Tuesday, October 28, 2025
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TotalEnergies propõe extensão de 10 anos da concessão em Cabo Delgado para compensar prejuízos de US$ 4,5 mil milhões

A TotalEnergies propôs ao Governo moçambicano a extensão por 10 anos da concessão do megaprojecto de gás natural liquefeito (GNL) na Área 1 da Bacia do Rovuma, em Cabo Delgado. A empresa francesa alega prejuízos de US$ 4,5 mil milhões devido à suspensão das operações durante quatro anos sob cláusula de força maior, decretada após os ataques terroristas de 2021.

Uma compensação pela paragem forçada

A proposta consta de uma carta assinada pelo presidente da TotalEnergies, Patrick Pouyanné, endereçada ao Presidente da República, na qual a empresa formaliza o pedido de prorrogação do período de desenvolvimento e produção do campo Golfinho-Atum por uma década.

“A concessionária exige respeitosamente que o Governo conceda uma prorrogação (…) por uma duração de 10 anos”, lê-se na carta, justificando que a medida visa “compensar parcialmente o impacto económico” da suspensão prolongada.

A correspondência confirma também o levantamento da cláusula de força maior, permitindo a remobilização de pessoal e equipamentos em Afungi. Segundo a petrolífera, as condições de segurança estão restabelecidas, criando o ambiente necessário para o relançamento integral do projecto.

Orçamento e cronograma revistos

O documento indica que a TotalEnergies submeteu ao Ministério da Energia o novo orçamento e cronograma, aguardando aprovação do Conselho de Ministros.

“A aprovação deste orçamento revisto cobrirá os custos incrementais incorridos pelo projecto devido a eventos de força maior, que totalizam US$ 4,5 mil milhões”, refere a carta.

A petrolífera recorda que o Governo realizou uma auditoria ao período 2021–2024, cujo relatório ainda é aguardado. A proposta contempla igualmente a optimização das obrigações financeiras da ENH, a empresa estatal moçambicana integrante do consórcio.

Impacto sobre o cronograma e receitas futuras

O período de paralisação alterou substancialmente o calendário de execução: a primeira entrega de GNL, antes prevista para Julho de 2024, foi reagendada para o primeiro semestre de 2029.

Este atraso empurra para o fim da década o início das exportações de gás e o consequente fluxo de receitas fiscais para o Estado moçambicano, um factor que poderá ter implicações significativas nas projecções macroeconómicas do país.

Mercado global de GNL em transformação

A proposta surge num contexto de profunda reconfiguração do mercado internacional de gás natural liquefeito. Segundo o director executivo da Agência Internacional de Energia (IEA), Fatih Birol, o mundo assiste a uma “mudança estrutural” no sector, com a rápida expansão da oferta global a transformar o mercado de vendedores num mercado de compradores, provocando queda dos preços e revisões de estratégias comerciais.

Patrick Pouyanné, CEO da TotalEnergies.

Para a TotalEnergies, o prolongamento da concessão em Moçambique é também uma forma de ajustar o horizonte financeiro do projecto às novas condições do mercado, preservando a rentabilidade num cenário de pressão competitiva crescente.

Relevância estratégica e desafios de governação

Para Moçambique, o relançamento do Mozambique LNG representa simultaneamente um sinal de confiança internacional e um desafio de governação económica.
O Governo terá de equilibrar a necessidade de atrair investimento estrangeiro directo com a protecção do interesse nacional, assegurando condições justas para a ENH, conteúdo local efectivo e distribuição equitativa das receitas futuras.

Especialistas alertam que qualquer extensão deverá incluir cláusulas de desempenho, metas de investimento e compromissos sociais claros, de modo a garantir que os benefícios do gás se traduzam em crescimento inclusivo, industrialização e criação de emprego.

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