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Sany Weng: “Percebi a carência de Educação Financeira em Moçambique e decidi agir”

Nesta entrevista, conversamos com Sany Weng, empreendedora e representante nacional da Money Savvy, sobre a sua trajectória profissional e o seu compromisso com a educação financeira em Moçambique. Formada em Gestão de Empresas, Sany encontrou a sua verdadeira vocação ao fundar a Money Savvy Mozambique, uma plataforma que tem como missão transformar a realidade financeira dos moçambicanos.

Profile Mozambique: Fale-nos brevemente sobre sua trajectória profissional, destacando sua formação e principais experiências?

Sany Weng: Sou formada em Gestão de Empresas, mas a minha carreira tomou um rumo diferente quando me tornei Facilities Manager numa empresa pioneira de Serviced Offices em 2013. Evoluí, e actualmente sou Directora-Geral.

Em 2018, fundei um a empresa de Facilities Management (MMO Facilities) como extensão da Mozambique Managed Offices (MMO), consolidando o meu papel de empreendedora.

Durante esse período, percebi a grande carência de educação financeira em Moçambique, algo que se tornou evidente através das minhas próprias experiências de vida, especialmente como mãe solteira que enfrentou dificuldades financeiras e conseguiu superá-las. Inicialmente, desejei ajudar as pessoas compartilhando as minhas experiências, mas decidi primeiro investir na minha formação em educação financeira. Participei de cursos com a Money Savvy Humans na África do Sul (2022) e com a Organização Internacional do Trabalho (OIT) em 2024, combinando experiência, teoria e metodologias para poder ajudar mais pessoas de maneira eficaz.

Com essa base de conhecimento e experiência, criei a Money Savvy Mozambiquepara poder ajudar a superar desafios financeiros e transformar vidas por meio da educação financeira, com principal foco em combater a falta de informação, que muitas vezes é a raiz dos problemas financeiros.

PM: Como surge a MoneySavvy Mozambique? Trata-se de uma plataforma genuinamente moçambicana?

SW: Sim, a plataforma é genuinamente moçambicana. Embora seja um franchise da África do Sul, com a marca MoneySavvy, as sócias são totalmente moçambicanas e a empresa é 100% liderada por mulheres moçambicanas. Embora os materiais sejam criados na África do Sul, eles são ajustados e adaptados à nossa realidade. Isso inclui modificar o conteúdo para torná-lo mais acessível e compreensível, evitando termos complexos e usando uma abordagem mais directa, prática e inclusiva.

Sobre o nível de literacia financeira entre os moçambicanos, actualmente há uma grande preocupação. O principal desafio é a dificuldade em gerir o orçamento mensal. Por exemplo, o salário mínimo aumentou de 8.600 para 9.600 meticais, enquanto os custos básicos, como transporte, consomem cerca de 2.000 meticais, deixando apenas 6.000 meticais para cobrir todas as outras despesas. Para uma família de cinco pessoas, isso não é suficiente para garantir uma sobrevivência digna.

A solução passa pela mudança de mentalidade e a criação de fontes de renda adicionais. Pelo que, encorajamos a abertura de pequenos negócios ou actividades geradoras de renda extra, usar a sua paixão para gerar renda como vender alimentos caseiros, dar explicaçes, baby sitting, entre ourtos para complementar o orçamento.

A nossa abordagem inclui primeiro a formação em gestão financeira pessoal, seguida pela mudança de mentalidade. Muitos aprendem desde cedo que o dinheiro é escasso e não há forma de poupar. Em vez de ensinarem como usar, poupar e investir, somos educados a evitar gastos. Como resultado, ao chegarmos à vida adulta, não sabemos como lidar com essas questões.

Portanto, a Money Savvy Moçambique posiciona-se como um catalisador para a mudança de mentalidade financeira, promovendo uma abordagem prática e orientada para resultados que visa transformar a realidade financeira dos moçambicanos.

PM: A plataforma Money Savvy Mozambique posiciona-se como um catalisador para a mudança de mentalidades financeiras. Quais são as principais estratégias que utilizam para transformar a maneira como os moçambicanos lidam com o dinheiro?

SW: É essencial começar a criar consciencialização e alterar a mentalidade predominante de que ganhar dinheiro é extremamente difícil e que a escassez é inevitável. Devemos promover a ideia de que o dinheiro é uma ferramenta valiosa para alcançar nossos objectivos.

Assim como o telefone serve para comunicar e o carro para deslocar-se, o dinheiro deve ser visto como um meio para atingir as nossas metas. Portanto, é crucial cultivar uma mentalidade positiva e mudar crenças negativas sobre o dinheiro.

Você pode lembrar-se do conceito apresentado no livro “O Segredo”, que aborda a Lei da Atracção e a importância de focar em pensamentos positivos para atrair coisas boas. Em uma mentalidade próspera, é fundamental acreditar que o dinheiro é abundante e acessível, e que ele pode ajudar a melhorar a vida da nossa família, entre outros benefícios.

