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Melina Mangoele: ʺA visão da Toastmasters é criar uma conexão global de líderesʺ

Melina Mangoele: ʺA visão da Toastsmasters é criar uma conexão global de Lideresʺ

Formada em Gestão de Empresas, Melina Mangoele, ingressou no Maputo Toastmasters Club em 2019 com o objectivo de superar fragilidades de comunicação e liderança que afectavam a sua progressão profissional. Desde a sua entrada na organização, Melina demonstrou um notável crescimento e dedicação, assumindo cargos de liderança. Actualmente, ocupa a posição de Presidente do Clube MaputoToastmasters.

Em conversa com o Profile, Melina partilha perspectivas do Toastmasters e os fundamentos que sustentam a organização.

Profile Mozambique: Como ponto de partida. O que é o Toastmasters e qual é a missão da organização?

Melina Mangoele: Toastmasters é uma organização internacional sem fins lucrativos, fundada há mais de 100 anos. Este ano, comemoramos o nosso centenário. A organização surgiu quando o fundador, Ralph C. Smedley, identificou uma falta de habilidades de comunicação e liderança nos profissionais da sua comunidade. Embora os colaboradores soubessem o que fazer e como fazer, faltavam-lhes habilidades de soft skills.

Assim, foi criado um espaço ou clube, onde os profissionais teriam um ambiente para praticar apresentações e reuniões. Portanto, o Toastmasters surge como uma organização, baseada em três pilares fundamentais: comunicação em público, liderança e networking, ou ambiente de apoio. Nessa rede, a nossa missão é proporcionar aos membros e à comunidade em geral o desenvolvimento das habilidades de comunicação e liderança por meio de um ambiente de apoio onde seja possível melhorar e aprimorar continuamente.

PM: Em uma breve conversa, bem antes de começarmos, comentou que em Moçambique estão há 18 anos. Então, como é que foi essa transição, do nível global para o local?

MM: A visão do Toastmasters é criar uma rede universal de líderes e comunicadores. Com base nisso, houve a necessidade de criar o clube em Moçambique. A referência veio dos clubes da África do Sul, onde os primeiros ensaios aconteceram por meio de reuniões esporádicas. Alguns participantes visitavam os clubes na África do Sul, até que se tomou a decisão de realmente abrir um local em Moçambique.

Embora o português seja a nossa língua oficial, o primeiro clube, o ‘Maputo Toastmasters’, adotou como língua de expressão, Inglês. Naquela época, as reuniões decorriam na Biblioteca Americana Martin Luther King. De salientar que, a escolha da língua depende muito dos objectivos do clube.

Talvez surja a pergunta: por que um país de língua oficial portuguesa acolheria um clube que se expressa em inglês? Parece ser algo abstrato, mas é exactamente uma questão estratégica. O ponto-chave do Toastmasters é capacitar os jovens que precisam de enfrentar o mercado de emprego, onde muitas vezes é exigida a proficiência em inglês. Portanto, ter uma rede para desenvolver habilidades de comunicação em língua inglesa é um ponto estratégico importante para esses jovens.

PM: Quais são os principais programas oferecidos pelo Toastmasters para o aperfeiçoamento das competências de comunicação e liderança e como esses programas são estruturados para garantir um desenvolvimento contínuo?

MM: Para tornar mais acessível, o Toastmasters funciona como um curso de mestrado. A partir do momento em que alguém se torna membro, tem acesso à plataforma da organização. Quando o membro acessa a plataforma, ele tem a opção de escolher entre onze cursos diferentes de forma aleatória ou pode se submeter a um teste disponível na plataforma para identificar as suas inclinações específicas.

Os cursos são ministrados de forma autodidacta, ou seja, não há professores. Cada membro é o próprio mestre e professor. Ao escolher um dos perfis ou trilhas, o membro inicia seu progresso educacional, evoluindo por níveis. Cada nível contém os seus projectos, cada um deles trabalha uma habilidade ou um tema específico que permite o membro melhorar continuamente suas competências.

