Sexta-feira, Junho 6, 2025
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Relatório do Banco de Moçambique apresenta inflação controlada, juros em queda mas potenciais riscos fiscais

Em tempos de incerteza económica global, Moçambique apresenta sinais encorajadores de estabilidade de preços e solidez do sistema financeiro, apesar de desafios persistentes a nível interno. A análise mais recente do Banco de Moçambique (BM), publicada no Relatório de Conjuntura Económica e Perspectivas de Inflação (CEPI) de Maio de 2025, oferece uma leitura clara das dinâmicas que moldam o nosso ambiente económico, com base exclusivamente na informação constante desse documento.

A inflação anual em Moçambique caiu para 3,99% em Abril de 2025, face aos 4,77% registados no mês anterior. Esta trajectória descendente foi impulsionada pela redução dos preços de alimentos, sobretudo frutas e vegetais, e pelo impacto de medidas como a isenção do IVA sobre produtos básicos (açúcar, óleo alimentar e sabão) e a redução das tarifas de água e portagens. A estabilidade do Metical face ao Dólar americano (63,91 MZN/USD) reforça este ambiente de contenção inflacionária.

A inflação subjacente – que exclui frutas, vegetais e bens com preços administrados – também recuou, fixando-se em 4,73%. As expectativas macroeconómicas dos agentes económicos, apuradas pelo inquérito de Maio, indicam uma previsão de inflação anual de 4,90% até Dezembro, ligeiramente abaixo da estimativa anterior.

Como resposta à consolidação da inflação em níveis baixos, o Comité de Política Monetária (CPMO) decidiu reduzir a taxa MIMO de 11,75% para 11,00%. Foram igualmente reduzidas as taxas de juro da Facilidade Permanente de Cedência de Liquidez (para 14,00%) e da Facilidade Permanente de Depósitos (para 8,00%).

Este ajustamento teve reflexos no mercado: as taxas de juro dos bilhetes do Tesouro para prazos de 91, 182 e 364 dias caíram entre 13 e 40 pontos base. As taxas médias praticadas nos empréstimos e depósitos a retalho também diminuíram, sinalizando melhores condições de financiamento. O crédito à economia cresceu 5,12% em Abril de 2025, evidenciando uma resposta positiva ao alívio das condições monetárias.

Excluindo o sector do gás natural liquefeito (GNL), a economia moçambicana mantém um ritmo de recuperação gradual. As perspectivas para o segundo trimestre de 2025 são de crescimento modesto, sustentado pela retoma da agricultura, indústria transformadora e comércio. Esta evolução é atribuída, em parte, ao fim da tensão pós-eleitoral e à melhoria dos indicadores de confiança empresarial, como o Purchasing Managers Index (PMI).

Apesar de progressos em várias frentes, o peso da dívida pública interna continua a ser motivo de atenção. Entre Dezembro de 2024 e Maio de 2025, o stock da dívida interna (excluindo contratos de mútuo, de locação e responsabilidades em mora) aumentou em cerca de 30 mil milhões de meticais, totalizando 445,9 mil milhões – o equivalente a 28,6% do PIB.

Em contraste, o sector bancário demonstra resiliência. Em Março de 2025, os rácios de solvabilidade e liquidez situaram-se em 26,5% e 59,5%, respectivamente, bastante acima dos mínimos regulamentares exigidos (12% e 25%). Testes de esforço realizados pelo BM confirmam que os bancos moçambicanos dispõem de capital suficiente para absorver choques e manter-se estáveis no médio prazo.

No plano internacional, o ambiente económico continua marcado por incertezas. O FMI prevê um abrandamento do crescimento mundial para 2,8% em 2025, com impacto das tensões comerciais entre os EUA e os seus parceiros, do conflito entre a Rússia e a Ucrânia e de fenómenos climáticos extremos. Ainda assim, a redução dos preços internacionais de bens alimentares e combustíveis, combinada com a descida dos preços das importações moçambicanas (arroz, trigo, petróleo), favorece a trajectória de contenção da inflação interna.

A médio prazo, o Banco de Moçambique antevê a manutenção da inflação dentro da meta de um dígito. Este cenário é sustentado por um conjunto de factores: a estabilidade do Metical, o impacto das medidas fiscais pontuais, a tendência para queda dos preços internacionais, e a actuação preventiva do CPMO. Contudo, persistem riscos relevantes, como o agravamento da situação fiscal, a incerteza quanto à reposição da capacidade produtiva e os efeitos dos choques climáticos sobre a produção e as infra-estruturas.

 

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