Maputo – Qautro nomes incontornáveis da música moçambicana contemporânea, 340ml, Assa Matusse, Lena Bahule e Samito (SAM.IITO) foram oficialmente apresentados como representantes nacionais na 18.ª edição do Festival Bushfire, um dos mais prestigiados eventos culturais do continente africano, a decorrer no Reino de Eswatini de 30 de maio a 1º de junho de 2025, na House On Fire.
O anúncio foi feito na manhã desta quarta-feira, em conferência de imprensa realizada nas instalações da Rádio Moçambique, onde Jiggs Thorne, Director do Bushfire Festival, destacou que “a participação moçambicana tem sido uma âncora importante na construção de pontes criativas entre os países da região, e este ano não será excepção”.
A presença de Moçambique no Bushfire insere-se numa colaboração contínua entre o Festival Bushfire e o Festival AZGO, que reforça os laços artísticos entre Eswatini e Moçambique, promovendo intercâmbio, visibilidade e circulação de artistas em contextos regionais.
340ml: Legado sonoro e inovação
Com origens em Maputo e residência artística desenvolvida em Joanesburgo, o colectivo 340ml regressa aos palcos internacionais com a mesma irreverência que os catapultou ao estrelato no início dos anos 2000. Conhecidos pela sua fusão única de reggae, dub, jazz, afrobeat e influências globais, o grupo liderado por Pedro da Silva Pinto (voz), com Tiago Correia-Paulo (guitarra), Paulo Chibanga (bateria) e Rui Soeiro (baixo), tem sido referência na música alternativa africana. O seu álbum Moving (2003) e o emblemático Sorry for the Delay (2008) marcaram gerações e afirmaram a música moçambicana no circuito internacional.
Assa Matusse: A força feminina da Marrabenta contemporânea
Artista com raízes no bairro de Mavalane, em Maputo, Assa Matusse construiu um percurso artístico firme, com presença em palcos africanos e europeus, e uma voz que canta em português, inglês, francês e changana. A sua música transita entre ritmos tradicionais como a marrabenta e o tufo, fundindo-os com sonoridades pop, jazz e electrónicas. Radicada em Paris, a cantora é também activista social, promovendo causas ligadas à protecção e acesso à educação para raparigas moçambicanas. No Bushfire, Assa leva o álbum Mutchangana (2023), que simboliza o seu reencontro com as raízes e um olhar artístico sobre a modernidade africana.
Lenna Bahule: Voz ancestral e arte performativa

Lenna Bahule representa uma das expressões mais singulares da cena artística moçambicana. Cantora, compositora e performer, explora a voz como instrumento principal e veículo de memória colectiva. Com passagem por residências artísticas no Brasil e Europa, e um trabalho profundamente enraizado nas tradições vocais africanas, Lenna funde performance, espiritualidade e consciência social. No Bushfire, apresentará um espectáculo onde a experimentação vocal e o corpo são os grandes protagonistas, num acto de profunda introspecção cultural.
SAM.IITO (Samito): Vanguardismo electrónico com alma africana
Natural de Maputo e actualmente radicado em Montreal, SAM.IITO, anteriormente conhecido como Samito, é reconhecido pela sua abordagem inovadora à música electrónica afro-diaspórica. Com passagens por festivais como SXSW, MUTEK e Osheaga, o músico e produtor conquistou prémios como o ADISQ Félix Award e foi nomeado Révélation Radio-Canada em 2015. Após um hiato criativo, regressou com o projecto Magnum Dopus (2022), onde funde log drum africano com electrónica de vanguarda. No Bushfire, promete um espectáculo imersivo, com forte componente visual e narrativa identitária.
Segundo Jiggs Thorne, “a selecção dos artistas moçambicanos é um reflexo da diversidade e qualidade que o país tem oferecido ao continente. Através da música, estamos a construir novos imaginários africanos, e Moçambique tem sido um parceiro vital nesta jornada”.

O Festival Bushfire, conhecido pelo seu ambiente inclusivo, sustentável e multicultural, decorre anualmente na região de Malkerns e reúne milhares de pessoas de várias partes do mundo, celebrando arte, liberdade e consciência social.
Com esta presença marcante, Moçambique reafirma-se como potência criativa, mostrando ao mundo que a sua música não só emociona, mas também transforma.