Quarta-feira, Outubro 9, 2024
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Analista antevê que regresso da Total aconteça dentro de um ano

O analista moçambicano Mohamed Yassine defende que a retomada de Mocímboa da Praia pelas forças moçambicanas e ruandesas abre portas para “um futuro diferente” para o megaprojeto de gás em Cabo Delgado.

Em entrevista à DW África, o especialista de Relações Internacionais Mohamed Yassine comentou ainda os atritos entre Maputo e Kigali, após as comunicações do Ruanda sobre as operações no terreno em Cabo Delgado, antes mesmo de um pronunciamento oficial de Moçambique.

Para o analista, a Defesa moçambicana será obrigada a quebrar o “segredo de Estado” se quiser recuperar o protagonismo nos meios de comunicação social e “permitir que mais instituições possam averiguar de perto o que está a acontecer em Cabo Delgado”.

DW África: O que significa a retomada de Mocímboa da Praia para o megaprojeto de gás em Cabo Delgado?

Mohamed Yassine (MY): Significa o retorno de uma parcela da soberania moçambicana que estava nas mãos da insurgência há mais de um ano. Por outro lado, significa que o lugar de concentração e que sempre serviu de bastião da insurgência, estando nas mãos do Governo é fácil projetarmos a segurança que precisamos para a região de Afungi e Palma.

DW África: Será o início do regresso da Total para a região?

MY: A estabilidade da região requer um bocadinho mais de cuidados. Para além de Mocímboa da Praia o Governo conseguiu recuperar cerca de onze posições que estavam nas mãos da insurgência, mas, por outro lado, uma vez que os insurgentes já não têm um bastião podemos começar a pensar no retorno da Total para Moçambique provavelmente daqui a um ano. A Total dava um ano e oito meses para que Moçambique se decidisse e penso que com esta intervenção feita em Mocímboa da Praia estão abertas as portas para começarmos a pensar num futuro diferente daquilo que eram os prazos. Já existem mecanismos para dizermos que, com o apoio internacional, iremos conseguir defender a província de Cabo Delgado no seu todo.

DW África: O Presidente Filipe Nyusi lançou esta segunda-feira formalmente, em Pemba, a missão militar da SADC que se vai juntar às forças moçambicanas e ruandesas em Cabo Delgado. No seu entender, como vai ser o trabalho de todas essas tropas no terreno?

MY: As dificuldades que eu vejo podem estar na coordenação porque afinal de contas os países que lá estão cada um tem o seu interesse individual ou coletivo. Acho que se Moçambique tiver feito o seu trabalho de casa por forma a introduzir cada uma das forças à força da SADC no seu todo e à força bilateral do Ruanda cada um com objetivos diferentes, um com o objetivo de combate (como temos visto nos do Ruanda) e a força da SADC como a força de manutenção da paz. Mas se isso estiver a sair do controle da liderança moçambicana, cada um dos exércitos pode optar pelo seu ego. Além de que é preciso dizer que alguns países da SADC têm ainda algumas “feridas” em relação ao Ruanda e pode resvalar num ajuste de contas no terreno.

DW África: Ainda no lançamento da missão da SADC, o Presidente Filipe Nyusi exigiu mais comunicação e coordenação em Cabo Delgado. Acha que foi um mea-culpa do chefe de Estado?

MY: Esse pronunciamento do Presidente não foi exatamente virado para a SADC mas é preciso recordar que Moçambique vem sendo informado sobre o que está a acontecer em Cabo Delgado através do Ruanda. A conferência de imprensa é dada no Ruanda, o que significa que do ponto de vista do Estado devia ser o contrário. A conferência de imprensa devia ser dada em Moçambique, pelo exército moçambicano anunciando os ganhos alcançados em conjunto com as forças ruandesas. Tem sido continuamente trazido até nos Tweets que o Presidente do Ruanda vai fazendo, o que mostra um bocadinho de falta de humildade para com a missão que está a assumir. Penso que o recado do Presidente (Filipe Nyusi) é no sentido de que a coordenação a ser feita com o objetivo único de apoiar Moçambique e, por outro lado, Moçambique tem de ser a “pessoa” que tem de comunicar para o mundo o que está a acontecer no país.

DW África: Nos últimos dias, tem circulado a informação de que alguns chefes militares de Moçambique não estão contentes com o Ruanda, que estaria sempre à frente na divulgação dos resultados das operações, inclusive através das redes sociais. É hora do Ministério da Defesa de Moçambique melhorar a sua comunicação?

MY: O Ministério da Defesa vai ser obrigado a quebrar o chamado “segredo de Estado”. Durante muitos anos o Ministério da Defesa além de ter impedido que os jornalistas locais pudessem viajar para Mocímboa da Praia e outras zonas para acompanhar de perto o que estava a acontecer, sempre fechou-se também em copas em relação à informação que era necessária em relação a o que estava a acontecer dentro de Cabo Delgado. A conferência de imprensa do Ruanda também passa para os órgãos de informação independente em Moçambique, o que já não é a televisão e a rádio de Moçambique que têm o poder de comunicar e até censurar aquilo que se achar que deve ser censurado. Isso vai quebrar o procedimento do Ministério da Defesa que precisa permitir que mais instituições possam averiguar de perto o que está a acontecer em Cabo Delgado até chamar à razão em relação a direitos humanos e outras consequências que advêm da guerra.

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