Agora, em relação ao segundo ponto que me é questionado, para assegurar que os membros recebam a orientação necessária, temos dentro do Toastmasters um programa de mentoria. Quando um novo membro ingressa, ele é alocado a um mentor que já tenha atingido pelo menos o terceiro nível dentro da organização. Este mentor orienta o novo membro no uso da plataforma, no acesso aos cursos e lições, e na preparação de discursos. O mentor não escreve os discursos para o membro, mas ajuda na organização e oferece encorajamento, especialmente na preparação e melhoria do sua performance. O mentor acompanha o membro até que ele se sinta confiante o suficiente para prosseguir de forma independente.

Além do mentor individual, existe o Vice-Presidente para a Educação (VPE), que é  responsável pelo progresso educacional de todos os membros. O VPE recebe relatórios sobre o avanço dos membros e faz o acompanhamento contínuo. Esta combinação de suporte individual e supervisão geral assegura que todos os membros recebam a ajuda necessária para desenvolver suas habilidades de comunicação e liderança de maneira eficaz e contínua.

PM: Quais são os requisitos necessários para alguém se tornar um membro do Toastmasters?

Para se tornar membro do Toastmasters, é necessário ter no mínimo 18 anos. Estabelecemos essa idade mínima para evitar questões relacionadas à exposição de menores de idade. Quando alguém ouve falar do Toastmasters e demonstra interesse, o próximo passo é participar de duas reuniões, que são completamente gratuitas. Isso permite ao convidado entender o conceito, o funcionamento, a organização e a execução prática de uma sessão do Toastmasters.

Após essas duas reuniões, o visitante deve decidir se deseja se tornar membro. Se a decisão for positiva, a pessoa é apresentada o Vice-Presidente de Membrasia, que fornecerá os formulários necessários e explicará os valores aplicáveis para a adesão. Após preencher os formulários e efectuar o pagamento da taxa de adesão, o novo membro é registado a rede global da Toastmasters.

A partir desse momento, o novo membro tem acesso completo aos clubes. Como o Toastmasters é uma entidade global, o membro também tem acesso a uma ampla rede de contactos internacionais, permitindo uma experiência de aprendizado e networking fora do alcance nacional.

PM: Sabemos que o Toastmasters tem cerca de cinco clubes em Moçambique. Como surgiu a ideia de criar os clubes e quais são os principais objectivos desses clubes?

MM: Actualmente, Moçambique está dividida em duas áreas dentro do Toastmasters: a Área 74 e a Área 129. Para que fique mais detalhado, em termos de clubes, temos sete no total, divididos entre clubes corporativos e comunitários. Existem quatro clubes corporativos e três clubes comunitários no país.

Nos clubes comunitários, destacam-se o Maputo Toastmasters, que é a mãe de todos os outros, o Clube Timbila e o Clube da Beira. Esses clubes são a porta de entrada para novos membros, oferecendo um ambiente adequado para todos que desejam desenvolver habilidades de comunicação e liderança.

Além dos clubes comunitários, temos clubes corporativos que são exclusivos para colaboradores de empresas específicas. Empresas que identificam fragilidades em comunicação e liderança entre seus colaboradores muitas vezes colaboram com o Toastmasters para resolver esses problemas. Actualmente, contamos com os clubes corporativos da Vodacom, Standard Bank, Absa Bank e FNB.

Estamos também em processo de abertura de mais 3 clubes corporativos. Esses novos clubes vão ajudar a expandir a rede e a fortalecer ainda mais as habilidades de comunicação e liderança dos profissionais em Moçambique.

PM: Este ano, foi organizado o Mozambique Toastmasters Week 2024 sob o lema “A África que Queremos”. Quais foram os principais fundamentos e o impacto desse evento?

MM: Para a criação do Toastmasters em Moçambique, adoptamos o lema “A África que Queremos”. Eu tive a honra de ser a Directora de Logística, responsável por todos os arranjos logísticos, contacto com os convidados nacionais e internacionais. Estive envolvida em todas as etapas do processo, desde o planeamento até a execução.

