Sexta-feira, Abril 25, 2025
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Moçambique poderá ver expansão da produção de GNL com o novo projecto Coral Norte da Eni

Moçambique poderá ver expansão da produção de GNL com o novo projecto Coral Norte da Eni

A multinacional italiana Eni aguarda a aprovação do Governo de Moçambique para dar seguimento à decisão final de investimento no terminal flutuante de liquefação de gás natural, Coral Norte FLNG. Com uma capacidade estimada de 3,4 milhões de toneladas anuais de GNL, o projecto será instalado na bacia do Rovuma, ao Norte do país, conforme informado pelo portal argusmedia.

A Eni espera que a autorização por parte das autoridades moçambicanas seja concedida em breve, permitindo que o projecto avance para a fase de execução. Embora ainda não tenha revelado um cronograma detalhado, a petrolífera reafirmou seu plano de iniciar as operações do Coral Norte na segunda metade de 2027.

O novo terminal flutuante será localizado aproximadamente 20 quilómetros ao Norte do Coral Sul FLNG, o primeiro empreendimento de exportação de GNL em Moçambique, também operado pela Eni, que iniciou suas operações no final de 2022. Com uma capacidade semelhante à do Coral Sul, o Coral Norte representa um passo estratégico na ampliação da produção de gás natural no país, num momento em que as perspectivas globais para o sector seguem em evolução.

A concretização do projecto ocorre em meio a incertezas quanto ao avanço de outros megaprojectos ligados à exploração de gás natural na bacia do Rovuma. O Mozambique LNG, liderado pela TotalEnergies, e o Rovuma LNG, sob responsabilidade da ExxonMobil, continuam suspensos devido a questões de segurança na província de Cabo Delgado.

O projeto da TotalEnergies, que prevê uma capacidade de liquefação de 13,1 milhões de toneladas anuais, chegou a atingir o fechamento financeiro em 2019, mas foi interrompido em 2021, quando a empresa declarou força maior devido à insurgência na região. No entanto, a petrolífera indiana Bharat Petroleum, uma das parceiras do consórcio, indicou em Outubro de 2024 que a força maior poderá ser suspensa entre Janeiro e Fevereiro deste ano, sinalizando uma possível retomada das operações.

Por sua vez, a ExxonMobil anunciou, em Novembro do ano passado, que tomará uma decisão final sobre o investimento no projecto Rovuma LNG, com capacidade de 18 milhões de toneladas anuais, no início de 2026. A empresa tem acompanhado os desenvolvimentos em Cabo Delgado e avalia as condições de segurança antes de seguir com o investimento.

Ao contrário dos projectos em terra, o Coral Norte FLNG será uma plataforma offshore, o que reduz significativamente os riscos associados à segurança na região. O sucesso do Coral Sul FLNG, que tem operado sem interrupções desde seu início, reforça a confiança da Eni no desenvolvimento de mais uma unidade flutuante de liquefação na bacia do Rovuma.

A Eni mantém seu compromisso de expandir as operações de GNL em Moçambique, consolidando-se como um dos principais protagonistas na exploração de gás natural no país. Caso a aprovação governamental seja concedida nos próximos meses, o Coral Norte poderá se consolidar como um novo marco na trajectória de Moçambique como fornecedor estratégico de gás natural para o mercado global.

Panorama dos Portos e Terminais de Moçambique

Portos-chave

Quais são os principais portos e que tipo de infraestruturas eles possuem? Qual é o principal propósito desses portos?

Os principais portos de Moçambique são:

  • o porto de Maputo (sul de Moçambique);
  • o porto da Beira (centro de Moçambique); e
  • o porto de Nacala (norte de Moçambique).

Existem outros portos menores nas províncias de Gaza (porto de Xai-Xai) e Inhambane, bem como nas cidades de Quelimane e Pemba.

Apesar de pequeno, o porto de Pemba ganhou maior relevância nos últimos anos, pois tornou-se o quarto porto a receber produtos petrolíferos importados para consumo local. Esta importância tem vindo a crescer com a implementação dos projectos de gás na Bacia do Rovuma.

