Depois dos ataques na semana passada em Cabo Delgado, onde encontra-se o maior a investimento de gás da petrolífera Total ,  Moçambique tornou-se o país mais arriscado para os investidores na dívida soberana africana.

De acordo com a contabilização feita pela agência de informação financeira Bloomberg, a diferença para os custos de transacionar os títulos do Tesouro norte-americano é a mais elevada de todos os países africanos, com exceção da Zâmbia, que está em Incumprimento Financeiro.

Os juros exigidos pelos investidores para transacionarem os títulos da dívida soberana de 900 milhões de dólares (767 milhões de euros) ultrapassaram a barreira dos 10% na segunda-feira, tornando-se os mais arriscados numa lista de 15 títulos africanos, entre os quais estão também os títulos da Etiópia e de Angola.

Na segunda-feira, o economista chefe da consultora Eaglestone salientou à Lusa que o atraso no desenvolvimento dos projetos de extração e exportação de gás natural liquefeito “é preocupante porque o país precisa das receitas do gás” para poder suportar o aumento dos custos com as prestações da dívida soberana, que vão subir para 9% ao ano a partir de 2024.

“A partir de 2024 as taxas de juro sobre as Eurobond (emissão de dívida soberana) aumentam para 9% e isto poderá colocar algum risco sobre a capacidade de o país vir a pagar os seus compromissos”, afirmou o analista, referindo o aumento dos juros exigidos pelos investidores para transacionarem a dívida do país.

“O aumento das taxas reflete alguma apreensão pelos investidores sobre a capacidade das autoridades moçambicanas de conseguirem conter essa escalada de insegurança na região”, explicou.

O projeto da Total “deverá gerar receitas em torno dos 96 mil milhões de dólares (81,5 mil milhões de euros) nos próximos 25 anos, segundo as estimativas do Governo, e isto é muito significativo tendo em conta que o Produto Interno Bruto do país ronda os 15 mil milhões de dólares”, cerca de 12,7 mil milhões de euros.

Sobre o Projecto LNG

O projeto Mozambique LNG consiste na exploração de gás ao largo da costa no campo Golfinho-Atum, na Área 1 da bacia do Rovuma, bem como na construção de uma central em terra.

A petrolífera francesa Total é a maior detentora do projeto, com 26,5%, seguida da Empresa Nacional de Hidrocarbonetos, com 16,5%, e mais cinco entidades multinacionais, com participações menores.

O projeto deverá começar a exportar gás em 2024, ano em que é previsível que as receitas do país subam exponencialmente, financiando os investimentos para o desenvolvimento económico de Moçambique.

A província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, é desde há cerca de três anos alvo de ataques terroristas e o último aconteceu no passado dia 24, em Palma, em que dezenas de civis foram mortos, segundo o Ministério da Defesa moçambicano.

A violência está a provocar uma crise humanitária com quase 700 mil deslocados e mais de duas mil mortes.

O movimento terrorista Estado Islâmico reivindicou na segunda-feira o controlo da vila de Palma, junto à fronteira com a Tanzânia.

Vários países têm oferecido apoio militar no terreno a Maputo para combater estes insurgentes, cujas ações já foram reivindicadas pelo autoproclamado Estado Islâmico, mas, até ao momento, ainda não existiu abertura para isso, embora haja relatos e testemunhos que apontam para a existência de empresas de segurança e de mercenários na zona.

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