Quinta-feira, Janeiro 30, 2025
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O que está a moldar os mercados e negócios em Moçambique nos últimos 60 dias?

Nos últimos dois meses, o panorama económico de Moçambique tem sido marcado por uma série de desenvolvimentos que influenciaram significativamente os mercados e o ambiente de negócios. A análise dos principais indicadores económicos revela tendências que merecem destaque.

As perspectivas da economia mundial, para 2024 e 2025, continuam a apontar para a manutenção do crescimento económico nos níveis de 2023 e da tendência para desaceleração da inflação. Os riscos e incertezas a nível global prevalecem elevados, com destaque para os associados aos conflitos no Médio Oriente e na Rússia/Ucrânia, a postura da nova administração americana e os choques climáticos.

Actividade económica e inflação

Segundo o relatório da conjuntura económica e perspectivas de inflação, no terceiro trimestre de 2024, as economias avançadas e de mercados emergentes e em desenvolvimento continuaram a crescer, embora a um ritmo menor. Com efeito, nos Estados Unidos da América (EUA) o crescimento anual do PIB situou-se em 2,7%, impulsionado pelo incremento do consumo das famílias.

Por seu turno, a economia da Zona do Euro cresceu 0,9 %, a traduzir o aumento da despesa pública e do consumo das famílias. Nas economias de mercados emergentes e em desenvolvimento, destaca-se o crescimento da economia chinesa em 4,6 %, impulsionado, essencialmente, pelo aumento dos estímulos fiscais, que contribuiu para a expansão da produção industrial e das vendas a retalho.

Para 2025, as perspectivas apontam para a manutenção do crescimento económico mundial nos níveis de 2023, de acordo com a edição do World Economic Outlook de Outubro de 2024. As perspectivas para 2024 apontam para um crescimento mundial de 3,2 %, explicado, essencialmente, pela recuperação da actividade económica na Alemanha e no Reino Unido.

Volume de exportações 

De acordo com o boletim estatístico de Agosto de 2024 do Banco de Moçambique, as exportações moçambicanas registaram um aumento de 12% nesse mês, totalizando 31,8 mil milhões de meticais (aproximadamente 500 milhões de dólares). Este crescimento contribuiu para uma ligeira redução do défice na balança de pagamentos do país, num contexto de recuperação económica moderada.

Até o primeiro trimestre de 2024, as exportações de Moçambique atingiram 1.764 milhões de dólares (1.615 milhões de euros), representando um aumento de 53 milhões de dólares (48,5 milhões de euros) em relação ao mesmo período de 2023. A Índia destacou-se como o principal destino das exportações moçambicanas, com compras no valor de 331 milhões de dólares (303 milhões de euros), correspondendo a 18,8% do total exportado.

Os principais produtos exportados para a Índia incluíram gás natural, carvão mineral, legumes secos e castanha de caju. A África do Sul, foi o segundo maior importador de produtos moçambicanos, tendo representado 16,9% das exportações, avaliadas em 298,5 milhões de dólares (273,2 milhões de euros).

As exportações para este país incluíram energia eléctrica, gás natural, carvão e banana. A Coreia do Sul ocupou a terceira posição, com 11,4% do total das exportações, no valor de 202 milhões de dólares (185 milhões de euros), registando um incremento de mais de 100% em relação ao mesmo período de 2023, principalmente devido às exportações de carvão e gás natural. Estes dados evidenciam uma tendência positiva nas exportações moçambicanas nos primeiros meses de 2024, com destaque para o aumento das vendas de recursos naturais para mercados asiáticos e regionais.

Desempenho do Índice PMI

O Purchasing Managers’ Index (PMI), indicador que reflecte as condições operacionais das empresas do sector privado, manteve-se em terreno positivo pelo sexto mês consecutivo até outubro de 2024. Em setembro, o PMI situou-se em 50,3 pontos, ligeiramente abaixo dos 50,9 registados em agosto, indicando uma expansão mais lenta da economia do sector privado. Em outubro, o índice registou uma ligeira descida para 50,2 pontos, sinalizando uma melhoria modesta nas condições empresariais, a mais fraca dos últimos seis meses.

