Os reguladores de energia da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) defenderam, esta segunda-feira, em Maputo, a necessidade de reforçar a cooperação e o planeamento energético entre os Estados-membros, com vista a mitigar os cortes de energia resultantes da insegurança no abastecimento.
Falando na abertura da Semana da Energia e Clima da CPLP, que decorre até sexta-feira na capital moçambicana, o director executivo da Associação dos Reguladores de Energia de Língua Portuguesa (RELOP), Artur Trindade, sublinhou que a segurança do fornecimento deve ser uma prioridade comum.
“Todos nós, de diferentes países, estamos preocupados com a segurança do abastecimento de energia. É fundamental garantir não apenas preços justos, mas também que a energia chegue em quantidade suficiente, a todas as horas, para as empresas e famílias”, afirmou.
O encontro reúne representantes governamentais, reguladores, financiadores, empresas e especialistas em energia e clima, contando com a participação de 29 oradores, delegações de nove países lusófonos e cerca de 120 participantes.

Segundo Trindade, os recentes episódios de apagões em alguns países da CPLP demonstram a urgência de reforçar o planeamento conjunto e os mecanismos de segurança no fornecimento. “Quando há cortes de energia, isso significa que a segurança do abastecimento não foi garantida. Devemos cooperar para que os critérios de planeamento incluam esta dimensão essencial”, destacou.
O responsável apelou ainda ao aumento do investimento privado como via para acelerar a transição energética, num contexto em que o investimento público continua a dominar o sector.
A Semana da Energia e Clima da CPLP é organizada pela Associação Lusófona de Energias Renováveis (ALER) e pela RELOP, entidades que defendem um maior protagonismo da comunidade no debate global sobre energia e clima.
A presidente da ALER, Mayra Pereira, reforçou que a CPLP deve “afirmar-se como um bloco estratégico, dinâmico e coeso, com uma narrativa própria e uma voz activa nas agendas internacionais de financiamento climático”. Segundo a dirigente, a CPLP “tem tudo o que é necessário para se fazer ouvir, representa mais de 300 milhões de pessoas e partilha uma identidade comum”.
Durante o evento, Moçambique apelou ao reforço da cooperação técnica e à promoção da investigação no seio da CPLP, de modo a enfrentar os desafios impostos pela transição energética e pelas alterações climáticas.
O país é considerado um dos mais vulneráveis do mundo aos impactos climáticos, enfrentando inundações e ciclones tropicais recorrentes durante a época chuvosa.
Entre 2000 e 2023, Moçambique registou mais de 75 eventos climáticos extremos, que resultaram em perdas económicas superiores a 3,8 mil milhões de euros, segundo dados do Governo. Recentemente, as autoridades aprovaram o plano de contingência para a época chuvosa 2025/2026, que poderá afectar até 1,2 milhão de pessoas, embora os recursos disponíveis cubram menos de metade dos 14 mil milhões de meticais (cerca de 190 milhões de euros) necessários.
Em Setembro, o Governo moçambicano alertou para o risco de cheias em larga escala e a inundação de cerca de quatro milhões de hectares de terras agrícolas, num cenário que reforça a urgência da cooperação energética e ambiental no espaço lusófono.