O Banco de Moçambique (BdM) revelou, em seu relatório anual de 2023, que mais de 80% do capital social dos bancos no país até o final de 2023 era de origem estrangeira. A participação estrangeira, proveniente de países como África do Sul e Portugal, totalizou 46,1 mil milhões de meticais, correspondendo a 82,6% do capital social total dos bancos moçambicanos. O restante, equivalente a 9,7 mil milhões de meticais, representa o volume de participação de cidadãos moçambicanos.
De acordo com o BdM, o Banco Comercial e de Investimentos (BCI), liderado pelo grupo português Caixa Geral de Depósitos, manteve-se como a instituição com maior capital social, com um total de 10 mil milhões de meticais.
Domínio de capital estrangeiro
O relatório destaca que, em termos de proporção de propriedade por país, o capital sul-africano continuou a dominar o sistema financeiro de Moçambique, representando cerca de 29,5% do capital bancário. Em seguida, o capital português correspondeu a 25,3%, uma leve diminuição em relação aos 26,7% registados em 2022. A participação dos moçambicanos foi de 17,4%, enquanto a da Namíbia foi mínima, com apenas 0,002%.
Apesar da forte presença de capital estrangeiro, o Banco de Moçambique apontou que o sistema bancário continua estável e bem capitalizado. O banco central ressaltou que a presença de investidores estrangeiros tem sido importante para a solidez do sector, ajudando a manter o sistema financeiro resiliente e competitivo.
Concentração de activos e redução na concentração de depósitos e créditos
Outro ponto abordado no relatório foi a tendência de redução da concentração dos activos, créditos e depósitos nos cinco maiores bancos do país. Em 2023, os cinco maiores bancos concentraram 75,7% dos activos totais, 72,1% do crédito e 81,4% dos depósitos. Esses números representam uma redução em relação aos valores de 2022, quando a concentração foi maior. A redução foi de 2,1 pontos percentuais nos activos, 0,4 pontos percentuais no crédito e 0,6 pontos percentuais nos depósitos.
Essa diminuição da concentração é vista como um sinal positivo para a concorrência no sector bancário, o que pode gerar benefícios para os consumidores, como melhores ofertas e serviços financeiros mais acessíveis.
Perspectivas para o sistema bancário
O Banco de Moçambique destacou ainda que, apesar da forte participação estrangeira, o sistema bancário se manteve estável, resiliente, bem capitalizado e com níveis satisfatórios de rentabilidade em 2023. O crescimento dos activos e o aumento dos lucros reforçam a saúde do setor. Além disso, o rácio de solvência do sistema bancário permanece acima do dobro do nível mínimo exigido, o que atesta a segurança e a robustez das instituições financeiras.
O BdM também reforçou que a estabilidade do sistema bancário é um factor fundamental para o desenvolvimento económico de Moçambique. O investimento estrangeiro tem sido fundamental para garantir a continuidade de serviços financeiros eficientes e seguros, além de contribuir para a expansão do acesso ao crédito e outros produtos bancários no país.
Em suma, o relatório de 2023 do Banco de Moçambique reflete um sistema bancário sólido e bem estruturado, com uma significativa participação de capital estrangeiro, o que aponta para a confiança de investidores internacionais na economia moçambicana, ao mesmo tempo que destaca um movimento em direcção a uma maior descentralização e concorrência no sector financeiro.