Com mais de 10 anos de experiência na implementação de sistemas de gestão ambiental, saúde, segurança e qualidade, conforme os padrões ISO. Sílvia Roseiro Artur-Mendes, actualmente, desempenha o papel de Especialista Ambiental Sênior do Projecto de Comércio e Conectividade da África Austral na ANE,IP. Em conversa com profile, compartilha a sua perspectiva sobre como as empresas podem adoptar a sustentabilidade nas suas acções.
Profile Mozambique: Como as empresas podem integrar práticas de sustentabilidade em sua estratégia de negócios sem comprometer a rentabilidade?
Sílvia Artur-Mendes: As empresas podem integrar práticas de sustentabilidade em sua estratégia de negócios através de uma abordagem de longo prazo, alinhando as iniciativas ambientais e sociais aos seus objectivos financeiros. Isso pode ser feito com a implementação de eficiência energética, redução de resíduos, inovação em produtos sustentáveis e engajamento com a comunidade. Ao fazer isso, as empresas não apenas contribuem para o bem-estar do planeta, mas também melhoram a eficiência operacional, reduzem custos e atendem às expectativas dos consumidores e investidores, o que pode aumentar a rentabilidade.
PM: Quais são os principais desafios que as empresas enfrentam ao implementar políticas ESG?
SAM: Os principais desafios incluem a falta de conhecimento especializado, custos iniciais elevados para implementar mudanças, resistência cultural interna, dificuldades na medição e na comunicação dos resultados e a necessidade de adaptação das regulamentações locais e internacionais. Superar esses obstáculos exige liderança comprometida, educação contínua sobre ESG e a criação de sistemas para medir e relatar o impacto ambiental e social das operações.
PM: Na sua opinião, as empresas moçambicanas estão suficientemente engajadas com as práticas ESG? O que pode ser melhorado?
SAM: Embora algumas empresas moçambicanas estejam a dar passos importantes em direcção à implementação de práticas ESG, ainda há muito espaço para avanços, especialmente em relação à integração efectiva e mensuração do impacto. O foco deve ser em aumentar a conscientização sobre a importância do ESG, melhorar as políticas ambientais e sociais, e garantir que as empresas cumpram com os regulamentos nacionais e internacionais. Melhorias podem ser feitas através de mais treinamentos, investimentos em tecnologias limpas e no fortalecimento das parcerias público-privadas.
PM: De que forma, uma empresa pode medir o impacto real das suas iniciativas ambientais e comunicar isso de forma transparente ao mercado e aos stakeholders?
SAM: Para medir o impacto real das iniciativas ambientais, as empresas podem adoptar métricas baseadas em indicadores-chave de desempenho (KPIs), como redução de emissões de CO2, consumo de energia, gestão de resíduos e uso sustentável dos recursos. A comunicação transparente deve incluir relatórios claros e objectivos, com base em padrões internacionais como a Global Reporting Initiative (GRI) ou o Pacto Global da ONU, e ser compartilhada de forma periódica com stakeholders, demonstrando os resultados tangíveis e os compromissos futuros.
PM: Quais sectores empresariais têm maior potencial para liderar a transição para uma economia mais sustentável?
SAM: Sectores como energia, construção civil, agrocultura, transporte e tecnologia têm um enorme potencial para liderar a transição para uma economia mais sustentável. A implementação de práticas mais verdes nesses sectores pode reduzir significativamente as emissões de carbono, melhorar a eficiência dos recursos e criar um ciclo de crescimento sustentável.
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PM: De forma mais concreta, nos últimos anos, nota-se em Moçambique uma corrida de empresas em adoptar e implementar praticas ESG. Temos o exemplo da vodacom, que recentemente obteve a certificação ISO 50001 para eficiência energética, tornando-se a primeira no sector de telecomunicações em Moçambique.
– Qual é a apreciação que Silvia faz sobre essa integração e adaptabilidade das em acções voltadas para a sustentabilidade?
A adopção de práticas sustentáveis pela Vodacom, como a certificação ISO 50001, é um exemplo positivo de como as empresas podem equilibrar inovação, adaptação às exigências ambientais e competitividade. Essa acção demonstra compromisso com a eficiência energética, redução de impactos ambientais e alinhamento com as melhores práticas globais. Empresas que seguem esse exemplo não só ganham reputação positiva, mas também se posicionam de forma estratégica no mercado.
PM: Considerando as recentes actualizações das Normas Internacionais de Relato Financeiro (IFRS), especialmente as IFRS 6 e 6A, sublinham a importância dos relatórios ESG (Ambiental, Social e Governança).
– Acredita que, para organizações em Moçambique, alinhar-se com estas actualizações pode aumentar a sua credibilidade e atrair investimentos?
Sim, alinhar-se com as atualizações das IFRS e relatórios ESG pode aumentar significativamente a credibilidade de uma organização em Moçambique. As práticas de relato ESG bem implementadas não só demonstram responsabilidade social e ambiental, mas também atraem investidores que buscam empresas alinhadas com princípios de sustentabilidade e boas práticas de governança. Isso pode resultar em maior acesso a financiamentos e oportunidades de crescimento.
PM: Por fim, que conselhos daria para empresas que desejam iniciar ou aprimorar as suas estratégias ambientais, mas enfrentam desafios financeiros e operacionais?
SAM: Para empresas que enfrentam desafios financeiros e operacionais, é crucial adoptar uma abordagem gradual e focada em soluções de baixo custo e alto impacto. Comece com práticas simples, como a redução do consumo de energia, uso eficiente de recursos e reciclagem. Busque parcerias com organizações e entidades que possam fornecer apoio técnico e financeiro. Ademais, invista na capacitação da equipe para promover uma cultura de sustentabilidade dentro da empresa, o que pode gerar retorno a médio e longo prazo.
PM: Como as empresas podem integrar práticas sustentáveis em suas operações diárias mitigar os impactos das mudanças climáticas?
SAM: As empresas podem integrar práticas sustentáveis no dia a dia adoptando processos mais eficientes, reduzindo o consumo de energia, água e recursos naturais, e adoptando a economia circular para minimizar resíduos. Também é importante considerar a adaptação das cadeias de suprimentos para fontes mais sustentáveis e promover práticas agrícolas e industriais que reduzem a pegada de carbono e o desperdício de recursos.
PM: Quais são as principais barreiras que as empresas enfrentam ao adoptar soluções de adaptação às mudanças climáticas e como podem superá-las?
SAM: As principais barreiras incluem a falta de conhecimento técnico sobre soluções climáticas, custos iniciais elevados e resistência à mudança dentro da organização. Para superar essas barreiras, as empresas devem investir em pesquisa e desenvolvimento, buscar financiamento e incentivos governamentais, e envolver os colaboradores e stakeholders no processo de mudança, garantindo que todos entendam os benefícios a longo prazo da adaptação às mudanças climáticas.