Paulo Jorge Chibanga, Membro do Conselho de Administração da Associação Industrial de Moçambique-AIMO, em entrevista ao Profile, traça uma radiografia do sector no País, sublinhando que uma das principais dificuldades actualmente é o aumento do preço dos factores de produção. Contudo, Chibanga, assegura que apesar de os empresários estarem preocupados com a situação, “estão a trabalhar activamente na criação de soluções”. Deixa ainda um repto: “estamos envolvidos na expansão dos Parques industriais pelo país”.
Profile Mozambique: O que é Associação Industrial de Moçambique e onde assenta a sua relevância?
Paulo Chibanga: Fundada em 1989, a Associação Industrial de Moçambique – AIMO é uma associação criada por empresários com o objectivo de representar o sector industrial em Moçambique e estabelecer um ambiente propício para o desenvolvimento do ecossistema. A agremiação assenta sua relevância na capacidade de poder influenciar e melhorar a sua competitividade industrial, a nível domestico e na esfera internacional, bem como assumir o papel de principal interlocutor do sector para o Governo.
PM: De forma retrospectiva e tendo em consideração o último ano, quais foram os desafios mais evidentes com os quais a instituição se deparou e quais as medidas adoptadas para os ultrapassar?
PC: Na íntegra a maior dificuldade está relacionada com o financiamento a indústria no seu todo, visto que, essa notória complexidade cria situações de encarecimento dos produtos. Num outro prisma, nota-se que, é preciso criar toda a cadeia de valor completa para colocar produtos no mercado, não só no mercado doméstico, como também no mercado internacional, que tenham capacidade de concorrer a vários níveis, quer a nível de apresentação, quer a nível de marca e qualidade, com outros produtos que são importados para Moçambique, de modo que Moçambique também tenha produtos seus expostos e à venda.
Profile Mozambique: Falemos dos principais acontecimentos que marcaram positivamente, a AIMO e que contribuíram para o seu crescimento durante o ano 2023.
PC: Relativamente ao ano de 2023, permita-me sublinhar que foi um ano de grandes realizações sob ponto de vista económico, posso elencar alguns feitos, que contribuíram significativamente para o nosso crescimento: (i) participação na 58ª edição da FACIM 2023 no Centro Internacional de Feiras e Exposições de Ricatla, no Distrito de Marracuene sob o lema “Industrialização: Inovação, Diversificação da economia nacional”, (ii) a criação da revista industrial (MOZINDUS) para a promoção dos produtos e realizações das indústrias nacionais, (iii) criação da Agência de Desenvolvimento Industrial (ADI), no âmbito do Programa Integrado para o Desenvolvimento Industrial, de modo a direccionar o apoio às empresas do sector produtivo nacional no contexto da capacitação em vários aspectos da gestão de processos produtivos, (iv) participação na exposição de oportunidades industriais, no painel de debates e no B2B, na realização do Global Gateway Fórum de Investimento Moçambique – União Europeia, que decorreu nos dias 22 e 23 de Novembro, o qual juntou empresas europeias que investem ou têm interesse em investir em Moçambique, as representações da União Europeia, o Governo e o Sector Privado de Moçambique, (v) participação na Conferência Empresarial – Renováveis em Moçambique, organizada pela AMER e ALER, com o objectivo de criar oportunidades de negócios as empresas industriais a aderirem a energias renováveis, (vi) participação na Conferência sobre o Mercado de Seguros em Moçambique, organizada pela Executive Moçambique, e (vii) a participação na Conferência do Agronegócio, Nutrição e Indústria Alimentar.
PM: De qualquer forma a AIM tem a sua visão sobre o estado da economia nacional. Quais são as principais diferenças entre o programa económico do Governo e a visão da AIMO?
PC: A nossa acção centra-se exclusivamente no exercício de lobby e advocacia no sector industrial, e somos um interlocutor válido na consulta e articulação com o governo em assuntos relativos à políticas reguladoras e incentivos nos domínios ambientais, fiscais, aduaneiros, bem como de outras concernentes as industrias moçambicanas propondo medidas e programas e participando na sua elaboração, implementação e monitoria. Ou seja, a AIMO tem trabalhado estreitamente com o governo em representação dos interesses dos associados. Porém, é importante reconhecer que parte das principais diferenças entre o programa económico do Governo e a visão da AIMO reside nas prioridades a nível de investimentos no âmbito do plano de acção do sector.
