Na mais recente entrevista com Matthieu Gardon-Mollard, Jurista e Gestor de Projectos, conhecemos sua vasta experiência em Moçambique e o papel que desempenha na transformação do sector das indústrias culturais e criativas.
Actualmente Director do CULTIV’ARTE, um projecto financiado pela União Europeia e implementado pela Expertise France, Matthieu apresenta estrategias com vista a fornecer ferramentas para a transição do informal para o formal, promovendo o desenvolvimento económico e social por meio da profissionalização do sector.
Uma leitura essencial para quem busca entender as dinâmicas do sector cultural e criativo no país e oportunidades de financiamento.
Profile Mozambique: Quem é Matthieu Gardon-Mollard, profissionalmente?
Matthieu Gardon-Mollard: Sou Matthieu Gardon-Mollard, jurista de formação com 20 anos de experiência, iniciada em Moçambique em 2004. Nos primeiros 10 anos, trabalhei com o Ministério dos Negócios Estrangeiros da França, focando em cooperação técnica e ao desenvolvimento, actuando em áreas como cultura, educação e boa governação.
Nos últimos 10 anos, dediquei-me à assistência técnica e gestão de projectos internacionais, incluindo a actuação na Expertise France, que actualmente implementa o projecto CULTIV’ARTE, é uma iniciativa financiada pela União Europeia em Moçambique, implementada pela Expertise France em parceria com o Ministério da Cultura e Turismo.
O projecto pretende reforçar o governação e profissionalização do sector, incluindo a utilização de tecnologias digitais, através do reforço das competências dos recursos humanos, apoio a cooperação e a criação de redes de operadores culturais a nível nacional e internacional (especialmente na região da África Austral e na Europa), e reforçar as capacidades do Ministério da Cultura e do Turismo e de outros organismos públicos descentralizados, a fim de assegurar um ambiente mais favorável ao desenvolvimento do sector cultural.
Portanto, os beneficiários directos do projecto são intervenientes do sector das indústrias culturais e criativas, incluindo as autoridades públicas, empresários criativos, artistas e profissionais da cultura, bem como organizações da sociedade civil.
PM: Quais são os principais desafios e estratégias para estruturar o mercado das indústrias culturais e criativas em Moçambique, considerando as diferenças entre as principais cidades e as províncias?
MG: A realidade das indústrias culturais e criativas (ICCs) em Moçambique varia muito entre a capital, Maputo, e as províncias. Nas principais cidades, o sector é dinâmico e diversificado, mas o mercado ainda precisa ser melhor estruturado.
O projecto CULTIV’ARTE visa justamente esse ponto, estruturar os actores do mercado das ICCs e melhorar o quadro jurídico, cadeias de valor e sectores produtivos. Já nas províncias, o cenário é diferente, com poucas empresas registadas e uma predominância de estruturas associativas.
A informalidade é alta, e nosso foco será fornecer ferramentas para facilitar a transição do informal para o formal, contribuindo para o desenvolvimento do sector por meio das nossas actividades.
Ainda é cedo para termos metas fixas, mas já contamos com indicadores importantes que nos mostram um progresso positivo. No âmbito dos programas de activação de negócios, com o nosso parceiro Ideialab temos como meta realizar 16 bootcamps em quatro províncias , Maputo, Sofala, Inhambane e Nampula. No entanto, estamos expandindo a actuação para outras províncias (Tete e Manica possivelmente).
Cada bootcamp “Activ’Arte” contará com 40 participantes, jovens entre 18 e 35 anos, que estão no início de suas actividades ou em fase de formalização. O objectivo é fornecer ferramentas essenciais para impulsionar modelos de negócios, sejam eles lucrativos ou não, como no caso de actividades associativas ou fundações voltadas à geração de renda. Para as organizações já mais estruturadas, estamos a implementar um programa chamado “Aceler’Arte”, com o um acompanhamento sob medida online durante cerca de 3 meses, que visa o desenvolvimento operacional das entidades bénéficiarias.
PM: O CULTIV’ARTE coloca grande ênfase no empoderamento de jovens e mulheres no sector cultural. Que estratégias específicas estão sendo implementadas para garantir a capacitação desses grupos?
MG: Temos o desafio de alcançar a meta de 50% de jovens e 50% de mulheres como beneficiários do projecto, algo mais fácil nas áreas urbanas, mas mais complicado nas zonas rurais, onde o envolvimento de mulheres em actividades de empreendedorismo ainda enfrenta preconceitos.
Para contornar isso, estamos a incluir um cheirinho de discriminação positiva, criando programas específicos para mulheres, como o Femtech, dedicado a negócios nas indústrias culturais e criativas. Entre os beneficiários, incluem-se artesãos, designers de moda, artistas plásticas e performativas, além de empresas de comunicação.
O projecto CULTIV’ARTE está focado em estruturar as entidades do sector, oferecendo programas de incubação, activação e aceleração de negócios, em parceria com a IdeaLab. temos como meta realizar 16 bootcamps “Activ’Arte” com media de 40 participantes, jovens entre 18 e 35 anos, em quatro províncias , Maputo, Sofala, Inhambane e Nampula. No entanto, estamos expandindo a actuação para outras províncias (Tete e Manica possivelmente) . Dirige-se para beneficiários no início de suas actividades ou em fase de formalização.
O objectivo é fornecer ferramentas essenciais para impulsionar modelos de negócios, sejam eles lucrativos ou não, como no caso de actividades associativas ou fundações voltadas à geração de renda. Para as organizações já mais estruturadas, estamos a implementar um programa chamado “Aceler’Arte”, com o um acompanhamento sob medida online durante cerca de 3 meses, que visa o desenvolvimento operacional das entidades bénéficiarias. O nosso objectivo é acompanhar cerca de 175 entidades no decorrer do projecto.
Fora estes programas Cultiv’Arte visa promover, com o apoio do Centro Cultural Franco-Moçambicano e da rede EUNIC, o fortalecimento do ecossistema com fóruns temáticos e programas de mobilidade internacional.
Também serão disponibilizados subvenções, com diferentes lotes até 5 mil euros para projetos de curta duração, e até 30 mil euros para apoiar projectos mais consistentes, vindos de estruturas registadas que demonstrem capacidade de gestão e cumpram as obrigações fiscais.
PM: Como o projecto CULTIV’ARTE pretende contribuir para o reconhecimento formal das actividades das ICCs, e quais são as principais iniciativas de apoio aos artistas e jovens profissionais dentro desse contexto?
MG: O reconhecimento dos artistas e a formalização das actividades das indústrias culturais e criativas (ICCs) são temas cruciais em Moçambique. O projecto CULTIV’ARTE, em parceria com o Ministério da Cultura e Turismo, visa melhorar o quadro legal e regulamentar do sector, abordando questões como direitos autorais, patrimônio cultural e o estatuto do artista. Um dos desafios é quantificar o impacto das ICCs na economia nacional, o que exige a coletca contínua de dados e estatísticas fiáveis.
Ademais, o CULTIV’ARTE está implementar um programa de estágios que, em colaboração com o Instituto Nacional de Emprego – INEP, visa oferecer oportunidades para jovens e mulheres de todas as províncias. Com o objectivo de alcançar 100 estágios ao longo dos próximos três anos, o programa prioriza a mobilidade, cobrindo deslocamentos e oferecendo incentivos durante os estágios, com o objectivo de transformar essas experiências em empregos sustentáveis.
O foco está em estágios que gerem valor, garantindo que os participantes possam ser remunerados após o término do período de aprendizagem, principalmente em entidades do sector privado.