Quinta-feira, Novembro 21, 2024
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Marlena Chambule: “Os processos selectivos têm considerado cada vez mais as Soft Skills dos candidatos”

O ramo dos Recursos Humanos numa empresa, sem dúvidas, é dos mais importantes para a sua manutenção. O seu papel é crucial na gestão estratégica dos negócios.

O Profile entrevistou recentemente a Marlena Chambule, Directora dos Recursos Humanos  da Galp Moçambique e Mentora de  Carreira e Desenvolvimento Pessoal sobre as práticas de Gestão de Recursos Humanos nas organizações e os desafios actuais.

Profile Mozambique: Atracção, Recrutamento e Selecção compõem a principal actividade da área de RH. Ao longo do tempo, quais outras atribuições foram incorporadas que destacaria como essenciais para o sucesso de uma empresa?

Marlena Chambule: Na verdade, o recrutamento e a selecção é uma parte bem pequena dos recursos humanos. Ao longo dos anos, os Recursos Humanos têm mudado a designação para a humanização da própria área. Muitas empresas, especialmente as maiores, agora preferem usar termos como “capital humano” ou “área de pessoas” em vez de “recursos humanos”. Isso reflecte a importância de reconhecer o valor humano por trás das funções desempenhadas. Hoje, os Recursos Humanos são vistos como uma área estratégica, muito além das suas funções operacionais, com um papel significativo na gestão do desempenho e no desenvolvimento organizacional.

PM: De que forma a liderança e o RH se devem cruzar para dar resposta aos novos desafios em empresas e organizações?

MC: A área de recursos humanos deixou de ser apenas operacional, lidando com pagamentos de salários, processos disciplinares e recrutamento. Hoje, ela é estratégica e actua como suporte ao negócio. Isso significa que devemos alinhar as nossas acções com a visão e objectivos do negócio, analisando como alcançar esses resultados.

Quando avaliamos o desempenho do trabalho, é a área de recursos humanos que desenha e molda esses processos. No entanto, a implementação cabe aos líderes, que vivenciam a cultura da empresa. Essa parceria entre recursos humanos e liderança é essencial, pois os líderes são responsáveis por inspirar e influenciar as suas equipas.

A principal sinergia entre a área dos Recursos Humanos e as liderançcas reside no facto do RH providenciar as ferramentas e capacitação para que os líderes exerçam da melhor forma o seu papal de líder e gestores de equipas.

PM: Quais são as competências e habilidades mais valorizadas actualmente pelos departamentos de recursos humanos ao avaliar candidatos para vagas de emprego?

MC: Tem uma coisa que eu sempre digo: a universidade não prepara as pessoas para o mercado de trabalho. É importante que os jovens tenham clareza disso. A universidade oferece um conjunto de ferramentas técnicas importantes para desempenhar funções específicas, algumas delas não necessariamente relacionadas à área de formação. Portanto, as pessoas devem se preparar antes de entrar no mercado de trabalho.

É extremamente importante que busquem um ambiente onde possam desenvolver Soft Skills, que são as competências comportamentais e também as competências técnicas. Nós queremos ver nos candidatos habilidades como proactividade, criatividade, adaptabilidade, flexibilidade, inteligência emocional e até mesmo a comunicação assertiva.

PM: Em que medida o comportamento organizacional e as Soft Skills tem sido consideradas nos processos  selectivos para jovens profissionais?

MC: Na actual dinâmica do mercado de trabalho, o comportamento organizacional e as Soft Skills têm se destacado cada vez mais nos processos selectivos para jovens profissionais.

As empresas estão valorizando não apenas as habilidades técnicas, mas também competências como comunicação eficaz, trabalho em equipa, adaptabilidade e resolução de problemas. Essas habilidades são essenciais para a integração do profissional em ambientes diversos e para a resolução de desafios dinâmicos. Portanto, os processos selectivos têm considerado cada vez mais as Soft Skills como diferenciais importantes na escolha dos candidatos.

PM: Na sua opinião, como a empresa contribui para a motivação diária dos seus colaboradores? Qual é o papel do RH nesse sentido?