O porto de Maputo é o maior porto moçambicano em termos de volumes anuais de carga. O porto está dividido em duas áreas distintas: os Terminais de Carga de Maputo – também chamados de porto comercial – e os Terminais de Granéis de Matola. Os Terminais de Carga de Maputo abrangem cabotagem, carga geral, líquidos (armazenamento em tanques), açúcar, grãos, contentores, automóveis, aço, ferro e terminais de melaço. Já os Terminais de Granéis de Matola incluem os terminais de carvão, produtos petrolíferos, grãos e alumínio.

O porto de Nacala, considerado o segundo maior porto em termos de volume de carga em 2023, é o maior porto natural de águas profundas na costa leste de África e permite o acesso às regiões norte de Moçambique. Actualmente, possui um terminal de carga geral, um terminal de contentores e um terminal de granéis líquidos (este último ligado a depósitos de combustíveis). O porto de Nacala também está conectado por via férrea à província de Tete para permitir a exportação de carvão. Em Outubro de 2023, foi realizada a cerimónia de inauguração da reabilitação, expansão e modernização do porto de Nacala. A capacidade de movimentação do porto aumentou de 100.000 toneladas de carga contentorizada para 252.000 toneladas, representando um aumento superior a 150%.

O porto da Beira, considerado o terceiro maior porto em termos de volume anual de carga em 2023 (tendo perdido uma posição para o porto de Nacala), é um dos mais relevantes de Moçambique. Em 2023, o porto foi classificado como o mais eficiente da África Austral, segundo o Índice de Desempenho de Terminais de Contentores do Banco Mundial. O porto passou por uma actualização que aumentou a capacidade de movimentação de 4 milhões de toneladas por ano de carga geral e 350.000 unidades equivalentes a vinte pés (TEUs) de contentores para 5 milhões de toneladas e 900.000 TEUs, respectivamente. As melhorias incluíram a instalação de equipamentos modernos para movimentação de carga e um sistema informático.

Os portos acima mencionados destacam-se na região da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) como infraestruturas estratégicas das quais os países do interior dependem para uma parte significativa das suas importações e exportações.

Reforma e modelos portuários

Reformas portuárias realizadas nas últimas décadas e os principais modelos de gestão portuária

A gestão dos portos em Moçambique foi, inicialmente, realizada pela antiga Direcção Nacional de Portos e Caminhos de Ferro até 1989, ano em que essa função foi transferida para a empresa estatal Empresa Nacional de Portos e Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM), criada pelo Decreto n.º 6/89 de 11 de Maio de 1989.

Com o lançamento do regime de concessões portuárias pelo Estado – nomeadamente nos portos de Maputo, Beira e Quelimane – a CFM foi substituída pelos respectivos concessionários como operador portuário em cada um desses portos. Nesse contexto, o modelo de “landlord”, baseado em parcerias público-privadas sob regime de concessão, tornou-se o principal modelo portuário em Moçambique.

O porto de Pemba e os terminais de combustíveis em todos os portos do país continuam a ser directamente geridos pela CFM.

Política de desenvolvimento estatal

Existe uma política estatal global para o desenvolvimento dos portos?

Moçambique não possui uma política estatal global para o desenvolvimento dos portos. Contudo, a Resolução n.º 5/96, de 2 de Abril de 1996, que aprovou a Política de Transportes de Moçambique, introduziu um capítulo dedicado à política portuária. Este capítulo estabeleceu, entre outros, os seguintes objectivos relacionados aos portos no país:

  • aumentar a eficiência operacional dos portos;
  • incentivar a modernização das técnicas de gestão, abrangendo desde questões operacionais até recursos humanos;
  • promover a participação de capital privado na criação de novas infra-estruturas, operações portuárias e serviços portuários, através de contratos de gestão ou concessões totais ou parciais, em parceria com o operador portuário estatal (joint venture); e
  • fomentar a exploração de terminais especializados por meio de concessões totais ou parciais a entidades privadas (joint venture).

Portos Verdes

Quais são os princípios de “portos verdes” propostos ou exigidos para portos e terminais?

O Regulamento para a Prevenção da Poluição e Protecção do Ambiente Marinho e Costeiro foi aprovado em Moçambique pelo Decreto n.º 45/2006, de 30 de Novembro de 2006.

Este regulamento estabelece o princípio fundamental de que todos os portos devem dispor de meios adequados para a recolha e tratamento de vários tipos de resíduos, com o objectivo de combater a poluição.

