Sábado, Setembro 7, 2024
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João Figueiredo: “Nossa maior ambição é nos inspirarmos nas necessidades dos clientes”

O Presidente do Conselho de Administração (PCA) do Moza Banco, João Figueiredo, em entrevista ao Profile, faz uma análise profunda da trajectória do Moza Banco nos últimos 16 anos.

Com um olhar atento para o futuro, o Moza Banco continua a inovar e a expandir seus serviços, reafirmando seu compromisso com um crescimento económico sustentável e inclusivo em Moçambique.

Profile Mozambique: Como descreve os 16 anos  de trajectória do Moza Banco?

João Figueiredo: São 16 anos de desafios, oportunidades, muita luta e dedicação, desde a época dos fundadores do banco até à nova administração que hoje está no Moza Banco. Este percurso contou com o grande empenho dos nossos accionistas, colaboradores, parceiros e autoridades.

Durante esses 16 anos, servimos a economia moçambicana, participando activamente do sistema financeiro e colaborando no fortalecimento do nosso sector. No entanto, tanto a nível nacional quanto internacional, a conjuntura não tem sido das mais favoráveis. A nível global, enfrentamos dois grandes fenómenos recentes: a pandemia de Covid-19 e suas consequências, e as guerras no Médio Oriente e na Ucrânia, cujas repercussões ultrapassam as fronteiras dos conflitos, impactando o mundo inteiro.

No contexto nacional, nossa economia também vive momentos de grande dificuldade. Precisamos concentrar nossos esforços naquilo que é essencial para nós. O Moza Banco está comprometido em impulsionar o desenvolvimento das pequenas e médias empresas, que são a base de qualquer economia em crescimento. Nesse sentido, celebramos recentemente um acordo com a Fundação Dom Cabral para capacitar aos nossos pequenos empresários, um dos principais pilares do desenvolvimento.

Além disso, o Moza Banco quer destacar a importância de apoiar as pequenas e médias empresas e alertar a sociedade sobre o desenvolvimento multissectorial necessário para o nosso progresso. O setcor da energia, com a chegada do gás, é frequentemente mencionado, mas acreditamos que nosso modelo económico deve apoiar diversos sectores, incluindo turismo e agronegócio. Precisamos incluir as populações das zonas rurais no nosso desenvolvimento, pois crescimento económico não significa necessariamente inclusão social ou desenvolvimento sustentável.

Este é um grito de alerta para continuar apoiando o desenvolvimento global e sectorial, promovendo uma cadeia de valor dentro do país, reduzindo importações e aumentando exportações. Um exemplo é a questão agrícola e a necessidade de distritos que ainda não possuem bancos, agências ou ATMs.

Com 16 anos de Moza Banco, nosso projecto e plano, tanto a curto quanto a longo prazo, visam alcançar essas populações e distritos que, apesar de terem potencial económico, ainda não são adequadamente assistidos pelo sector bancário. Queremos que todos os stakeholders colaborem neste esforço, cumprindo suas responsabilidades para que possamos continuar a bancarizar o país e levar serviços financeiros às zonas mais remotas.

O crescimento global previsto pelo Banco Mundial para este ano pode não nos afectar directamente, mas temos que focar na nossa economia nacional. Precisamos depender menos de doações e mais da nossa própria produção. Temos recursos suficientes e potencial para sermos autossustentáveis, como nossa vasta costa de 2.700 km e terras aráveis. Precisamos concentrar esforços no desenvolvimento económico que desejamos, criando mais empregos e formalizando a economia informal.

O Moza Banco tem um lema: “Fazer Acontecer”. Estamos comprometidos em entender as necessidades dos nossos clientes e fornecer produtos e serviços que atendam a essas necessidades, criando uma relação forte e sustentável com eles. A nossa maior ambição é ser o melhor banco em qualidade, não necessariamente o maior em quantidade.

O projecto com a Fundação Dom Cabral é um exemplo do nosso compromisso contínuo com a formação dos pequenos empresários. Queremos que esse programa dure enquanto houver necessidade de capacitação. Continuaremos a investir no desenvolvimento dos nossos clientes, contribuindo para uma economia mais robusta e inclusiva.

PM: Como o Moza Banco se posiciona em relação à bancarização do país e à expansão dos serviços bancários para as áreas mais remotas? Este é um projecto que deve ser assumido em nível nacional?

JF: Nós, enquanto agentes da economia e do sistema financeiro, precisamos trabalhar em conjunto com o Estado. O Moza Banco abraçou o projecto do Estado no programa “Um Distrito, Um Banco”. No entanto, este programa enfrenta atrasos em seu orçamento e ritmo de implementação, e não por responsabilidade dos bancos. Os bancos estão a cumprir seu papel, mas é essencial que todos os stakeholders colaborem. O sistema financeiro não pode ser o único responsável, o Estado também precisa participar activamente.

