“O gás de Moçambique, com a presença de grandes companhias multinacionais europeias, tem agora um valor ainda mais importante e estratégico”, declarou Sánchez-Benedito Gaspar.

O responsável disse que a Europa não pode mais confiar no antigo parceiro russo, por recorrer ao autoritarismo e estar a “utilizar o gás como arma de guerra”. E neste sentido a UE está a envidar esforços para diversificar e garantir fontes alternativas.

Sánchez-Benedito Gaspar, citado pela Lusa,  disse que a UE criou um novo plano estratégico denominado “RePower UE” que contempla vários elementos. Mas, no que se refere ao gás, considerada energia de transição “estamos a procurar fornecedores alternativos e Moçambique está dentro desse grupo”.

Embora o gás dos três projectos até agora aprovados já tenha destino, Moçambique dispõe de reservas comprovadas de mais de 180 triliões de pés cúbicos, segundo dados do Ministério dos Recursos Minerais e Energia.

Apesar das perspectivas promissoras, a insurgência armada que começou em 2017 na província de Cabo Delgado é uma ameaça, mas a entrada de tropas estrangeiras para apoiar as forças nacionais em meados do ano passado melhoraram a situação de segurança, recuperando posições importantes, como é o caso da vila de Mocímboa da Praia.

“Foram grandes os avanços sobre o terreno. A insurgência já não tem esta capacidade de controlar permanentemente territórios-chave”, observou Sánchez-Benedito Gaspar.

Desde início de Junho, novos ataques na faixa sul da província de Cabo Delgado começaram a ser registados, visando pontos recônditos do distrito de Ancuabe, tendo as incursões provocado pânico também em alguns distritos próximos, nomeadamente Metuge, Mecúfi e Chiure.

Nesse período de incursões terroristas ao sul daquela província, houve igualmente sinais de que os insurgentes começaram a atacar a zona fronteiriça do norte da província de Nampula.

Para o embaixador cessante da UE, apesar dos avanços, a ameaça terrorista vai continuar por algum tempo no norte de Moçambique.

“Penso que infelizmente, de forma localizada, a ameaça vai continuar. Tudo indica que algumas destas forças [rebeldes] estão misturadas com a população e que estão a chegar também terroristas de outros lugares”, afirmou Sánchez-Benedito Gaspar.

O diplomata espanhol termina a sua missão em Moçambique no final de Julho e será substituído pelo embaixador italiano Antonino Maggiore.

A província de Cabo Delgado é rica em gás natural, mas aterrorizada desde 2017 por rebeldes armados, sendo alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico.

Há cerca de 800 mil deslocados internos devido ao conflito, de acordo com a Organização Internacional das Migrações (OIM), e cerca de 4.000 mortes, segundo o projecto de registo de conflitos ACLED.

Desde Julho de 2021, uma ofensiva das tropas governamentais com o apoio do Ruanda a que se juntou depois a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) permitiu recuperar zonas onde havia presença de rebeldes, mas a fuga destes tem provocado novos ataques noutros distritos usados como passagem ou refúgio.

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