Quinta-feira, Abril 25, 2024
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Hélder Muteia: Expandir horizontes através da economia

Isso não quer dizer que não existam alternativas, incluindo a auto-exclusão dos mercados para se reduzir ao consumo do essencial, com base na apanha, caça e pesca.

Todavia, isso implicaria uma viagem radical em direcção ao primitivismo.

Hoje é comumente aceite que a expressão de todas as potencialidades da condição humana, no mundo moderno, pressupõe relações de troca e partilha reguladas pelos mercados.

Feliz ou infelizmente, tais mercados funcionam com regras. Não é propósito deste artigo discutir se tais regras são universais, justas ou infalíveis.

Importa apenas reconhecer que elas existem, se impõem e têm merecido estudos de vária ordem, em função das necessidades.

A integração das unidades productivas (indivíduos, famílias, empresas, comunidades ou países) depende, em grande medida da sua capacidade de compreender, interiorizar e aplicar essas regras e princípios, para tirar melhor proveito delas, e garantir uma integração efectiva e eficiente.

Este é um dos maiores desafios que o país enfrenta. A literacia económica, também chamada educação económica, é extremamente baixa, condicionando as aspirações de crescimento e sustentabilidade das iniciativas productivas e empreendimentos. Naturalmente que isso não se resolve atribuindo graus de bacharelato, mestrado ou doutorado aos diferentes actores económicos.

Mas é dado adquirido que, para cada função, tarefa e nível de responsabilidade, há um conjunto de conhecimentos que podem melhorar a sua eficiência, eficácia, productividade, rendimento e outros pressupostos da sustentabilidade económica.

Essas capacidades podem ser elementares, por exemplo, se os produtores rurais (particularmente agricultores) puderem ter um maior conhecimento das suas vantagens comparativas (tidas como as vantagens que um produtor tem, a nível da eficiência, em produzir algo), isso facilitaria a escolha das culturas a serem practicadas e respectivos calendários.

Permitiria que as pessoas, famílias ou empresas se concentrassem naquilo que têm maior vantagem, e partilhassem os seus produtos através do comércio.
Se a esse conhecimento fossem acrescentadas noções sobre as vantagens competitivas (tidas como o diferencial que uma pessoa, família, empresa ou país têm em relação aos respectivos concorrentes) isso permitiria um melhor posicionamento dos actores no mercado e melhor rentabilidade dos seus empreendimentos.

Se ainda se acrescentassem conhecimentos sobre a cadeia de valor dos seus produtos, isso permitiria uma maior especialização dos empreendedores rurais e maior inclusão, gerando complementaridades que permitiriam finalmente uma maior rentabilidade e sustentabilidade para todos.

Isso tendo em conta que o custo de oportunidade (também designada como oportunidade renunciada) na realização de determinada tarefa difere de actor para actor.

Imaginemos um agricultor situado no distrito de Nicoadala, província da Zambézia.

Assumindo que em condições normais o acesso à terra não é uma limitante, ele tem vantagens comparativas para a produção de arroz nas zonas pantanosas, e ananás ou mandioca nas zonas mais elevadas.

Isto é, pode produzir todas essas culturas com eficiência. Mas qual das culturas lhe oferece vantagens competitivas? Quais são os custos de oportunidade de cada cultura, para se saber onde ele pode obter melhor rendimento do seu tempo de trabalho?

São questões que devem ser colocadas, incluindo a análise das cadeias de valor que estão
associadas a cada cultura, à resistência das culturas às pragas; os hábitos alimentares dos seus consumidores etc.

Se os conhecimentos sobre estes factores não forem apurados, os riscos de decisões erradas são muito elevados.

Em alguns países com desafios similares, foram alcançados bons resultados através da utilização de extensionistas preparados para desenvolver relações de partilha de conhecimentos não apenas no campo da tecnologia, mas também sobre a economia e mercados.

Ao nível empresarial, onde se trabalha em maior escala, maiores investimentos, envolvimento de maior número de trabalhadores e níveis mais elevados de riscos, é recomendável ter em conta níveis de literacia económica mais elevados, incluindo a nível da gestão, administração e liderança.

Uma empresa rural que decida, por exemplo, implantar uma unidade de produção e processamento de laranja em Sussundenga, deve começar por fazer um estudo de mercado, e não se basear, por exemplo, no discurso de um membro do Governo que declarou que Sussundenga tem potencialidades para a produção de laranja.

Tem também que avaliar os investimentos que precisa de fazer e os retornos esperados.

Para os trabalhadores públicos (eleitos ou de carreira), exercendo funções na distribuição dos recursos naturais e capitais, na formação e capacitação da mão-de-obra, na criação e adopção de métodos e tecnologias de trabalho, e na regulação dos mercados e sistemas, as necessidades incluem o conhecimento de políticas e suas dinâmicas, bem como um domínio das engrenagens das cadeias de valor em que estão envolvidos, para que realmente possam agir como coadjuvantes e não retardadores.

Se estiverem envolvidos em processos nacionais, os conhecimentos sobre as dinâmicas da macroeconomia, dos mercados internacionais e dos acordos internacionais e oportunidades de mercados, podem revelar-se vantagens cruciais.

A partilha de conhecimentos sobre os mecanismos de funcionamento da economia pode servir para abrir horizontes e combater a chamada armadilha da pobreza absoluta, introduzindo, por exemplo, lições básicas de economia no ensino primário e secundário, ou estabelecer parcerias com a comunicação social para a divulgação de temas sobre a economia e mercados.

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