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Sexta-feira, Julho 4, 2025
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Paulo Chibanga: “Queremos que as MPMEs cresçam e se tornem mais competitivas”

Profile Mozambique: Quais serão as principais prioridades estratégicas da sua liderança à frente da AIMO?

Paulo Chibanga: Enquanto nova direcção da Associação Industrial de Moçambique (AIMO), a nossa prioridade imediata será reforçar a coesão entre os membros da Associação, promovendo o seu fortalecimento técnico, financeiro e institucional. Queremos garantir que as pequenas e microindústrias, que representam mais de 90% do tecido industrial moçambicano, tenham condições para crescer e tornar-se mais competitivas.

Pretendemos dar continuidade a iniciativas de grande impacto, como o Mozindus – Mozambique Industrial Forum and Exhibition, e avançar com novos projectos como a Agência de Desenvolvimento Industrial e o programa de Acreditação Industrial, para apoiar a formação técnica, a certificação das empresas e a modernização tecnológica.

Outro eixo estratégico é impulsionar o conteúdo local nos grandes projectos, sobretudo no sector extractivo e energético. Vamos actualizar os cursos do nosso centro de formação metalomecânica, de forma a responder às necessidades reais do mercado, e com isto criar mais e melhores condições de empregabilidade dos jovens, e articular com o Governo e parceiros soluções para melhorar o acesso ao financiamento, um dos maiores desafios que a indústria enfrenta.

O nosso compromisso é, no final do mandato, ter um sector industrial mais forte, mais competitivo e mais preparado para criar emprego e gerar valor para Moçambique.

PM: A questão do acesso a financiamento e linhas de crédito competitivas tem sido apontada como uma das principais dificuldades do sector industrial. Que propostas específicas a AIMO trará ao diálogo com o Governo e o sistema financeiro?

PC: Na perspectiva da nova direcção, a questão do acesso ao financiamento competitivo continua a ser um dos maiores desafios para o fortalecimento da indústria nacional, em particular para as micro e pequenas empresas, que representam a larga maioria do sector.

No mandato anterior, iniciamos este caminho em parceria com a banca comercial, nomeadamente com o Millennium BIM, através da criação de uma linha de financiamento específica para a indústria, no valor de cerca de 5 mil milhões de meticais. Esta experiência permitiu perceber melhor as reais necessidades do sector e, ao mesmo tempo, revelou que mesmo com reduções marginais nas taxas de juro, o custo do dinheiro se mantém elevado e pouco acessível para a maioria dos industriais.

Para enfrentar este desafio, estamos a preparar um estudo de base (baseline study) que permita conhecer em detalhe o panorama actual da indústria moçambicana e identificar com maior precisão quais as áreas que precisam de apoio prioritário. Este trabalho será articulado com o projecto da futura Agência de Desenvolvimento Industrial, que deverá concentrar esforços no apoio técnico, capacitação e financiamento orientado sobretudo para as micro e pequenas empresas, de modo a impulsionar a competitividade e modernização do tecido produtivo nacional.

Ao mesmo tempo, defendemos que o Governo desempenhe um papel essencial como facilitador, criando mecanismos e condições que reduzam custos estruturais, isentem taxas em momentos críticos e ajudem a proteger a indústria nacional, sem se substituir ao mercado. Nesse sentido, estamos a intensificar o diálogo com parceiros estratégicos como o Millennium, BNI, ABSA Bank, Banco Mundial e o IFC, para desenvolver pacotes integrados de apoio financeiro e técnico aos nossos associados.

PM: O fortalecimento do diálogo público-privado foi destacado como elemento central do seu mandato. Que passos práticos serão tomados para dinamizar essa relação?

PC: No âmbito do nosso mandato na AIMO, assumimos o fortalecimento do diálogo público-privado como um pilar estratégico para impulsionar a competitividade do sector industrial.

De forma prática, iniciamos ainda no mandato passado contactos directos com o Governo, incluindo um encontro de trabalho com o Ministro da Economia, onde propusemos a criação de um grupo de trabalho conjunto. Este grupo servirá para aprofundar o diálogo técnico, identificar os principais constrangimentos enfrentados pelos nossos membros e, em conjunto, traçar soluções que reforcem a protecção da indústria nacional, sobretudo em sectores vulneráveis às importações.

Paralelamente, estamos a trabalhar na criação de clusters que permitam reunir empresas por áreas estratégicas, fomentando uma reflexão colectiva sobre desafios e oportunidades das cadeias de valor que são consideradas estratégicas para o país. Pretendemos igualmente alargar a presença da AIMO para além de Maputo, através da abertura de representações regionais, garantindo que a informação e as preocupações das indústrias de todo o país sejam levadas ao centro das decisões.

