Segunda-feira, Abril 29, 2024
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“Um olhar sobre a política monetária”

O custo do dinheiro ficou mais caro. Nestes últimos dois anos é o que se mais tem escutado nos corredores empresariais, discussões académicas e em outros fóruns.

Este fenómeno, traduz o efeito da aplicação tradicional de instrumentos de Política Monetária Restritiva pois, tem incidência na redução da quantidade de moeda disponível, com o aumento de reservas obrigatórias; aumento de taxas de juros aliado a redução de prazos; assim, ocorre uma redução no consumo, que por sua vez gera pressão para redução da produção. Nesta perspectiva, o Banco de Moçambique vem fazendo uma série de intervenções com o objectivo de garantir que o mercado opere num ambiente económico estável com níveis de inflação1 baixos.

O ano 2022, abre com uma herança de cerca de 18.6pp de PLR2. Um pequeno recuo ao ano 2021, dá a conhecer que a PLR, comparado ao estágio atual, registou uma subida acentuada de tal forma que acresce o volume de créditos inadimplentes, compromete a capacidade de cumprimento de serviço de dívida de vários devedores e coloca em causa a adesão ao crédito para fins de investimento  e/ou alavancagem de negócios na economia, com maior implicância nos particulares e PME´s que perfazem a grande maioria empresarial.

Em paralelo a subida da PLR até finais de 2022 atingindo cerca de 22.6pp, a inflação média anual apresentava mesma tendência, saindo de cerca de 7.8pp em Janeiro de 2022 para cerca de 12.1pp em setembro do mesmo ano. A inflação manteve-se em 2 dígitos até dezembro, porém, com uma redução de cerca de 1.81pp. Veja-se o gráfico a seguir:

Com a utilização dos instrumentos de política monetária, sobretudo os restritivos, o Banco De Moçambique objectiva de forma eficiente gerir e/ou controlar a inflação, mantendo-a baixa e estável por forma a incentivar um crescimento económico sustentado.

Para 2023, a PLR e a Inflação apresentaram uma relação inversa, correspondendo assim, positivamente, as expectativas do Banco de Moçambique de no curto a médio prazo manter os níveis inflacionários pelo menos baixos. A tendência crescente da taxa de juros prevaleceu em 2023, saindo de 22.6pp em Janeiro para cerca de 24.1pp em Dezembro. Contrariamente, a inflação média anual, registou decréscimos sucessivos saindo dos dois dígitos registados em Fevereiro (10.3pp) e Março (10.82pp) para cerca de 5.3pp em Dezembro, sendo que o nível mais baixo foi verificado em Setembro (4.63pp) a uma taxa de juros de 24.1pp.

De modo geral, no período em análise, a PLR registou incremento e mais incrementos a níveis visivelmente consideráveis, colocando de certo modo em questão o papel dos actores do sistema financeiro, enquanto dinamizadores do ambiente de negócios e comodidade financeira aos poupadores. Ainda no âmbito da aplicação dos instrumentos de política monetária, o Banco de Moçambique decidiu em Janeiro de 2023, aumentar o coeficiente de reservas obrigatórias dos depósitos em moeda nacional e estrangeira de 10.5pp para 28pp e 11.5pp para 28.5 respectivamente. Esta medida, é possivelmente explicada pela intenção do Banco de Moçambique de conservar os interesses dos devedores existentes, a medida que exerce pressão para reduzir a inflação sem necessariamente aumentar os custos, e em paralelo, reduzir o excesso de liquidez.

É possível ainda observar pela ilustração gráfica acima, o comportamento da inflação média anual entre 2022/23, que descreve-se entre oscilações com tendências decrescente, valendo assim referir que o BdM na intenção de reduzir a inflação, teve em 2023, sobretudo na segunda metade, oportunidades para implementar e testar uma revisão em baixa da PLR. Esta acção permitiria maior ancoragem das expectativas empresariais para o início de actividades em 2024.

Com inflação baixa e estável, os diferentes intervenientes económicos abandonam o dispêndio de recursos em actividades especulativas para contornar o impacto negativo da inflação e canalizam á actividades produtivas. Em face disso, estão as perspectivas de crescimento a médio prazo, que se mantém positivas a uma aceleração da actividade económica ate 6%***.

Contudo, face as diversas intervenções para correção do curso inflacionário neste período, antevê-se um 2024 positivo, com níveis equilibrados de gestão de taxas de juros e inflação o que vai permitir:

• Fomentar os níveis de poupança e investimento, o que vai alavancar o potencial de crescimento da economia;

• Crédito a economia por via de taxas de juros ajustadas a inflação;

• Aliviar o peso de créditos inadimplentes na economia;

• Diversificação da economia considerando o acesso das PME´s ao crédito, para fins de investimento e alavancagem estratégica de negócios;

• Incremento e possibilidade de maior diversificação na carteira de crédito, dando acesso de todos segmentos de mercado, bem como eventual redução de inadimplências, dada redução nos montantes de prestação associadas a taxas flexíveis; e

• Alívio da pressão de serviço de dívida, sobretudo no segmento PME´s e particulares.

Por: Pensado Tinga / Economista

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