O sector bancário manteve-se sólido e resiliente durante o período em análise, com crescimento de resultados e níveis adequados de capitalização e liquidez, segundo o Boletim de Estabilidade Financeira, divulgado pelo Banco de Moçambique, em Dezembro último. Entretanto, no que concerne à qualidade do activo, o rácio do crédito em incumprimento situou-se em cerca de 10%, acima do benchmark convencional de 5,0%.
Níveis de concentração do sector bancário
Em Junho de 2023, o Índice Herfindahl Hirschman (IHH) 10 dos activos, depósitos e crédito do sector bancário situou-se em 1.434, 1.605 e 1.286 pontos, respectivamente, mantendo-se a concentração do mercado no nível moderado.
As três instituições de crédito domésticas de importância sistémica (D-SIBs), designadamente BCI, BIM e Standard Bank, representavam conjuntamente 60,99%, 64,97% e 54,07% dos activos, depósitos e crédito, respectivamente, do sector bancário no período em análise.
Estrutura do balanço
No final do primeiro semestre de 2023, o activo total ascendeu a 887 mil milhões de meticais, representando um crescimento de 3,67% e 4,77% em relação a Dezembro e Junho de 2022, respectivamente.
Esta variação positiva, em relação ao período homólogo de 2022, foi motivada, essencialmente, pelo crescimento das disponibilidades em 136,56% e activos financeiros em 29,53%, atenuada pela queda das aplicações em instituições de crédito e outros activos em 65,47% e 24,86%, respectivamente.
Em termos de composição do activo, o sector bancário continuou a privilegiar o investimento em activos de elevada liquidez e rendibilidade.
Os activos considerados mais líquidos e de menor risco, constituídos pelas disponibilidades, aplicações em instituições de crédito e activos financeiros, representaram 49,96% do total do activo (47,09% em Dezembro de 2022 e 44,30% em Junho de 2022).
O crédito líquido de imparidades continua a representar uma parcela substancial do balanço do sector bancário, registando o peso de 31,68% (31,59% em Dezembro e 31,19% em Junho de 2022).
As rubricas “outros activos” e “activos tangíveis e intangíveis” representam 14,60% (17,17% em Dezembro de 2022 e 20,36% em Junho de 2022) e 3,77% (4,14%, em Dezembro de 2022 e 4,16%, em Junho de 2022) do activo, respectivamente.
Passivo e capitais próprios
No período em análise, o passivo total do sector bancário ascendeu a 731 mil milhões de meticais, representando uma expansão de 28,8 mil milhões de meticais (4,10%) face ao valor alcançado no período homólogo de 2022. Esta variação resultou, fundamentalmente, do aumento dos recursos em instituições de crédito em 19,2 mil milhões de meticais em relação ao período homólogo.
Os depósitos, no valor de 615,5 mil milhões de meticais (dos quais 76,12% em moeda nacional e os restantes em moeda estrangeira), constituem a maior fonte de captação de recursos das instituições de crédito e representam cerca de 84,25% do passivo total.
Os capitais próprios do sector bancário ascenderam a 155 mil milhões de meticais, representando um incremento de 8% em relação ao período homólogo do ano anterior. A variação anual desta rubrica deveu-se, basicamente, ao aumento dos resultados líquidos do exercício em 1,2 mil milhões de meticais, correspondente a 9%.
Indicadores de solidez financeira
A adequação de capital do sector bancário, face à exposição aos riscos económicos e financeiros, manteve-se sólida durante o primeiro semestre de 2023.
Neste contexto, o rácio de solvabilidade fixou-se em 23,33% (26,95% em Dezembro e 26,76% em Junho de 2022), muito acima do mínimo regulamentar (12,0%). Em relação ao período homólogo, esta variação foi proporcionada pelo incremento dos activos ponderados pelo risco em 7,51% e dos fundos próprios em 1,25%.
O rácio Tier 1/Activos ponderados pelo risco situou-se em 26,02% (27,52% em Dezembro e 27,33% em Junho de 2022), acima do mínimo regulamentar (10,0%), impulsionado pelo crescimento do Tier 1 em menores proporções que os activos ponderados pelo risco. Esta variação traduz-se numa menor cobertura do capital de superior qualidade sobre os activos ponderados pelo risco.
