Nesta entrevista exclusiva ao Profile, Raimundo Zandamela, CEO do Grupo Maximo, compartilha a trajectória e os valores centrais que sustentam a visão de uma das empresas mais inovadoras e dinâmicas do mercado moçambicano. Com uma abordagem 100% digital, o Grupo Maximo tem como propósito transformar o sector de seguros e serviços bancários, oferecendo soluções simplificadas e acessíveis, especialmente voltadas para o segmento de retalho e pequenas e médias empresas (PMEs).
Fundado há mais de 15 anos, o grupo evoluiu de uma consultoria especializada para um conglomerado diversificado, consolidado sob a marca Maximo.
Profile Mozambique: Pode-nos falar um pouco sobre a origem e evolução da Maximo?
Raimundo Zandamela: O grupo vem de uma caminhada de 15 anos, no entanto passou por diversas transformações ao longo do tempo. Iniciamos a nossa jornada em 2010 como uma cosultoria, chamada: Tree Consulting, focada em serviços de contabilidade, assessoria financeira, empresarial e investimentos. A partir dessa base, fomos identificando novas oportunidades e começamos a expandir para outras áreas de mercado, sempre com o objectivo de agregar valor às necessidades do nosso público-alvo.
Com o tempo, começamos a diversificar nossas operações. emergimos para a área de educação, onde criamos o Instituto Médio Politécnico, e em seguida, entramos nos sectores de seguros e banca. Essas duas últimas áreas são especialmente relevantes para nós, pois passaram a fazer parte da nossa identidade através da marca Maximo, que combina as vertentes de seguros e de serviços bancários. Nosso propósito é claro: servir os nossos clientes de forma simplificada e totalmente digital. Focamos em dois segmentos principais de actuação: o segmento de retalho e o segmento de PMEs.
PM: A Maximo é conhecida por actuar em vários segmentos. Poderia descrever os principais segmentos de actuação e os serviços oferecidos?
RZ: Nosso foco está em dois segmentos principais: as Pequenas e Médias Empresas (PMEs) e o sector de retalho, que atende principalmente famílias. Esses dois segmentos são fundamentais para o nosso modelo de negócio.
Primeiro, em relação ao segmento das PMEs, sabemos que esse sector é importante para a economia do país, e há uma grande oportunidade de oferecer soluções personalizadas e adequadas às suas necessidades específicas. No que diz respeito ao retalho, estamos a falar de famílias de classe média e baixa, que representam uma parcela significativa da população.
Acreditamos que cerca de 70% da economia no nosso país é informal, e boa parte dessa população está composta por famílias de média e baixa renda. Percebemos que, nesse contexto, há um descompasso entre as necessidades dessa base populacional e a oferta de produtos no mercado. Muitas das soluções disponíveis são genéricas e não atendem de forma eficaz as especificidades desse público. Por isso, o Grupo Maximo (www.maximo.co.mz) decidiu focar nesses dois segmentos de forma mais especializada.
PM: O que distingue a Maximo dos outros grupos do sector? Quais são os elementos ou valores que sustentam a visão e a operação do grupo?
RZ: O principal diferencial do Grupo Maximo está na nossa capacidade de atender de forma personalizada às necessidades dos nossos clientes, especialmente em um mercado como o nosso, que apresenta diversos desafios. Por exemplo, ainda enfrentamos desafios, relacionados as questões regulatórias e altos custos de adesão aos serviços financeiros, o que, por sua vez, limita o acesso da população a esses serviços. Isso cria um cenário em que muitos players oferecem produtos e serviços semelhantes, mas nem sempre conseguem atender adequadamente a esse público, que precisa de soluções mais acessíveis e eficientes.
Segundo, um dos nossos maiores diferenciais é sermos uma empresa 100% digital. Isso nos permite oferecer uma experiência mais ágil e personalizada, com serviços segmentados de acordo com as reais necessidades dos nossos clientes. Além disso, essa abordagem digital nos permite reduzir custos operacionais, o que se traduz em preços mais competitivos. Com isso, conseguimos oferecer soluções de seguros e serviços financeiros que cabem no orçamento de famílias e PMEs, tornando esses serviços mais acessíveis a um público maior.
Outro ponto importante é que, apesar de o país contar com cerca de 27 seguradoras e 20 bancos, apenas 2% da população tem acesso a seguros, e menos de 30% tem acesso a serviços bancários. Essa realidade abre um grande espaço para nós, e a nossa actuação focada nesse nicho de mercado, especialmente nas classes de média e baixa renda, nos dá uma vantagem competitiva clara. A nossa oferta e o modelo de negócio que estamos a implementar, surge como uma resposta a necessidade urgente de inclusão financeira e de seguros no nosso país.
