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Marco Abalroado: “Disponibilizamos uma linha de crédito avaliada em $50 Milhões para potenciar o Conteúdo Local”

O Profile esteve à conversa com Marco Abalroado, Administrador Delegado do Acess Bank, a margem da assinatura de memorando, entre Acess Bank e Associação de Conteúdo Local de Moçambique (ACLM), que preconiza a conjugação de esforços e sinergias para a facilitação do acesso ao financiamento da PME’s nas cadeias de valor das oportunidades dos megaprojectos do sector energético e da indústria extractiva de petróleo & gás para o empoderamento do conteúdo local e promoção de crescimento económico sustentável do país através de capacitação financeira da comunidade empresarial, com foco especial nas regiões de Cabo Delgado e Inhambane.

Profile Mozambique: Como se concretiza na prática a assinatura do memorando de entendimento entre a Associação de Conteúdo Local de Moçambique (ACLM) e o Access Bank, que visa disponibilizar uma linha de financiamento para Pequenas e Médias Empresas (PMEs) no âmbito do conteúdo local em Moçambique?

Marco Abalroado: Obviamente que o primeiro passo, é darmos as condições necessárias para as empresas que possam ter acesso ao crédito, de maneira que possam crescer e responder a muitos destes projectos que temos hoje em dia. Portanto, o primeiro passo foi este, é existir um acordo formal para não só capacitar as empresas do ponto de vista de inclusão financeira, mas também perceberem como é que funciona o mercado financeiro, e o que é necessário para terem acesso ao crédito, para terem acesso a depósitos, e com base nisso criar as bases para começarmos a capacitar as nossas empresas, nomeadamente as pequenas e médias, para estarem preparadas para responder aos mais variados projectos, neste caso, específicos.

De realçar que estamos muito focados, obviamente, em Cabo Delgado e em Pemba, nos megaprojectos do Oil & Gas, mas o objectivo é criarmos a capacidade para que as pequenas e médias empresas possam responder ao mercado. E como é que criamos?

Como foi referido, muitas vezes não há capital que é necessário para dar um impulso as PMEs e dinamizarem as sua actividades e o que nós estamos a tentar fazer é criar produtos e serviços que estão talhados para estas empresas, e que consigamos criar um acesso mais facilitado ao crédito e uma capacitação das próprias empresas ao mesmo tempo.

PM: Em termos financeiros, qual será o montante total de crédito que será disponibilizado às empresas por intermédio do acordo?

MA: Nós temos um pacote de pequenas e médias empresas, que no seu todo está a volta dos 50 milhões de dólares. Óbvio que nós gostávamos de emprestar 50 milhões de dólares de uma só vez, mas isso não é possível.

Este pacote vai ser usado ao abrigo de acordos tripartidos, em que temos as grandes empresas também a tomar uma responsabilidade sobre o risco das pequenas e médias, mas acreditamos que, assim que conseguirmos criar a consciência da importância das empresas se formalizarem, a importância de terem contas organizadas e de terem o mínimo necessário para responder a estes projectos, que a linha vai começar a ser utilizada de uma forma muito forte.

PM: Dada a situação de terrorismo que afecta a Província de Cabo Delgado, como a população local poderá se identificar e acessar os benefícios oferecidos por este programa?

MA: Vamos ver, isso não é só o Access Bank, são todas as instituições financeiras, acho que é da nossa responsabilidade, enquanto instituições financeiras, tentarmos criar o máximo de apoio possível às populações para resolver os problemas do dia-a-dia, sejam a pequenas e médias, a grandes ou a particulares. Também a responsabilidade dos bancos ultrapassa só a parte financeira da resposta que temos de dar.

Portanto, aquilo que nós temos de criar, obviamente, é de conseguir perceber quais são os produtos necessários, quais são as necessidades reais da população e depois criar produtos e serviços que nos permitam fazer isso. Estamos, sim, a partir de uma situação difícil, portanto, o ponto de partida muitas vezes é bastante mais baixo que noutras províncias que temos no país e temos de ter isso em consciência. Temos de perceber que há uma curva de crescimento, e nós temos de criar produtos que permitam às pequenas e médias empresas, mas também aos particulares, que permitem participar neste ciclo de vida que quer os particulares, quer as empresas têm no futuro próximo.

E penso que, não estamos numa situação muito fácil, já foi mais difícil, e acho que o Governo tem feito bastante para estabilizar, e estamos cada vez mais zonas estáveis na província de Cabo Delgado, mas acredito que também com a dinamização da economia vamos criar uma estabilidade adicional.

