A Fitch Ratings manteve, recentemente, a classificação de crédito de Moçambique em “CCC+”, um sinal claro de que o País continua a enfrentar desafios económicos substanciais. A avaliação coloca Moçambique apenas três níveis acima do incumprimento (default), reflectindo um alto risco de não pagamento de suas obrigações financeiras.
O rating “CCC+” da Fitch está abaixo da categoria de investimento, classificando a dívida moçambicana como especulativa ou “junk”. Esse rótulo é atribuído a títulos que são considerados arriscados pelos investidores, o que geralmente leva a custos de empréstimos mais elevados. Em outras palavras, Moçambique precisará oferecer taxas de juros maiores para atrair investidores, aumentando a pressão sobre suas já frágeis finanças públicas.
Além disso, a classificação sugere que o país enfrenta sérios desafios estruturais, incluindo uma elevada dívida pública, uma fraca gestão das finanças públicas, e finanças externas vulneráveis. Esses factores, combinados com um baixo PIB per capita e indicadores de governança deficitários, tornam a economia moçambicana particularmente suscetível a choques externos e flutuações do mercado.
Um dos impactos mais imediatos de um rating “CCC+” é o aumento dos custos de empréstimos. Com investidores exigindo prémios de risco maiores, o serviço da dívida torna-se mais caro para o governo, consumindo uma parte maior do orçamento público e limitando os recursos disponíveis para investimentos em setores essenciais, como saúde, educação e infraestrutura.
O baixo rating também dificulta o acesso de Moçambique a mercados de capitais internacionais. Investidores institucionais, como fundos de pensões e seguradoras, costumam evitar títulos classificados abaixo do grau de investimento, o que reduz as opções de financiamento disponíveis para o país.
A percepção de alto risco pode ainda levar à saída de capitais ou limitar a entrada de investimento directo estrangeiro (IDE). Isso, por sua vez, coloca pressão sobre as reservas cambiais do País e pode resultar em uma depreciação da moeda local, aumentando a inflação e reduzindo o poder de compra da população.
Embora o sector de Gás Natural Liquefeito (GNL) ofereça perspectivas robustas de crescimento a médio prazo, os riscos associados ao rating podem desencorajar novos investimentos em outros sectores. Isso pode comprometer a diversificação económica, tornando o crescimento de Moçambique mais dependente de um único sector e mais vulnerável a flutuações nos preços das commodities.
A manutenção do rating “CCC+” é um alerta para o Governo moçambicano sobre a necessidade urgente de reformas estruturais. Melhorar a gestão fiscal, fortalecer as instituições e criar um ambiente de negócios mais estável e previsível são medidas essenciais para atrair investimentos e reduzir o risco percebido pelos investidores internacionais.
Ao mesmo tempo, o desenvolvimento contínuo do sector de GNL e o acordo trienal de 456 milhões de dólares com o Fundo Monetário Internacional (FMI) oferecem uma base para o crescimento futuro. No entanto, para que essas oportunidades se traduzam em uma melhora significativa na classificação de crédito, Moçambique precisará demonstrar um compromisso firme com as reformas económicas e a estabilização macroeconómica.
Ou seja, o rating “CCC+” da Fitch para Moçambique destaca tanto os desafios quanto as oportunidades que o país enfrenta. Enquanto o potencial de crescimento impulsionado pelo GNL é promissor, os riscos elevados continuam a limitar as perspectivas económicas de longo prazo. Para superar esses desafios, Moçambique deverá adoptar reformas profundas que possam reverter a trajectória actual e criar as bases para um crescimento sustentável e inclusivo.