Terça-feira, Abril 30, 2024
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ʺExiste espaço para o Banco de Moçambique reduzir as taxas de juros olhando para o desempenho dos indicadores macroeconómicosʺ, afirma Egas Daniel.

Em entrevista ao Profile, Egas Daniel, economista moçambicano, foi convidado a analisar o desempenho da economia nacional em 2023 e as perspectivas para 2024.

A análise aponta vários desenvolvimentos positivos e espera-se que o país continue a registar um bom desempenho com a taxa de crescimento económico média anual projectada em cerca de 5,5% de acordo com o CFMP 2024-2026.

  1. Como avalia a trajectória da inflação do país ao longo de 2023 e quais são suas perspectivas para 2024? O que eventualmente pode mexer com os preços e, em meio a este cenário, como fica a taxa de juros?  

A inflação em Moçambique para o ano 2023 teve um desempenho favorável, uma vez que apresentou uma trajectória descendente, tendo saído dos 2 dígitos do ano anterior (acima de 10%) para 1 dígito até 4,33% em Novembro de 2023. Para o ano 2024, a situação de preços continuará estável, prevendo-se que a inflação ascenda aos 7%, permanecendo em 1 dígito.

Os preços podem sair do controlo caso a guerra no Médio Oriente escale e provoque uma crise na região que leve a dificuldades de exportação de petróleo, o que pode levar a subida do preço do baril de crude e precipitar uma inflação importada para países como Moçambique

Por isso, olhando para o desempenho favorável dos indicadores macroeconómicos até aos finais de 2023, existe espaço para o Banco de Moçambique reduzir as taxas de juros, criando maior dinâmica para o investimento, emprego e crescimento económico.

  1. Na sua óptica, o que vem agudizando a taxa de desemprego do país nos últimos tempos? É possível dizer que o desemprego pode seguir nesta tendência de queda no ano que vem? Ou pode ter empecilho no meio do caminho?

O desemprego em Moçambique vem aumentado nos últimos anos provavelmente pelo facto do crescimento económico não ter acompanhado o crescimento populacional desde 2014, ou seja, a incapacidade da economia absorver os cerca de 500 mil jovens que entram para o mercado de trabalho.

Segundo, a natureza do crescimento económico em Moçambique, não é inclusivo a ponto de permitir tal absorção da mão-de-obra. A dinâmica económica recente está concentrada no sector extractivo de natureza especializada, concentrada, com fraca ligação com os outros sectores, o que torna tal crescimento apenas quantitativo e incapaz de promover aumento de rendimento e qualidade de vida para o grosso da população moçambicana.

Por fim, o Estado não tem conseguido criar e influenciar tal dinâmica económica mais inclusiva e geradora de emprego devido a crises que limitam, tal capacidade. Desde 2014, o programa de desenvolvimento do país está a reboque de eventos “imprevistos” como dívidas ocultas, cheias, secas, ciclones, terrorismo, pandemia, guerras de Russia-Ucrania e no Médio Oriente, etc., o que desafia qualquer esforço de promoção de crescimento económico inclusivo. 

  1. Investimentos: Quais devem ser os pontos de atenção que os investidores devem ter para o presente ano?

Os investimentos privados são feitos em função das expectativas dos empresários sobre a lucratividade. Aí o estado pode criar incentivos (zonas especiais, isenções temporárias e racionais, facilitação regulamentar e procedimental – menos burocracia) para áreas estratégicas como agricultura, agro-processamento ou agronegócio e manufactura, cujo potencial de geração de emprego e rendimento é maior. Quanto ao investimento público, este deverá continuar a priorizar os sectores sociais (educação e saúde) de impacto de longo prazo, bem como investimentos em infra-estruturas (com destaque para os de transporte), o que criará uma maior dinâmica e viabilização do investimento privado a médio prazo que pode resultar em maior crescimento e emprego para o país.

  1. Que análise faz da participação do sector privado nacional na indústria extractiva? E relativamente a contribuição do sector no Produto Interno Bruto (PIB)?

A comparticipação ainda é fraca, não apenas pela ausência da lei, mas pelo ambiente de negócios hostil ao surgimento de um sector privado nacional vibrante capaz de aproveitar as oportunidades que a indústria extractiva oferece. Razão pela qual, embora a contribuição do sector extractivo no crescimento económico esteja acima de 30% nos últimos 3 anos, tal não se traduz em termos práticos para o rendimento de nacionais, o que ocasiona impacto limitado para os moçambicanos.

  1. Quais são as principais perspectivas para o cenário económico em 2024?

Para 2024, perspectiva se que a economia continue a registar um bom desempenho com a taxa de crescimento económico média anual projectada em cerca de 5,5% de acordo com o CFMP 2024 2026. Tal crescimento será sustentado não só pelo sector do gás natural, mas também pela maturação do efeito do Pacote de Medidas para a Aceleração Económica (PAE) que poderá jogar um papel importante na dinamização da actividade económica, assim como, o contributo dos sectores da agricultura, comércio, construção e transportes e comunicações. Em geral, tendo sido o ano 2020 de queda da economia (-1,25% ), 2021 de término da queda (2,2%), 2022 de início da recuperação (4,1%), 2023 da própria recuperação (7% previstos), então 2024 será o ano da consolidação do crescimento (5,5% previstos). Faltará de facto melhorar a natureza deste crescimento para ser inclusivo, sustentável e possivelmente converter-se em melhores condições de vida dos moçambicanos.

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