Moçambique apresenta um sector mineiro a duas velocidades, enquanto fileiras exportadoras consolidadas, como as areias pesadas e os rubis, registam sinais claros de dinamismo e crescimento, a indústria do grafite enfrenta interrupções operacionais e persistentes incertezas no mercado.
Nos minerais pesados, a Kenmare Resources, que opera a mina de Moma (ilmenite, zircão e rutilo), reportou que a produção do primeiro semestre decorreu em linha com o plano anual, reforçando o papel do corredor norte na balança de exportações do país e mitigando a volatilidade de preços internacionais. A empresa antecipou a sua actualização de produção de Q2/H1 2025, sustentando guidance anual e indicando disciplina operacional mesmo num contexto de custos logísticos e energéticos pressionados.
No rubi, a Montepuez Ruby Mining (MRM), controlada pela Gemfields, iniciou 2025 com resultados robustos em leilões de gemas em Bangkok, o certame de Abril somou mais de 68 milhões de dólares, com uma taxa de venda de praticamente 100%, confirmando a resiliência da procura e a retoma operacional após constrangimentos de segurança em Cabo Delgado. Estes encaixes fortalecem receitas fiscais e parafiscais da cadeia extractiva, e ajudam a compensar ciclos menos favoráveis noutros minérios.

Entretanto, no grafite, mineral crítico para baterias, o quadro é misto. A Twigg Exploration (subsidiária da Syrah Resources) detém a operação de Balama, uma das maiores reservas mundiais, mas a empresa reportou paralisações intermitentes em 2025 devido a protestos comunitários e condições de mercado, com suspensão das actividades em Abril e avaliação de um reinício faseado condicionado à procura e ao ambiente local. Mesmo com o activo de classe mundial, o negócio segue exposto a ciclos de preço, concorrência asiática e desafios de licenciamento social. Em paralelo, continuam movimentos corporativos: em Fevereiro, a canadiana Global Li-Ion Graphite assinou um MoU exclusivo para adquirir 100% do projecto Montepuez Graphite, sinalizando apetite por activos em Moçambique apesar da volatilidade sectorial.
No carvão metalúrgico e térmico de Tete, a Vulcan Mozambique (que assumiu os activos da Vale em Moatize e no Corredor de Nacala) mantém o foco em eficiência e expansão de capacidade logística. Em 2025, a empresa e autoridades moçambicanas discutem o aumento do escoamento ferroviário e melhorias de segurança operacional, com a Vulcan a sublinhar a importância do activo para empregos e exportações e a AIM a assinalar o compromisso do Governo em destravar gargalos e atrair novo investimento no cluster mineiro de Tete. Em paralelo, a Jindal reafirmou a intenção de alongar a vida útil da mina e modernizar operações, inserida numa estratégia de maior integração logística.

No plano regulatório, o Executivo avançou em Maio com a apresentação pública do ante-projecto da Lei de Conteúdo Local, proposta que abrange também a mineração e visa maximizar encadeamentos com a economia nacional por via de quotas de bens e serviços, transferência de competências e metas de emprego. A revisão pretende conciliar competitividade com maior valor acrescentado doméstico, tema sensível para as províncias mineiras onde a pressão por benefícios tangíveis é elevada. A par disso, o Instituto Nacional de Minas (INAMI) prossegue a digitalização do cadastro mineiro, instrumento central para previsibilidade regulatória, transparência na atribuição de títulos e monitoria ambiental e social.
Do lado das finanças públicas e da transparência, a plataforma da Iniciativa para a Transparência nas Indústrias Extractivas (EITI) indica que a mineração, a par de hidrocarbonetos, continua a ser uma fonte material de receitas e exportações, com relatórios recentes a documentarem pagamentos, receitas e beneficiários efectivos, elementos que informam a discussão sobre repartição de benefícios e governação local. Para 2025, a expectativa do Governo e de parceiros é consolidar a conformidade EITI, integrando dados fiscais e parafiscais e reforçando a prestação de contas ao nível provincial.
Em síntese, o semestre arranca com três eixos claros. Primeiro, continuidade operacional nas cadeias de rubis e areias pesadas, com leilões fortes e produção estável a sustentar receitas e emprego. Segundo, necessidade de estabilizar o grafite, activo estratégico para a transição energética, por meio de diálogo comunitário, competitividade e contratos de longo prazo, num mercado global sujeito a excesso de oferta e políticas industriais de grandes economias.
Terceiro, agenda regulatória e institucional a ganhar tracção (conteúdo local, cadastro digital, padrões EITI), condição para atrair capital paciente e mitigar riscos ESG. A equação para o resto de 2025 passa por executar projectos com disciplina, reduzir fricções logísticas e sociais e garantir que cada novo dólar investido em mineração gere mais encadeamentos na economia real, da logística à metalomecânica, da formação técnica à tecnologia de monitoria ambiental.
Fonte: Proactive InvestorsTwigg Exploration & Mining LimitadaJunior Mining Network
Fonte: Global Energy MonitorBloomberg
Fonte: Syrah Resources