O rácio de alavancagem, outro indicador de adequação do capital, que fornece a indicação da dimensão em que os activos são financiados pelos capitais próprios, fixou-se em 12,72% contra 12,97% em Dezembro e 12,92% em Junho de 2022.
Qualidade de activos
A qualidade do activo, medida pela proporção do NPL sobre crédito total, manteve-se relativamente inalterada no período em análise. O rácio do NPL fixouse em 10,58%(8,97% em Dezembro e 10,02% em Junho de 2022), cifra acima do benchmark convencional de 5,0%.
A cobertura do NPL pelas provisões específicas aumentou, tendo transitado de 67,99% em Junho de 2022 para 70,61% em Junho de 2023, depois de 71,84% em Dezembro de 2022.
A nível sectorial, o Comércio registou em Junho último a maior parcela no total do NPL, com 30,50% (28,76% em Dezembro de 2022), seguido da Indústria, com 23,01% (21,53% em Dezembro de 2022), e Transportes e Comunicações, com 19,46% (20,38% em Dezembro de 2022), conforme o Gráfico 7.
Rendibilidade
No período em análise, o sector bancário continuou a registar lucros, pois os resultados líquidos do exercício aumentaram em 1,2 mil milhões de meticais fixando se em 14,6 mil milhões de meticais em Junho de 2023.
Esta variação é justificada, fundamentalmente, pelo incremento da margem financeira em 4,4 mil milhões de meticais.
Em geral, os principais indicadores de rendibilidade registaram valores relativamente superiores aos do período homólogo (Tabela 3).
A rendibilidade dos activos (ROA) fixouse em 4,64% e a rendibilidade dos capitais próprios (ROE) registou o valor de 18,38%.
O rácio da margem financeira mostra que cerca de 69% do produto bancário provém,parcialmente, da actividade de intermediação financeira (captação de poupança e concessão de crédito).
O rácio cost-to-income situou-se em 54,42%, registando um aumento de 1,09 pontos percentuais em relação ao período homólogo, o que indicia uma ligeira redução da eficiência bancária.
Liquidez e gestão de fundos
Em Junho de 2023, os principais indicadores de liquidez mantiveram-se em níveis elevados, comparativamente ao período homólogo de 2022, o que permite assegurar a continuidade das operações de financiamento do sector bancário (Tabela 4).
O rácio de transformação dos depósitos em crédito situou-se em 49,35%, devido ao incremento do crédito em 5,24%, que superou o ritmo de crescimento dos depósitos, de 2,40%.
Enquanto isso, os depósitos continuaram a representar a principal fonte de financiamento do sector bancário, com um peso superior a 95,15% do total (98,76% em Dezembro e 98,02% em Junho de 2022), tendo as restantes fontes de recursos mantido um peso residual (Gráfico 9).
No que respeita à estrutura, 58,95% corresponde aos depósitos à ordem, 39,08% aos depósitos a prazo e 1,97% a outros depósitos. Tanto os depósitos à ordem como a prazo registaram aumentos equivalentes a 3% e 1%, respectivamente, quando comparados com o período homólogo de 2022, contribuindo, desta forma, para o contínuo reforço dos fluxos de financiamento do sector bancário.
Ranking do Sector Bancário
Entretanto, no ranking das 100 maiores empresas de Moçambique – 2023, o estudo conduzido pela KPMG Auditores e Consultores, SA, referente ao exercício económico de 2022, a análise sectorial indica que foi apurado como a melhor instituição financeira de Moçambique o Banco Comercial e de Investimentos (BCI), com um Volume de Negócios de MZN 20,315 milhões.
Em linhas gerais, o sector bancário manteve-se sólido e resiliente, com crescimento de resultados e níveis adequados de capitalização e liquidez, o que favoreceu a prevalência do risco sistémico no nível moderado. Ainda assim, o sector continuou a registar riscos decorrentes do agravamento dos níveis da dívida pública e da subida do rácio de crédito em incumprimento (NPL).