MC: É um desafio fazer com que todas as pessoas na empresa percebam que a empresa só existe por causa delas. Na verdade, a empresa não é apenas um registo legal, quem forma a empresa são todas as pessoas que trabalham nela. Acredito que o primeiro passo é focar na capacitação da liderança. A área de recursos humanos não gere as pessoas, as pessoas são lideradas por seus líderes de equipe, não pela área de recursos humanos enquanto um todo.

O primeiro passo é capacitar os líderes para que tenhamos uma visão compartilhada, como empresa, ou seja, um ambiente onde todos têm clareza dos objetivos da empresa e do seu contributo para o alcance dos mesmos. É importante garantir que o colaborador perceba que ele faz parte da construção e do alcance dos resultados e que a sua contribuição é valorizada. Se as pessoas tiverem objectivos e o propósito estiver claro, há maior probabilidades de se automotivarem, que é o que se pretende.

PM: E num contexto de micro-empresas, que estratégias podem ser adoptadas?

Geralmente, empresas pequenas enfrentam desafios diferentes, pois, como referenciamos, muitas vezes não têm um departamento de recursos humanos. Às vezes, há apenas um colaborador no sector administrativo que acaba realizando várias funções, como lidar com recursos humanos, facturação, entregas e atendimento. Nesses casos, é importante que a liderança superior da empresa promova um ambiente de pertença e trabalho em equipa, colocando mais uma vez as pessoas como responsáveis pelo sucesso da organização.

Numa organização pequena, se a liderança monopolizar as decisões, não partilhar a visão e os objectivos da empresa, os níveis de motivação tendem a diminuir.

No entanto, quando as pessoas percebem que estão todas unidas, mesmo que a empresa seja pequena, trabalhando em conjunto para o crescimento, os níveis de motivação tendem a aumentar.

Em termos práticos, considerando que pode não haver muito capital disponível para grandes capacitações, pode-se optar por transferência de conhecimento internamente. Os colaboradores precisam, acima de tudo, desenvolver as suas competências para continuarem a ver vantagens em permanecer naquela pequena empresa.

PM: Qual o impacto das empresas de recrutamento na realidade moçambicana?

MC: Moçambique tem avançado significativamente nos últimos anos, especialmente no que diz respeito ao reconhecimento e valorização do sector de recursos humanos como um parceiro estratégico para o negócio. Alguns exemplos, a criação da Associação Moçambicana de Profissionais de Recursos Humanos (AMEPRH), a introdução de prémios: Elite Employer, para distinguir as melhores empresas para se trabalhar em Moçambique, e o crescente número de eventos e fórums dedicados aos profissionais de HR.

Bem, as empresas de recrutamento e selecção desempenham um papel crucial na identificação e aproveitamento de talentos em Moçambique.

De igual modo, oferecem uma série de benefícios, não apenas para os profissionais de recursos humanos, mas também para os cidadãos em geral. A existência dessas empresas facilita o acesso a oportunidades de emprego, pois, muitas vezes é mais fácil para os candidatos se candidatarem por meio desses canais do que buscar por oportunidades directamente nas empresas para as quais querem trabalhar.

PM: Hoje em dia, quais são os principais desafios e oportunidades da área de Recursos Humanos?

MC: Actualmente, a área de Recursos Humanos em Moçambique enfrenta diversos desafios e oportunidades. Entre os principais desafios, a falta de dados específicos sobre Moçambique é o principal desafio, a gestão eficiente do capital humano num contexto de mudanças rápidas e complexas, a atracção e retenção de talentos num mercado competitivo, a promoção da diversidade e inclusão nas organizações, além da adaptação às novas demandas tecnológicas e de digitalização.

Ao mesmo tempo, surgem oportunidades para a área de RH como o uso da Inteligência artificial na implementação de programas de capacitação e desenvolvimento profissional alinhado com as necessidades do mercado, o uso de tecnologias para optimizar processos mais administrativos e repetitivos, e O RH também pode aproveitar oportunidades para liderar a transformação cultural e promover ambientes de trabalho mais colaborativos e inclusivos, impulsionando assim o crescimento e a eficiência das organizações em Moçambique.

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LinkedIn: Marlena Chambule

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