- Rácio de solvabilidade fixou-se em 26,5%, mais do que o dobro do mínimo regulamentar (12%);
- Rácio de liquidez alcançou 59,5%, bem acima do mínimo exigido (25%);
- Testes de esforço indicam capacidade do sector para absorver choques e manter capitalização;
- Risco sistémico é considerado moderado, mas com atenção à crescente exposição à dívida pública;
- Dívida pública interna aumentou para 445,9 mil milhões de meticais, mais 30,3 mil milhões face a Dezembro de 2024.
O sector bancário moçambicano apresenta-se sólido e resiliente, sustentado por indicadores robustos de solvabilidade e liquidez, mesmo perante um ambiente marcado por pressões fiscais crescentes e ajustamentos na política monetária. Esta foi a principal conclusão do Comité de Política Monetária (CPMO), reunido a 30 de Maio de 2025, que destacou também a existência de riscos sistémicos moderados, com origem na crescente exposição dos bancos à dívida pública interna.
Solvabilidade e liquidez: Pilares de confiança
Segundo o último comunicado do Comité de Política Monetária do Banco de Moçambique (CPMO), o rácio de solvabilidade do sistema bancário atingiu 26,5% em Março de 2025, valor significativamente superior ao mínimo regulamentar de 12%, evidenciando uma forte capacidade de absorção de perdas. Já o rácio de liquidez fixou-se em 59,5%, mais do que o dobro do limiar mínimo de 25%.
Estes resultados reflectem uma gestão prudente por parte dos bancos e confirmam a estabilidade operacional do sector, mesmo num contexto de ajustamento da taxa MIMO e redução das taxas de juro de referência.
Testes de esforço e avaliação do risco sistémico
O Banco de Moçambique realizou também testes de esforço de solvência macroprudencial, simulando choques adversos ao sistema. Os resultados mostram que o sector dispõe de reservas de capital suficientes para absorver perdas inesperadas e manter os níveis de capitalização no médio prazo, consolidando a confiança no sistema financeiro.
Apesar desta robustez, a avaliação do risco sistémico, que analisa o potencial efeito de contágio de falhas bancárias sobre todo o sistema, é classificada como moderada. Esta classificação decorre, em parte, da redução das taxas de juro e da diminuição do volume de crédito em incumprimento, factores que aliviam a pressão sobre o sistema.
Alerta: Exposição a dívida pública interna em aumento
Um dos focos de preocupação apontado pelo CPMO é a subida da exposição do sector bancário ao endividamento público interno. Excluindo os contratos de mútuo, de locação e responsabilidades em mora, a dívida pública interna atingiu 445,9 mil milhões de meticais, representando um acréscimo de 30,3 mil milhões desde Dezembro de 2024.
Este crescimento poderá comprometer a diversificação das carteiras dos bancos e reduzir o espaço de crédito ao sector privado. Além disso, aumenta a correlação entre a saúde das contas públicas e a estabilidade do sistema bancário, uma dinâmica que o Banco Central continuará a monitorizar com atenção.
Depreende-se que o sector bancário moçambicano mantém uma posição sólida e resiliente, com capacidade comprovada para enfrentar choques e sustentar a confiança dos depositantes e investidores. Contudo, os sinais de alerta quanto ao endividamento público e à sua interligação com os balanços dos bancos requerem vigilância e coordenação entre política fiscal e monetária. A contenção do risco sistémico dependerá, cada vez mais, da disciplina macroeconómica e da solidez das instituições financeiras.