Portanto, o nosso valor agregado está na combinação de um serviço mais eficiente, mais acessível e altamente segmentado, que visa preencher uma lacuna importante no mercado, com soluções que realmente fazem a diferença para quem mais precisa.
PM: Como o Grupo Maximo lida com a questão da literacia financeira e de seguros, especialmente nas comunidades de baixa renda e no segmento micro, que são mais desafiados pela falta de conhecimento sobre esses produtos?
RZ: No Grupo Maximo, reconhecemos que, para realmente atender às necessidades da população, especialmente nas camadas de baixa renda e no mercado informal, é fundamental trabalhar a educação financeira. Estamos particularmente focados no segmento micro de seguros, que é, sem dúvida, o que mais exige educação e capacitação. Esse segmento enfrenta desafios em termos de compreensão e acesso a produtos financeiros, incluindo seguros, o que torna a literacia financeira um componente essencial da nossa estratégia.
Desenvolvemos uma série de actividades voltadas para a educação financeira, integradas ao nosso modelo de negócio. Nosso portfólio abrange diferentes segmentos, como o corporate, o de retalho e o micro, e trabalhamos com vários parceiros. O nosso objectivo é garantir que, ao oferecer os nossos produtos de seguros e serviços bancários, também ofereçamos um processo educativo que ajude a população a compreender a importância de garantir o seu futuro financeiro.
Quando nos aproximamos das comunidades, não estamos apenas a oferecer um produto ou serviço específico. Começamos sempre com a educação, mostrando a importância da gestão de riscos e do planeamento financeiro. Falamos sobre a necessidade de seguros de vida, seguros de saúde, seguros pessoais, entre outros, e como esses produtos podem ser uma ferramenta fundamental para a protecção do futuro das pessoas e suas famílias.
PM: Com base no trabalho desenvolvido pelo Grupo Maximo em educação financeira e literacia de seguros, é possível avaliar o nível de entendimento da população sobre esses serviços? Estamos em um processo em que as pessoas estão começando a compreender melhor a importância dos seguros?
RZ: Ainda temos um longo caminho a percorrer. Quando olhamos para o histórico de outros sectores, como o da carteira móvel, por exemplo, vemos que em Moçambique esse mercado já está em operação há cerca de 10 a 15 anos, e foi um processo gradual até atingir o nível de consciência que vemos hoje, onde as pessoas já entendem que podem movimentar os seus valores através de um simples número de telefone. No sector de seguros, estamos em um estágio semelhante, mas precisamos de mais tempo e esforço para que a população entenda a importância de aderir a uma apólice de seguro.
Observamos uma aceitação crescente, embora ainda tímida, por parte da população. Quando realizamos nossas campanhas de educação financeira, percebemos que as pessoas começam a entender a necessidade de gerenciar riscos. No entanto, quando chega o momento de adquirir um seguro, especialmente um seguro de vida, há uma resistência. Muitas vezes, outras prioridades acabam sendo colocadas à frente, como o pagamento de despesas imediatas ou necessidades mais urgentes, em detrimento da adesão a uma apólice de seguro.
Isso, para nós, é um desafio. Desde o início de nossas operações, tivemos que adaptar diversos modelos de negócio para acompanhar a dinâmica cultural e o nível de educação financeira da população. O mercado é muito diverso, e precisamos moldar nossas abordagens de forma a se alinhar com a realidade dos nossos clientes. Portanto, posso afirmar que estamos em um estágio de evolução, e ainda temos muito a fazer. No entanto, já podemos perceber um progresso.
Papel das Seguradoras no Financiamento às PMEs
PM: Na sua visão, quais são os principais desafios enfrentados pelas PMEs no acesso ao financiamento?
RZ: O nosso foco está totalmente voltado para as pequenas e médias empresas (PMEs), especialmente no que diz respeito ao acesso aos serviços financeiros. Este é um dos pilares do nosso trabalho, e, já há 15 anos, temos nos dedicado a apoiar esse segmento. Ao longo do tempo, fizemos um levantamento detalhado sobre os desafios enfrentados pelas PMEs, e alguns dos principais obstáculos que identificamos são os seguintes:
- Falta de garantias históricas de crédito: Cerca de 70% do nosso mercado é informal, o que significa que muitos empreendedores não têm histórico de crédito ou garantias formais suficientes para acessar financiamento. Isso limita severamente a capacidade dessas PMEs de obter crédito junto aos bancos, que geralmente exigem comprovações financeiras para a concessão de empréstimos.