Nosso lema “A África que Queremos” reflecte nossa crença de que o futuro da África está nas mãos dos jovens. Queremos ser participantes activos na formação dos líderes de amanhã. A ideia é estimular a sociedade moçambicana a reflectir sobre o tipo de Sociedade que queremos é exactamente para participarmos desse processo construtivo.

Para exemplificar, trouxemos diversos palestrantes de áreas distintas, como a Dama do Bling na música, Carlos Serra na área do ambiente, Boardina Muala na Comunicação, Jeckcy, no Empreendedorismo e Glayds Gande na área do Empoderamento feminino, entre outros convidados.  Esses eventos foram oportunidades para os jovens pensarem sobre onde estamos e onde queremos chegar, chamando a atenção dos jovens para serem parte da solução, que desejamos ver na sociedade.

Ademais, acreditamos que um líder eficaz deve ser capaz de se comunicar de forma persuasiva, liderar equipes diversas e ter uma rede de contactos sólida. Essas habilidades são cruciais para mover e inspirar pessoas, bem como para levar adiante suas ideias.

Em termos do impacto, claramente olhamos para a adesão, desde que abrimos nossas portas, temos visto um crescente interesse na comunidade. Nossas reuniões têm ficado mais cheias e há um entusiasmo palpável das pessoas em conhecer mais sobre a nossa organização e se juntar a nós. O impacto da nossa missão é evidente, pois temos conseguido atrair cada vez mais membros que desejam desenvolver suas habilidades e contribuir para a sociedade moçambicana.

E por fim, o evento ampliou nossa visibilidade a nível do Toastmasters internacional, como já havia destacado, fomos destiguindos como a melhor área e em parte, essa distinção teve como contribuição o poder desse evento.

PM: Quais são os principais desafios que uma organização da dimensão do Toastmasters enfrenta em Moçambique?

MM: Um dos desafios que enfrentamos actualmente é a concentração dos nossos clubes na cidade de Maputo, temos um na Beira. Moçambique é um país vasto e não se resume apenas à sua capital. Temos dificuldade em abrir clubes fora de Maputo e garantir que esses clubes ofereçam a mesma qualidade e atractividade que temos na capital.

Outro desafio é aumentar o interacção com as empresas. Trabalhamos constantemente para mostrar às empresas a importância dos seus colaboradores treinarem habilidades de comunicação e liderança. O nosso trabalho é evidenciar que o desenvolvimento dessas habilidades, trará ganhos não só pessoais, mas também para a empresa. No entanto,  ainda há uma certa relutância e falta de entendimento por parte de algumas instituições em acolher este programa.

Além disso, temos fortes dificuldades em acessar instituições públicas. Quando nos aproximamos a essas instituições, frequentemente ouvimos que há falta de orçamento e que raramente contemplam questões de desenvolvimento de habilidades de comunicação e liderança. Actualmente, não estamos a trabalhar com nenhuma instituição pública. Esses desafios são alguns dos desafios, mas continuamos os nossos esforços para expandir e melhorar a difusão do Toastmasters em todo o país.

PM: Quais são os próximos passos que da Toastmasters em Moçambique?

MM: Os próximos passos do Toastmasters em Moçambique incluem uma série de iniciativas estratégicas voltadas para ampliar a presença e o impacto da organização em todo o país. Primeiramente, o Toastmasters está focado em expandir sua rede de clubes. Este esforço inclui a abertura de novos clubes comunitários e corporativos, com o objectivo de estabelecermo-nos em todo o país.

Ademais, o Toastmasters pretende estabelecer parcerias com universidades para criar canais que permitam aos estudantes começar a desenvolver as suas habilidades de comunicação desde a faculdade. Esta abordagem visa resolver limitações de comunicação de forma precoce, preparando os alunos para desafios futuros no mercado de trabalho e em suas vidas profissionais.

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