Este crescimento foi sustentado por um aumento moderado dos volumes de novas encomendas, impulsionado pela introdução de novos serviços, expansão de capacidades e conquista de novos clientes. Contudo, observou-se um abrandamento no ritmo de crescimento da atividade empresarial, reflectindo-se numa menor criação de postos de trabalho e numa ligeira redução na aquisição de meios de produção.

Redução da taxa de juros

O Comité de Política Monetária (CPMO) do Banco de Moçambique decidiu reduzir a taxa de juro de política monetária, taxa MIMO, de 12,75% para 12,25%. Esta decisão decorre da manutenção das perspectivas da inflação em um dígito, no médio prazo, não obstante o aumento dos riscos e incertezas associados às projecções, com destaque para os decorrentes da tensões pós-eleitoral, o risco fiscal e os choques climáticos.

Adicionalmente, o CPMO decidiu reduzir os coeficientes de Reservas Obrigatórias para os passivos em moeda nacional, de 39,0% para 29,0%, e em moeda estrangeira, de 39,0% para 29,50 %, visando disponibilizar mais liquidez para apoiar a economia na reposição da capacidade produtiva e da oferta de bens e serviços. A pressão sobre o endividamento público interno agravou-se.

A dívida pública interna, e, excluindo os contratos de mútuo e de locação e as responsabilidades em mora, situa-se em 435.6 mil milhões de meticais, o que representa um aumento de 20,1 mil milhões em relação a Dezembro de 2024. As reservas internacionais mantêm-se em níveis confortáveis, as reservas internacionais brutas situam-se em níveis suficientes para cobrir cerca de cinco meses de importações de bens e serviços. Excluindo os grandes projectos.

Impacto da redução da taxa de juro e reservas obrigatórias no sector empresarial

  • Redução do custo do crédito

A redução da taxa MIMO sugere uma tendência de diminuição do custo do crédito, tornando os financiamentos mais acessíveis para as empresas. Isso vai propiciar investimentos em expansão, aquisição de matéria-prima e capital de giro, ajudando negócios a crescerem e aumentarem sua competitividade. No entanto, a efectividade dessa medida depende da forma como os bancos comerciais repassam essa redução para os clientes.

  • Maior liquidez no sistema financeiro

A diminuição das Reservas Obrigatórias para depósitos em moeda nacional e estrangeira visa injectar liquidez no sistema financeiro, permitindo que os bancos tenham mais capital disponível para conceder empréstimos. Para as empresas, isso pode representar uma maior facilidade no acesso a financiamentos, especialmente em um cenário onde muitas ainda enfrentam desafios pós-eleitorais e climáticos.

  • Risco fiscal e incertezas macro-económicas

Apesar do alívio monetário, o aumento da dívida pública interna (435,6 mil milhões de meticais, +20,1 mil milhões em relação a Dezembro de 2024) e as tensões pós-eleitorais podem gerar incertezas. O risco fiscal elevado pode pressionar o governo a buscar mais financiamento interno, competindo com o sector privado pelo crédito disponível.

  • Estabilidade cambial e importações

As reservas internacionais, capazes de cobrir cerca de cinco meses de importações, continuam em níveis considerados confortáveis. Isso sugere um ambiente relativamente estável para empresas que dependem de importações, minimizando riscos de flutuações cambiais significativas no curto prazo.

Desafios persistentes

Em linhas gerais, embora Moçambique tenha registado alguns progressos no ambiente de negócios nos últimos 60 dias, persistem desafios económicos significativos que requerem atenção contínua para assegurar um crescimento económico sustentável.

  • O endividamento público interno aumentou

Entre Dezembro de 2023 e Novembro de 2024, o stock da dívida pública interna, excluindo a decorrente de contratos de mútuo, de locação e das responsabilidades em mora, incrementou em cerca de 95.726 milhões de meticais, saldando-se em 408.067 milhões no final de Novembro.

  • Atrasos nos projectos de LNG da Bacia do Rovuma

Os atrasos recorrentes nos projectos de gás natural liquefeito sugerem que o investimento directo estrangeiro provavelmente permanecerá reduzido, implicando um apoio limitado à oferta de divisas e ao orçamento do Estado, bem como um crescimento mais brando do PIB. (Profile)

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