Ademais, o ambiente ao nosso redor desempenha um papel significativo. Se estivermos cercados por pessoas negativas, que vivem de maneira improdutiva e se envolvem em comportamentos prejudiciais, tendemos a influenciar-nos por essas atitudes e permanecer em um ciclo negativo. Por outro lado, rodear-se de pessoas positivas, com objectivos claros e ambições semelhantes, pode ajudar-nos a avançar e atingir nossos próprios objectivos.

PM: Com base na informação de que 70% dos adultos com rendimentos na África do Sul estão sobreendividados, como essa realidade se compara ao contexto moçambicano? Quais são as principais causas do endividamento excessivo em Moçambique?

SW: É possível que o nível de endividamento na África do Sul seja mais elevado do que no nosso país, com uma estimativa de até 80% da população sul-africana endividada. Embora não tenha dados estatísticos precisos, essa é uma suposição plausível. Vale notar que a realidade económica na África do Sul é um pouco diferente da nossa. Lá, o acesso a serviços bancários e empréstimos é mais facilitado e os salários tendem a ser mais altos.

No nosso caso, as principais causas do endividamento incluem o imediatismo e o consumismo, especialmente entre a classe média. Para a população de baixa renda, o endividamento frequentemente resulta da necessidade de sobrevivência. Muitas pessoas com salários baixos ou até mesmo sem trabalho fixo acabam se endividando para cobrir suas necessidades básicas diárias.

Os vendedores informais enfrentam desafios semelhantes. Embora gerem receita através das suas vendas, muitas vezes o dinheiro obtido é rapidamente gasto em despesas imediatas, como alimentação. Isso dificulta o reinvestimento em novos materiais e perpetua um ciclo de endividamento.

PM: Quais são os principais equívocos ou mal-entendidos sobre finanças que os moçambicanos enfrentam? Como a Money Savvy ajuda a desmistificar essas questões e promover uma gestão financeira mais eficaz?

SW: Um dos principais equívocos é a falta de informação. Em Moçambique, há uma carência significativa de conhecimento financeiro, com muitas oportunidades e produtos financeiros, como empréstimos e serviços bancários, sendo pouco divulgados. Mesmo aqueles que estão em uma situação financeira melhor podem não ter acesso às informações necessárias para expandir suas opções de crédito e investimentos.

A Money Savvy empenha-se em superar esses desafios oferecendo cursos e programas de capacitação. Os nossos cursos abordam uma variedade de produtos e serviços financeiros disponíveis no mercado, como opções de poupança e investimentos no mercado de acções.

Muitas pessoas não sabem, por exemplo, como investir em acções de empresas como a HCB, ENH, Tropigalia, entre outros, e nosso objectivo é fornecer essas informações de forma acessível. Plataformas como o Banco BIG e o BCI, que oferecem serviços de investimento. Assim como, a BVM também é uma opção para investir em acções. Recentemente, na conferência da CTA, foram discutidos os desempenhos positivos de acções de empresas como a CDM e a ENH, evidenciando oportunidades no mercado de acções, e o cidadão moçambicano precisa tirar partido destas oportunidades, começando apenas com 100mts.

Actualmente, a Money Savvy está a preparar vários programas voltados para o impacto social.  Temos realizado sessões online e colaborações com parceiros como a  Fundaçåo Salimo Abdula, Mozyouth, e a ICEF focando principalmente na capacitação financeira de mulheres.

Vamos  trabalhar estreitamente com a Tecnoserve em vários projectos com impacto social no norte do país. Por outro lado, assinamos um memorando de parceria com o apresentador de televisão, Hugo Diogo (Dygo Boy) para uma conferência sobre educação financeira que será realizada em novembro próximo.

PM: Com a crescente digitalização dos serviços financeiros, como a Money Savvy está a adaptar seus programas para garantir que os moçambicanos estejam preparados para navegar no mundo das finanças digitais?

SW: Embora a digitalização esteja sendo promovida através de serviços como M-Pesa e mKesh, e outras carteiras digitais, a questão da gestão financeira ainda precisa de mais atenção.

A inclusão digital não se resume apenas ao acesso a tecnologias, é fundamental que também haja uma inclusão na gestão financeira efectiva. Saber primeiro fazer a gestão do nosso dinheiro, para depois conseguirmos geri-lo nas carteiras moveis.

Na Money Savvy, buscamos promover a inclusão digital de forma prática e eficaz. Por exemplo, a acção que realizamos com a GIZ foi um modelo híbrido, combinando aulas presenciais com sessões online onde conseguimos tender participantes em locais como Beira, Inhambane e Pemba. Essa abordagem híbrida foi necessária para garantir a participação de todos, mas destaca a importância da interação face a face para um aprendizado mais abrangente e eficaz.

Temos uma plataforma que visa criar conteúdos educativos, como o LMS da Money Savvy, para disponibilizar aulas online. No entanto, observamos que o ensino presencial é muito mais envolvente e interativo do que as aulas online, onde os participantes frequentemente se distraem. Tentamos oferecer uma experiência de aprendizado mais rica através de interações directas, e estamos a colaborar com ONGs, embaixadas e empresas com responsabilidade social para realizar essas actividades presencialmente e para conseguirmos ter um impacto maior

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