Por fim, no quadro da nossa participação na CTA, continuaremos a liderar o Pelouro da Indústria, mecanismo que nos permite propor reformas concretas e articular de forma directa as prioridades do sector industrial junto do Executivo. Acreditamos que este caminho fortalecerá a voz da indústria moçambicana e contribuirá para a definição de políticas públicas mais ajustadas às reais necessidades do sector.

PM: Importamos mais do que exportamos. Como pretende a AIMO inverter este cenário e estimular a produção nacional, sobretudo nos sectores prioritários?

PC: Para inverter o actual cenário em que Moçambique importa mais do que exporta, apostamos numa abordagem estruturada e estratégica, começando pela realização de um estudo de base (industrial baseline) que nos permitirá mapear com rigor o parque industrial existente, identificar potencialidades e perceber quais produtos podem, numa primeira fase, ser produzidos localmente em substituição das importações. Acreditamos que a substituição de importações é um dos caminhos incontornáveis para independência económica e robustez da nossa balança de pagamentos que neste momento é deficitária.

Paralelamente, estamos a avançar com o projecto de Acreditação Industrial, iniciado no mandato passado, que visa certificar empresas nacionais e elevar a sua competitividade no mercado interno e externo. Pretendemos igualmente incentivar a instalação de unidades de transformação agroindustrial e metalomecânica, olhando com atenção para produtos estratégicos que possam gerar maior valor acrescentado.

Esta estratégia assenta ainda no desenvolvimento de fornecedores locais e na promoção da certificação, medidas que, em conjunto, reforçarão a capacidade produtiva nacional, criando condições para que a indústria moçambicana reduza gradualmente a dependência de produtos importados e contribua de forma mais robusta para a balança comercial do país.

PM: Na perspectiva da AIMO, qual deve ser o papel da indústria moçambicana no actual ciclo de investimentos no sector extractivo e energético?

PC: Na AIMO, acreditamos que a indústria moçambicana deve ter um papel central no actual ciclo de investimentos no sector extractivo e energético, e para isso, temos de apostar fortemente na formação técnica dos nossos profissionais. Se não investirmos na capacitação, estaremos a limitar a possibilidade das nossas empresas participarem de forma competitiva nestes grandes projectos.

Defendemos que esta aposta deve ser feita de forma integrada, através de centros de formação, programas de on-job training e maior aproximação entre as empresas nacionais e os projectos internacionais. Queremos que as nossas micro, pequenas e médias indústrias não só participem, mas também ganhem experiência prática e técnica para responder às exigências do sector.

Estamos conscientes de desafios como o poaching, em que os nossos técnicos mais qualificados são aliciados por novas operadoras com melhores condições. Por isso, trabalhamos em equipa para garantir que, mesmo após fases de construção dos grandes projectos, consigamos reintegrar estes profissionais em outras empresas industriais nacionais, mantendo o saber-fazer e a competitividade dentro do país.

Outro eixo essencial é a certificação das empresas moçambicanas, que, embora onerosa, é crucial para garantir padrões internacionais e aumentar o nível de conteúdo local. Como equipa, queremos que, daqui a cinco anos, possamos medir e comprovar que a indústria nacional está mais presente, mais qualificada e mais integrada nestes grandes projectos.

PM: Que visão de longo prazo projecta para a indústria nacional, tendo em conta as exigências impostas pela globalização e pela necessidade de integração regional?

PC: A nossa visão de longo prazo para a indústria nacional assenta, antes de mais, na construção de um sector verdadeiramente competitivo, capaz de responder às exigências da globalização e de aproveitar as oportunidades da integração regional.

Para isso, apostamos, como equipa, na formação de mão-de-obra qualificada, que consideramos ser a base para qualquer transformação estrutural. Queremos chegar ao fim dos próximos cinco anos com uma indústria mais moderna, profissionais preparados e um sistema financeiro capaz de oferecer melhores condições, tornando o custo do dinheiro mais acessível para projectos industriais.

O nosso grande objectivo colectivo é ver a indústria moçambicana recuperar espaço no contexto africano, voltar a figurar entre as mais relevantes do continente e, gradualmente, conquistar mercados além-fronteiras. Primeiro, reforçando as exportações na região, e depois, com ambição e trabalho conjunto, posicionando os nossos produtos a nível global. É este o caminho que traçamos, movidos pelo espírito de liderança, união e confiança no potencial do nosso sector industrial.

Conheça melhor a AIMO e acompanhe de perto o desenvolvimento das suas actividades neste link: Associação Industrial de Moçambique

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