reais de economia e de trabalho, o que a gente chama de fazer, quem faz é aqui. Mas tem muita solução já existente no Moçambique que pode ser inclusa num perfil de desenvolvimento tecnológico ou do trazer de novas tecnologias alemãs. Elas não vêm por si só.

Falamos muito nesse evento já de uma palavra que é muito importante, que é a parceria. Não viemos aqui para fazer, viemos para fazer em parceria com as entidades, com as empresas, também as pequenas e médias moçambicanas, porque tem a ver. O DNA de pequenas e médias moçambicanas é o mesmo que o DNA alemão.

A economia alemã não é só Mercedes e Siemens, temos muito orgulho de tê-las, mas o DNA alemão também é de pequenas e médias. Então, vamos interagir, vamos conversar a esse respeito, olho a olho, na mesma altura e tentar crescer em conjunto.

PM: Como a Alemanha pretende se posicionar para participar de futuros desenvolvimentos portuários em Moçambique, como a possível criação de um PORTOCEL em Maputo?

HH: Durante a nossa recente visita ao Porto de Maputo, tivemos a oportunidade de conhecer profundamente as operações e os planos em curso, que são realmente impressionantes.

Sabemos que existe um master plan para o desenvolvimento do Porto de Maputo, incluindo parcerias público-privadas (PPP) e a expansão das operações de contêineres pela DP World. Entretanto, é possível que planos para um projecto como o PORTOCEL estejam sendo considerados.

Embora eu não possa fornecer uma resposta definitiva sobre a criação de um PORTOCEL em Maputo, o que posso afirmar é que estamos aqui para fortalecer a presença alemã no mercado moçambicano. E o nosso grande compromisso é assegurar que, quando surgir a oportunidade de um empreendimento dessa magnitude, o diálogo com a Alemanha já esteja estabelecido, permitindo nossa participação desde o início em um desenvolvimento desse porte.

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