Compreendemos que o Estado enfrenta várias dificuldades, mas este é um sacrifício que deve ser compartilhado. Não basta apenas os bancos se esforçarem para chegar às zonas rurais, todos os envolvidos devem estar comprometidos. Apesar dos desafios, os bancos já abriram muitos balcões em áreas rurais.

Mesmo em momentos de grande dificuldade, como em 2016, quando o Moza Banco enfrentou uma crise, conseguimos abrir dois balcões em zonas rurais. Hoje, felizmente, superamos aquela fase difícil, mas continuamos comprometidos com o programa “Um Distrito, Um Banco”. Fomos um dos bancos que mais aderiram a este programa, mas é crucial que todos os responsáveis estejam alinhados e cumpram suas obrigações.

Acreditamos que há condições para continuar com este programa se todos os stakeholders estiverem na mesma página. Recentemente, o Banco Mundial previu um crescimento da economia mundial de 2,4% para 2,6% este ano. No entanto, devemos focar em nossa própria economia e trabalhar juntos para promover um desenvolvimento inclusivo e sustentável.

PM: De acordo com esta leitura do Banco Mundial, que impacto se pode esperar na economia e de uma forma directa na vida dos mocambicanos?

JF: O crescimento a nível mundial não nos afectará se não soubermos concentrar e focar na nossa economia nacional. Precisamos viver com o apoio dos nossos parceiros, mas devemos nos concentrar na produção nacional. Se não o fizermos, continuaremos dependentes de doações e ajuda externa, e isso não é o que desejamos. Queremos deixar para nossos filhos e futuras gerações um país sustentável, capaz de se sustentar por si mesmo.

Temos recursos suficientes para alcançar essa independência. Temos, por exemplo, a possibilidade de usar nossos portos para facilitar o comércio com países do interior, como a Tanzânia. Precisamos nos concentrar nessas vantagens e não deixar o tema da economia mundial nos distrair.

Devemos reunir esforços e definir um modelo de desenvolvimento económico que atenda às nossas necessidades. Quais são os sectores em que devemos investir para desenvolver o país? Precisamos criar mais postos de trabalho e formalizar a economia informal, integrando mais pessoas na economia produtiva e real.

É crucial que nos concentremos na nossa economia e nos unamos para atingir esses objectivos. Somente assim poderemos construir um futuro mais próspero e sustentável para todos os moçambicanos.

PM: Em relação ao Memorando de Entendimento assinado entre o Moza e a FDC para a viabilização de um programa educacional denominado “Pra Frente” através do qual as Pequenas e Médias Empresas nacionais, beneficiarão de formações e capacitações em matérias de empreendedorismo e gestão.

Qual é a estratégia para garantir que os critérios de selecção dos participantes atendam adequadamente às necessidades e diversidade dos pequenos empresários em diferentes regiões do país?

JF: O programa é administrado online e oferece pacotes de cursos que cobrem diversas áreas. Nosso objectivo é envolver pequenos empresários, microempresários, e oferecer-lhes a oportunidade de participar desses cursos. Eles aprenderão conceitos básicos que os ajudarão a se defender melhor e a se prepararem para a gestão de seus negócios.

O protocolo que adoptamos envolve a identificação de empresários, microempresários, pequenas e médias empresas, empreendedores e mulheres empresárias que se beneficiarão do programa. Vamos trazê-los para o programa e fornecer a formação necessária, para que fiquem melhor preparados para a vida empresarial.

A selecção dos participantes é feita com base em vários critérios. Para o primeiro grupo, buscamos cobrir diversos sectores de actividade e representantes de todas as províncias do país. Para a segunda turma, escolhemos focar exclusivamente em mulheres empreendedoras.

No futuro, novos critérios serão definidos para seleccionar os participantes.

PM: Qual tem sido o maior ganho proporcionado pelo Moza Banco para a economia ao longo de seus 16 anos de existência, e quais são os principais desafios que a instituição enfrenta actualmente em sua contribuição para o desenvolvimento económico?

JF: O maior ganho para a economia, nesses 16 anos, é o papel que o Moza Banco desempenha como entidade financiadora e parceira dos seus clientes. Construímos dia a dia uma relação de entendimento, buscando compreender suas necessidades e oferecendo produtos, instrumentos e serviços que realmente atendam a essas demandas. Nossa maior ambição é nos inspirarmos nas necessidades dos clientes e entregarmos produtos e serviços que atendam a essas necessidades.

No nosso DNA, somos um banco relacional, o que significa que queremos criar uma relação com o cliente, entendê-lo e, a partir disso, desenvolver os produtos e serviços adequados.

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