As duas coisas estão muitas vezes, parece que não estão ligadas, mas estão muitas vezes ligadas.

PM: Considerando os encargos fiscais que frequentemente sufocam as PMEs, quais são as exigências e regulamentações que serão implementadas para permitir a entrada das PMEs nesta linha de crédito?

Na verdade as barreiras de entrada não são propriamente os encargos fiscais. É a formalização. Por exemplo, se eu tiver uma empresa que não tem contabilidade organizada, que não está registada, quando se aproxima de um banco e pede crédito, eu não tenho a base necessária para entender quanto é que posso emprestar e se a empresa tem ou não capacidade de reembolso.

Porque muitas vezes, sem literacia financeira, as próprias pessoas também não percebem quanto é que podem pagar por mês e quanto é que podem pedir. O trabalho aqui é um bocadinho feito a dois níveis. Uma numa perspectiva de literacia financeira.

A segunda, é que é importante as pessoas entenderem como é que funciona um crédito, qual é a prestação mensal que vão pagar, qual é a capacidade que podem pagar com base naquilo que recebem.

E depois uma ligeira variação, como eu tentei explicar resumidamente, em relação à maior parte dos produtos bancários. Os produtos bancários normalmente necessitam de uma garantia.

Estes produtos que desenhámos especificamente, não há uma garantia real associada. Portanto aquilo que nós fazemos é analisar o cash flow, as entradas e saídas de dinheiro nas contas dos clientes.

Uma vez mais é fundamental esta formalização. O dinheiro tem de pelo menos passar no sistema financeiro e nas contas para que nós consigamos perceber exactamente quanto é que essas empresas gastam.

E a partir daí, obviamente dependendo dos montantes a emprestar, nós definimos qual é que é o montante que conseguimos emprestar a cada uma destas empresas.

PM: Em relação aos montantes disponíveis, qual é a estimativa do valor máximo que cada empresa poderá acessar através deste pacote de crédito?

MA: Depende da formalização e se existe garantias.

Começamos com o que podemos chamar quase microcrédito e depois até aos montantes que forem necessários. A única coisa que varia obviamente dentro deste produto é a necessidade de garantias ou garantias reais associadas, para montantes mais baixos não são necessários, mas obviamente assim que vamos evoluir, passamos dos 500 mil meticais para os 2 milhões, para os 10 milhões, para os 20 milhões, obviamente que esse nível de garantias é necessário.

Outra parte que também é importante referir, é também a importância da cadeia de valor. Temos produtos pré-aprovados dentro da cadeia de valor do Oil & Gas, em que já sabemos como é que funciona o ciclo. Como sabem, somos o maior banco da maior economia da África que tem uma competência muito forte no Oil & Gas, é um sector que dominamos bastante e vamos aproveitar um pouco isso e do conhecimento que temos para alavancar as nossas empresas como já fizemos noutros países.

PM: Quantas PMEs espera-se que sejam abrangidas e até quando este pacote estará disponível para as PMEs aproveitarem?

Eu espero que o maior número de PMEs possível e se não está propriamente do nosso lado, está do lado das PMEs e está do lado também de nós como sociedade transmitirmos este conhecimento e aquilo que é necessário.

Não vamos conseguir ter PMEs capacitadas aos 50 mil ou 100 mil, mas se olharmos, e eu estava a ouvir o número das 42 mil, eu acredito que não são 42 mil, se calhar temos à volta de 700, 800 mil pequenas e médias ou micros pequenas e médias.

Mas se olharmos, são efectivamente pequenas e médias empresas, muitas têm um colaborador, dois colaboradores, três colaboradores, portanto é uma questão de formalização. Não temos um objectivo específico no número, temos um objectivo no máximo possível.

Eu ficaria feliz se durante os próximos dois anos conseguíssemos chegar a 10 mil, 20 mil PMEs, que acho que já tínhamos prestado um serviço bastante grande ao país e digo isto não só em nome do Access, mas em nome de todo o sistema financeiro. Acho que é fundamental o sistema financeiro começar a olhar para as PMEs como a força e a motriz de desenvolvimento do nosso país, porque isso é realmente o que acontece. Se nós conseguirmos ter um sector forte de pequenas e médias empresas temos garantidamente uma economia forte.

Acompanhe o percurso professional do nosso interlocutor, através da sua página do LinkedIN: Marco Abalroado

Breve Perfil

Director nacional experiente com um historial comprovado de trabalho no sector bancário. Competências em processos comerciais, negociação, planeamento comercial, capacidades analíticas e estratégia de TI. Forte profissional de desenvolvimento de negócios.

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