PM: Qual é o “apetite” dos investidores e das empresas estrangeiras pelo mercado moçambicano? Por favor, dê exemplos concretos de investimentos/transações comerciais existosas.
PC: Olhando com particular enfoque para o sector industrial posso destacar algumas áreas de maior investimento actualmente, tais como: (i) Energias renováveis, (ii) Mineração, (iii) Petróleo e Gás, (iv) Transportes e logística, entre outras em potencial.
Em relação a investimentos concretos, são vários, e passo a referenciar:
(i) TAITRA – que é a principal organização taiwanesa de promoção comercial e rede de informações bem coordenada para auxiliar empresas a conectarem-se ao mercado global. Principais serviços da TAITRA/TTC em Maputo: (i) Marketing de Marcas, (ii) Pesquisa de Mercado e Publicação, (iii) Feiras e convenções, (iv) Serviço comercial online, (vi) Marketing Internacional e (vii) Educação Comercial.
(ii) AFRICA TRADE + INVESTMENT PROGRAM – é um fundo americano criado para apoiar na exportação de produtos dos países em vias de desenvolvimento ao mercado americano. Neste sentido, contratam agências de desenvolvimento em exportações e Preparam empresas para exportar para os Estados Unidos da América. Principais serviços prestados: (i) Promoção de comércio, (ii) Acordo de facilidade a exportação, (iii) Encontrar fornecedores com capacidade de exportar na quantidade e qualidade especificada. Entretanto, é importante ressaltar que este fundo é implementado em 9 países a nível da África Austral, excepto, Zimbabwe e Tanzânia.
(iii) Programa de treinamento e Certificação para exportação de produto para o mercado internacional Trata-se de um Programa de Treinamento das Empresas sobre procedimentos para a exportação ao nível da África Austral e Sistema de Gestão da Qualidade baseado no padrão internacional de referência ISO 9001.Este programa foi desenhado pela AIMO junto com a Growth-In Lda., tendo como parceria e financiador a Trade Forward Southern Africa (TFSA) – UK. O programa visa elevar a consciência dos membros da AIMO e de partes interessadas em incrementar as oportunidades de exportação de produtos nacionais bem como na aplicação dos requisitos da Qualidade para a certificação internacional. As actividades vão incluir: (i) a identificação de produtos certificáveis e com potencial de exportar na cadeia de valores e dos standards nacionais e internacionais existentes, (ii) Instrução nos Procedimentos para a obtenção da Certificação, (iii) Identificação de procedimentos e ferramentas para desenvolver um Sistema de Gestão da Qualidade baseada no Standard ISO 9001 e (iv) a Condução de Sessões de Treinamento em relação às Exportações e Certificação de Sistemas e Produtos.
PM: O que fazer para incrementar os investimentos e as transações? E quais os sectores em que há mais interesse e porquê? PC: Para incrementar os investimentos e transações, à título de sugestão, algumas estratégias podem incluir a melhoria do ambiente de negócios, a promoção de parcerias público-privadas, a diversificação da economia, e a implementação de incentivos fiscais. Os sectores de maior interesse podem incluir energia, agronegócio, infraestrutura, turismo e tecnologia devido ao seu potencial de crescimento e impacto económico.
PM: Como é que caracteriza o estado actual da produção nacional?
PC: O estado actual da produção nacional é cada vez mais caracterizado pela diversificação em sectores como agricultura, indústria, energia e serviços, bem como desafios relacionados à produtividade, infraestrutura e acesso a mercados.
PM: Como é que a AIMO está representada a nível das províncias?
PC: Estamos representados através dos nossos membros em todo o território nacional, mas também, estamos envolvidos na expansão dos Parques industriais pelo país, o que estrategicamente vai fortalecer a nossa presença.
PM: Para terminar, quais as principais metas e prioridades traçadas para a AIMO, para o ano 2024?
PC: Garantir que haja financiamento ao sector industrial, criar programas com vista a atracção de investimentos para a indústria nacional e apostar cada vez mais na realização de feiras que permitam maior exposição industrial.
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