- Burocracia e exigências documentais: A burocracia excessiva e as exigências documentais dos bancos. Muitas vezes, as PMEs operam em um regime informal e não possuem a documentação financeira necessária para atender às exigências dos bancos. A falta de estrutura para gerar esses documentos, que são essenciais no processo de solicitação de crédito, impede que muitas PMEs consigam dar esse primeiro passo.
- Taxas de juros elevadas: As taxas de juros no mercado de crédito são extremamente altas, o que torna o financiamento inacessível para muitas PMEs. Em muitos casos, o custo da prestação do empréstimo supera a capacidade de geração de receita das empresas, tornando difícil para essas empresas, manterem a operação viável.
- Informação limitada sobre opções de financiamento: Muitos empreendedores acreditam que a única opção de financiamento disponível é recorrer a um banco ou a uma microfinança. No entanto, existem outras alternativas, como o capital de risco ou os investimentos através da Bolsa de Valores. No entanto, essas alternativas ainda são limitadas e acessíveis apenas a um grupo reduzido de PMEs.
PM: Como as soluções de seguro da Maximo podem apoiar as PMEs na obtenção de financiamento? Existem produtos ou serviços específicos voltados para esse segmento?
RZ: Sim, no Grupo Maximo, trabalhamos para criar um ecossistema que integre tanto serviços bancários quanto seguros. O que queremos dizer com isso é que, ao abordarmos o risco e oferecer soluções para mitigar esses riscos, conseguimos ajudar as PMEs a se tornarem mais aptas a obter financiamento. Actualmente, temos algumas soluções de seguros que podem apoiar as PMEs no acesso ao crédito:
- Seguro de crédito: Em parceria com microbancos e microfinanças, oferecemos o seguro de crédito, que ajuda a credibilizar as PMEs e oferece uma camada adicional de segurança para as instituições financeiras. Esse seguro garante que o risco de inadimplência seja coberto, o que facilita a concessão de crédito.
- Seguro de acidentes pessoais: Sabemos que muitas PMEs são unipessoais, geridas por um único empreendedor. Se esse empreendedor sofrer um acidente e ficar incapacitado, o seguro de acidentes pessoais pode garantir a continuidade do pagamento das dívidas e a operação do negócio, fornecendo uma compensação financeira durante o período de recuperação.
- Seguro de saúde: As PMEs muitas vezes enfrentam situações em que um membro da família ou funcionário adoece, o que pode afectar o fluxo de caixa do negócio. O seguro de saúde para os empreendedores e suas equipas ajuda a proteger a continuidade do negócio, permitindo que os custos com saúde não desvirtuem os recursos do negócio.
PM: Quais são os planos do Grupo Maximo para os próximos anos, especialmente no que se refere ao crescimento e à inovação nos serviços para PMEs?
RZ: Para os próximos anos, o Grupo Maximo tem focos bem definidos de expansão e evolução. O principal deles é a personalização dos nossos produtos, especialmente voltados para o segmento de PMEs. Embora actualmente estejamos a enfrentar algumas limitações, estamos a trabalhar para superá-las. Assim que essas barreiras forem resolvidas, poderemos expandir ainda mais nossos produtos de seguros e serviços bancários, ajustando-os de forma mais personalizada para atender às necessidades específicas de cada cliente.
Outro ponto central é a nossa abordagem 100% digital. Investimos constantemente a investir em tecnologia para aprimorar a oferta de serviços e a experiência do usuário. O objectivo é tornar os nossos processos mais eficientes, simples e acessíveis, para que o cliente tenha uma experiência mais satisfatória ao utilizar nossos produtos, seja em seguros ou em serviços bancários.
A educação financeira continua sendo uma prioridade. Sabemos que a nossa base de clientes precisa de mais capacitação, especialmente no segmento de PMEs, para que possam tomar decisões financeiras informadas. Essa programação de educação financeira será expandida nos próximos anos, com foco em maior alcance e efectividade.
Ademais, temos planos de expansão regional. Actualmente, estamos focando em dois novos mercados: Tanzânia e Zâmbia, que estão no nosso roadmap. Esperamos activar um desses mercados até o final deste ano, com o objectivo de expandir a nossa presença na África.
PM: Para finalizar, há algum aspecto que gostava de referenciar ou destacar?
RZ: Gostaria de convidar todos a se aproximarem do Grupo Maximo para conhecerem os serviços que temos a oferecer. Temos uma grande variedade de soluções, tanto no sector de seguros quanto de serviços bancários, com novidades e produtos personalizados para atender melhor às necessidades de PMEs e famílias. Estamos a investir fortemente em tecnologia, educação financeira e expansão regional, e acredito que os nossos clientes irão perceber as mudanças positivas em breve. Então, convido a todos, a ficarem atentos às nossas novas ofertas e a se beneficiarem das soluções inovadoras que estamos a trazer para o mercado.
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