Quinta-feira, Dezembro 19, 2024
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Suzan Manungo: “Sem reinventar a roda, queremos apoiar a próxima geração de líderes financeiros”

Suzan Manungo, Gestora Financeira, com ampla experiência em gestão financeira operacional, estratégica e governança corporativa. Com 13 anos de experiência a actuar no sector financeiro, destacou-se pela habilidade de transformar desafios em oportunidades e pela dedicação ao crescimento sustentável nas organizações em que actua.

Profile Mozambique: Como tem sido o seu percurso profissional no mercado nacional?

Suzan Manungo: Com 13 anos de experiência no sector financeiro, comecei minha carreira na indústria de telecomunicações, trabalhando para um dos principais operadores do mercado. Inicialmente, actuei na área de suporte financeiro operacional, focada na colecta de dados financeiros e na transformação desses dados em informações úteis para a elaboração de relatórios financeiros.

Mais tarde, tive a oportunidade de progredir para uma função de controle, onde fui responsável pela preparação dos dados e pela produção de relatórios financeiros confiáveis, que pudessem ser utilizados em processos de tomada de decisão e desenvolvimento de estratégias empresariais. Recentemente, passei por uma transição significativa na minha carreira, mudando o foco do suporte operacional para um papel mais estratégico, actuando como parceira e aliada do conselho de administração e dos accionistas da instituição onde estou em exercício actualmente.

Considero essa transição um momento marcante da minha carreira, algo que consegui alcançar graças à minha vasta experiência operacional. No entanto, essa mudança mostrou-me que a progressão de carreira não é apenas vertical ou baseada apenas em competências técnicas. Foi necessário desenvolver habilidades além dos chamados “hard skills”, precisei aprender a pensar estrategicamente, exercer liderança e ter uma visão holística do negócio. Essa evolução foi crucial para o meu crescimento profissional e para a posição que ocupo hoje.

PM: Qual foi a temática da sua contribuição para este CFO (Finance Executive Summit)?

SM: No painel em que participei, partilhei um pouco sobre como consegui transformar os desafios que encontrei ao longo da minha carreira em oportunidades. Um dos grandes desafios que destaquei foi a necessidade de fazer uma transição de uma função predominantemente operacional para um papel mais estratégica. Durante esse processo, percebi que uma das habilidades essenciais em que deveria focar era o engajamento. Precisava sair do foco exclusivo nos números, deixar de lado a planilha de Excel e o escritório, e passar mais tempo no campo para entender os factores que poderiam influenciar os resultados financeiros que depois teríamos que reportar.

Numa outra abordagem, reflecti sobre quais factores poderiam expor a instituição que represento a riscos e como, ao apresentar relatórios ao Conselho de Administração, eu poderia não apenas reportar sobre eventos passados, mas também antecipar como as tendências do mercado poderiam afectar o futuro da nossa empresa e os resultados que apresentamos. Em outras palavras, tive que desenvolver uma visão de futuro (“forward-looking”) e aprender a engajar stakeholders internos e externos, identificando aqueles com informações essenciais para o nosso negócio. Isso não só me ajudou a agregar valor à instituição, mas também contribuiu para o meu próprio crescimento profissional.

Essa abordagem me permitiu expandir minha rede de contactos e ampliar meu conhecimento sobre a área em que atuo e outras áreas correlacionadas. Isso será de mais-valia para eu poder actuar em diferentes indústrias.

PM: Como os CFOs podem desenvolver a capacidade de “conectar os pontos” no actual ambiente económico de Moçambique, e quais estratégias são mais eficazes para identificar e mitigar riscos em meio a uma política monetária restritiva?

SM: Acredito que um dos grandes desafios que enfrentamos como CFOs é a capacidade de conectar os pontos. Precisamos entender o que está acontecer no sector económico e como podemos contribuir de maneira eficaz para as instituições que servimos.

Actualmente, operamos em um ambiente de política monetária bastante restritiva. Assim, cabe a nós, CFOs, encontrar maneiras de atender às necessidades de financiamento de nossas instituições, ao mesmo tempo em que protegemos nossos activos e passivos neste cenário desafiador. Precisamos ser capazes de compreender e antecipar os impactos que essas políticas monetárias podem ter em nossas operações.

Nosso papel envolve ir ao campo para identificar esses factores e usar esse know-how, para proteger os interesses financeiros da nossa organização. É essencial mantermos um diálogo constante com os reguladores das áreas em que actuamos e estar atentos ao que acontece politicamente em nosso país. Precisamos, portanto, mudar nosso mindset e nos posicionar nos lugares certos, onde as conversas importantes oocorrem e onde as decisões cruciais são tomadas. É nesses espaços que podemos identificar tanto as oportunidades quanto os riscos para os nossos negócios.

