Quarta-feira, Dezembro 11, 2024
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Presença ou Produtividade?

“Presença ou Produtividade? O Dilema da eficiência laboral em Moçambique”

Por: Simão Djedje

A expressão “Será que vão me precisar?” ressoa frequentemente nas redes sociais, reflectindo uma realidade comum em muitos ambientes profissionais, a discrepância entre estar fisicamente no local de trabalho e realmente contribuir com resultados. Em Moçambique, como em muitos outros países, esta questão é mais do que linguística, envolvendo aspectos culturais, organizacionais e até jurídicos.

A distinção entre “ir ao trabalho” e “ir trabalhar” é essencial para compreender como as empresas podem equilibrar produtividade e cumprimento de normas laborais. Enquanto o primeiro conceito refere-se à mera presença no local de trabalho, o segundo implica a dedicação às tarefas e à geração de resultados.

Desafios organizacionais e jurídicos

Em Moçambique, como em muitos contextos africanos, a avaliação de desempenho em muitas empresas ainda é pautada pela assiduidade e pontualidade, com menor foco nos resultados efectivos. Esta abordagem pode levar a situações onde a presença física é valorizada, mesmo quando não há contribuição produtiva.

Do ponto de vista legal, está previsto na Lei do Trabalho em vigor no país, especificamente no Artigo 84.º, as obrigações tanto para empregadores quanto para trabalhadores. O cumprimento do horário laboral é uma obrigação, mas a legislação também exige que os trabalhadores executem as suas funções com zelo e eficiência. Por outro lado, os empregadores têm o dever de fornecer condições adequadas para que os colaboradores desempenhem as suas tarefas de forma eficaz.

Reflexão sobre a cultura organizacional

Este problema é, em grande medida, cultural. A falta de metas claras, supervisão eficaz e ferramentas de avaliação contribui para que a presença física seja confundida com produtividade. Ademais, a ausência de um sistema robusto de Key Performance Indicators (KPIs) torna mais difícil para as organizações medir o desempenho de forma objectiva e justa.

Teletrabalho como solução potencial

O regime de teletrabalho, introduzido em muitos países como resposta à pandemia, tem o potencial de resolver parte desta problemática. Esta modalidade desloca o foco da presença física para os resultados entregues, promovendo flexibilidade e autonomia para os trabalhadores.

Em Moçambique, a implementação do teletrabalho enfrenta desafios específicos, como a falta de infraestrutura tecnológica em muitas regiões e limitações no acesso à internet. No entanto, onde for possível aplicá-lo, o teletrabalho pode ajudar as empresas a adoptarem uma cultura mais orientada a resultados, reduzindo custos e melhorando a motivação dos colaboradores.

Como alinhar Presença e Produtividade?

Para equilibrar a presença física com resultados concretos, as organizações devem:

  1. Definir metas e indicadores: Cada colaborador deve ter objectivos claros e metas mensuráveis, alinhados aos resultados esperados pela organização.
  2. Promover diálogo: A comunicação aberta entre empregadores e trabalhadores é fundamental para alinhar expectativas e reforçar a importância da produtividade.
  3. Investir em capacitação: A formação contínua pode melhorar a competência dos trabalhadores e aumentar a sua contribuição efectiva.
  4. Criar um ambiente motivador: A desmotivação muitas vezes deriva de condições de trabalho insatisfatórias. Melhorar o ambiente organizacional pode impulsionar os resultados.

Reflexão final

A diferença entre “ir ao trabalho” e “ir trabalhar” transcende a semântica, é uma questão de mentalidade e práticas organizacionais. O desafio para as empresas moçambicanas está em criar sistemas que valorizem a produtividade sem desconsiderar a importância da presença.

O teletrabalho, aliado a boas práticas de gestão e alinhado à legislação laboral local, pode ser um caminho viável para promover resultados, especialmente em setores onde a mobilidade e a tecnologia já desempenham um papel fundamental. Contudo, é necessário um esforço conjunto entre empregadores, trabalhadores e legisladores para garantir que as mudanças sejam inclusivas, eficazes e sustentáveis no longo prazo.

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