Moçambique tem desempenhado um papel essencial no apoio energético ao Zimbabué, que enfrenta uma das piores crises energéticas da sua história devido à seca severa que afecta a região da África Austral. A escassez de água na barragem de Kariba, principal fonte de energia hidroeléctrica do Zimbabué, reduziu drasticamente a capacidade de geração eléctrica, agravando os cortes de energia que já duram mais de 18 horas diárias em algumas áreas, segundo informou o portal Engineering News. Segundo a Autoridade Reguladora de Energia do Zimbabué, cerca de 20% da electricidade consumida no país é importada, com uma parte significativa proveniente de Moçambique e da África do Sul. Esta dependência aumentou significativamente nos últimos meses, à medida que os níveis de água na barragem de Kariba caíram para apenas 3% da sua capacidade, levando a uma redução de mais de 80% na produção da fábrica hidroeléctrica.
A crise energética no Zimbabué é agravada pela seca prolongada, intensificada pelo fenómeno El Niño, que tem causado eventos climáticos extremos, como a escassez de chuvas. Além disso, a infra-estrutura de geração de energia do país enfrenta problemas relacionados com a sua idade avançada e com a falta de manutenção, devido à escassez de divisas para importar peças e equipamentos necessários. Para muitos zimbabuanos, o impacto é directo. A falta de energia obrigou famílias e pequenas empresas a recorrerem a soluções alternativas, como o uso de lenha, gás liquefeito e geradores movidos a diesel, que aumentam os custos operacionais e contribuem para as emissões de carbono. A crise também tem prejudicado a economia local, com muitos empresários a relatarem perdas significativas devido à incapacidade de manter as operações durante os cortes de energia.
Apesar dos esforços para diversificar a matriz energética com projectos renováveis, como plantas solares e ampliação de fábricas a carvão, a execução destas iniciativas tem enfrentado atrasos devido a questões burocráticas, falta de financiamento e volatilidade cambial. Moçambique, por sua vez, continua a ser um fornecedor crucial de electricidade para aquele país, contribuindo para atenuar os impactos da crise. A colaboração entre as duas nações reflete a importância da cooperação regional no sector energético para enfrentar desafios climáticos e garantir maior segurança energética para a África Austral. Especialistas alertam que, para mitigar crises futuras, são necessárias medidas urgentes, incluindo investimentos em infra-estruturas de energia renovável e melhor gestão hídrica na região, que está entre as mais vulneráveis às mudanças climáticas.