PM: Como os CFOs podem se organizar e fortalecer sua influência colectiva no mercado moçambicano para garantir que suas vozes sejam ouvidas nas decisões políticas e económicas que afectam o sector financeiro?

SM: Em termos de oportunidades, acredito que estamos em um momento em que podemos nos unir para ter uma voz mais forte e representativa. Existem diversas vozes que defendem diferentes interesses, mas, como vimos neste workshop, nós, CFOs, ainda não temos essa união sólida que nos permita influenciar de forma significativa o rumo de algumas decisões que afetam nossa actuação como profissionais financeiros.

Vejo isso como uma nova realidade para os profissionais do sector, e acredito que, quanto mais cedo nos prepararmos para essa realidade e nos unirmos, maior será nossa capacidade de formar uma comunidade coesa e influente. Essa união nos permitirá, nos próximos anos, ter um impacto significativo e ser uma voz forte nas decisões que são tomadas em nosso país. Acredito que esta é uma oportunidade única para nós, como CFOs, moldarmos o futuro do sector financeiro em Moçambique.

PM: Como os CFOs podem se preparar para mitigar os riscos associados a possíveis oscilações cambiais negativas, considerando a dependência de importações e o impacto potencial sobre a liquidez das empresas no mercado moçambicano?

SM: Trata-se de um cenário bastante arriscado, especialmente porque está fora do nosso controle directo. Como profissionais financeiros, precisamos saber como nos posicionar diante de algo que não controlamos.

Precisamos entender até que ponto podemos antecipar as flutuações no mercado e na economia que podem surgir desse posicionamento conservador que temos observado por parte do regulador. É importante considerar que muitos de nós temos, em nossos livros contabilísticos, dívidas em moeda estrangeira. Se o cenário actual, que parece ser estável devido a um câmbio administrado “vier a se alterar” isso poderia comprometer nossa liquidez.

Enfrentamos, portanto, um cenário desafiador que exige de nós a máxima atenção para garantir que tenhamos liquidez suficiente para lidar com qualquer oscilação negativa que a situação cambial possa apresentar.

PM: E que impactos uma possível oscilação cambial negativa poderia ter no sector empresarial e no sector empreendedor mais informal?

SM: Se houver uma oscilação negativa no câmbio, fazer negócios se tornará muito mais difícil. Para aqueles que já estão a operar, será um desafio ainda maior cumprir com suas responsabilidades financeiras, pois o custo de todas as obrigações aumentará. E isso pode comprometer a capacidade de atender a essa demanda adicional.

Para os que não estão actualmente em uma situação de endividamento, mas que pretendem continuar a fazer negócios, adquirir bens e serviços se tornará significativamente mais caro. Estamos em um contexto em que nossa balança comercial é altamente desproporcional, a maioria dos serviços e bens precisam ser importados. Portanto, uma oscilação negativa no câmbio pode comprometer a capacidade de muitas instituições de cumprir os compromissos assumidos com seus clientes, devido ao aumento constante dos custos para adquirir esses bens e serviços.

PM: Como sugere que futuros CFOs desenvolvam a habilidade de sair da zona de conforto e assumam riscos calculados para alcançar um crescimento significativo em suas carreiras?

SM: Acredito que, em primeiro lugar, é fundamental se juntar a esta iniciativa. Participar eem fóruns como Finance Executive Summit, nos permite ouvir os testemunhos de profissionais já renomados e estabelecidos na área financeira. Durante o evento, foram partilhadas recomendações de capital relevo que todos devem considerar. Precisamos ter uma visão clara do nosso futuro. Ao sairmos da faculdade e ingressarmos no mercado de trabalho, é essencial entender onde queremos chegar e quais objectivos precisamos definir para alcançar essa visão.

Também é importante estarmos dispostos a sair da nossa zona de conforto. Não obteremos resultados diferentes ou melhores se continuarmos a fazer as mesmas coisas, a ter as mesmas atitudes, e a permanecer nos mesmos lugares. É crucial ter visão, definir objectivos claros, e ter disposição para sair da nossa zona de conforto e se conectar com a comunidade financeira que já existe. Não estamos a reinventar a roda, há profissionais experientes que estão dispostos a acolher novas perspectivas e apoiar potenciais novos líderes financeiros.

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