A União Europeia quer rotular o gás como uma energia verde e, por isso, inofensivo ao ambiente. O pedido surge numa altura em que ambientalistas europeus já tinham pedido a suspensão do financiamento à exploração de gás de Moçambique.
Pode ser a salvação de Moçambique. É que, numa altura em que alguns ambientalistas movem um processo em tribunal para que o Governo britânico, por exemplo, pare de financiar a exploração do gás em Moçambique, a União Europeia prepara-se para que este recurso não seja mais considerado nocivo ao ambiente e, assim, poder ser usado para além de 2050, ano a partir do qual o velho continente espera estar com zero carbono na produção energética.
O plano pretende incluir usinas nucleares e usinas de gás natural como “energias verdes”, o que facilitaria o acesso dessas tecnologias ao financiamento dedicado a instalações que ajudam a combater as mudanças climáticas.
E não é só pensamento, já está escrito em projecto, o mesmo que está em discussão há meses e o esboço do texto, ainda provisório, foi enviado aos 27 Estados-membros pouco antes da meia-noite de 31 de Dezembro, tal como refere o portal G1. Dito de outra forma, caso o documento seja aprovado, Moçambique poderá ter mais mercados para exportar o gás natural que se espera que comece a ser explorado ainda este ano, sem muitas limitações ligadas ao clima.
Aliás, o gás produzido através da plataforma que esta semana chegou a Moçambique já tem um comprador fixo e é europeu. A British Petroleum tem um contrato de compra por 20 anos.
O documento da União Europeia estabelece os critérios para classificar investimentos em usinas nucleares ou de gás natural para geração de electricidade como “sustentáveis”. O projecto está de acordo com o objectivo europeu de alcançar a neutralidade de carbono até 2050, mas agora já com o gás.
Todos estão interessados, mas há quem precise mais da aprovação do documento, tais são os casos da Polônia e República Checa, que querem substituir às suas altamente poluentes termo-eléctricas a carvão por recursos mais limpos.
O projecto também agrada a França, que acaba de assumir a presidência rotativa da União Europeia, e pretende retomar o seu parque energético nuclear, uma fonte de electricidade considerada pelo Governo de Macron como estável e de baixa emissão de carbono. O gás de Moçambique, uma vez mais, é uma opção. Aliás, a França tem investimentos avaliados em mais de 20 mil milhões de dólares na área 1 da Bacia do Rovuma, em Cabo Delgado, através da Total, que, neste momento, está com actividades suspensas devido à insegurança.
Nem todos gostam da ideia. Alguns países europeus, como a Alemanha e o Luxemburgo, defendem que incluir o gás nas energias verdes é um erro. Mas, erro mesmo, de acordo com a proposta de Bruxelas, capital europeia, é considerar que o mundo pode alimentar-se de energias solar e eólica, justificando que apresentam um fornecimento intermitente, enquanto o gás, já não.
Os Estados-membros e especialistas consultados pela Comissão têm agora cerca de duas semanas para solicitar alterações ao documento. O texto final está previsto para ser publicado em meados de Janeiro.
Em todo o caso, e como não podia ser diferente, a Câmara Africana elogia a pretensão e diz que é uma forma de garantir a inclusão do continente africano, que, neste momento, precisa de se industrializar antes de se preocupar com o clima.