Em conformidade com este princípio, os operadores portuários são obrigados a possuir:

  • um manual de procedimentos internos para a gestão de riscos de poluição;
  • directrizes para a gestão dos diferentes tipos de resíduos gerados ou derivados das actividades de manuseamento e armazenamento de óleos e substâncias nocivas;
  • planos de contingência individuais para combater a poluição por óleos e substâncias nocivas.

Quadro de Desenvolvimento

Existe um quadro legislativo para o desenvolvimento ou operações portuárias?

Em Moçambique, não existe um quadro legal específico para o desenvolvimento ou operações portuárias. Contudo, esta atividade é regulamentada pela Política de Transportes e pela Lei das Parcerias Público-Privadas, juntamente com o respetivo regulamento, dado que todas as concessões de portos e terminais atribuídas a entidades privadas estão sob o regime de parceria público-privada (PPP).

Situação Jurídica – 23 de Agosto de 2024

Autoridades Reguladoras

Existe uma autoridade reguladora para cada porto ou para todos os portos?

A regulamentação de todos os portos é da responsabilidade de uma única entidade. Até Outubro de 2021, essa função era desempenhada pelo Ministério dos Transportes e Comunicações. No entanto, em Agosto de 2021, o governo, através do Decreto nº 54/2021 de 19 de Outubro de 2021 (Lei do Instituto Ferroviário e Portuário), criou o Instituto Ferroviário e Portuário de Moçambique (IFEPOM).

Autoridades Reguladoras

Quais são as principais competências e poderes da autoridade reguladora portuária?

A autoridade reguladora portuária em Moçambique é responsável pela supervisão, regulação, fiscalização e inspeção das atividades do sistema portuário, incluindo:

  • Monitorização do desempenho dos concessionários e operadores portuários, bem como a garantia de que as suas atividades estão em conformidade com a lei e com os respetivos contratos de concessão.
  • Supervisão da implementação e aplicação de medidas de segurança nas instalações portuárias.
  • Certificação da conformidade das instalações portuárias nacionais com os padrões do Código ISPS e outra legislação aplicável.
  • Formulação de propostas de políticas para o desenvolvimento e gestão dos portos nacionais.
  • Licenciamento e inspeção das operações e infraestruturas portuárias.
  • Licenciamento e supervisão da construção de infraestruturas portuárias.
  • Concessão de licenças a operadores portuários devidamente constituídos e monitorização da certificação do seu equipamento.
  • Promoção da livre concorrência, prevenção e tomada de medidas necessárias contra práticas anticoncorrenciais e abuso de posição dominante.
  • Regulação da abertura ou encerramento de portos e terminais portuários em coordenação com outras entidades.

Leia na íntegra: https://lnkd.in/dKP32TjQ

Risco de crédito soberano pode aumentar em 2025

A tensão pós-eleitoral já causou mortes, destruição e paralisação de diversos empreendimentos, com destaque para o sector extractivo, comércio (incluindo o de turismo) e de transporte, o que pode resultar numa queda significativa no crescimento económico e, consequentemente, na redução das receitas fiscais.

A revisão em baixa do crescimento económico e das receitas fiscais pode comprometer ainda mais a sustentabilidade da dívida pública, que já se encontra em níveis alarmantes, especialmente no que se refere à dívida interna.

Em 2025, a necessidade de recursos financeiros será ainda maior devido à urgência de manutenção e reposição de infraestruturas danificadas, assistência às famílias afectadas e concessão de incentivos às pequenas e médias empresas. Por outro lado, a confiança dos investidores, sobretudo os estrangeiros, estará comprometida, o que deve levar a um aumento significativo da dívida interna.

Assim, a combinação de queda do PIB, aumento da dívida pública e instabilidade política pode resultar em um rebaixamento de rating de crédito soberano de Moçambique.

Para mais informações, leia em: https://lnkd.in/dRcFXpVN

MANUSEIO DE CONTENTORES: Porto de Nacala atinge máximo histórico

PELA primeira vez, depois de beneficiar das obras de reabilitação, expansão e modernização, o Porto de Nacala, na província de Nampula, atingiu em Dezembro corrente, um marco histórico ao manusear um volume de 100 mil contentores, entre nacionais e em trânsito de e para os países vizinhos, incluindo para novos mercados europeus, asiáticos, do Médio Oriente e das Américas. “Em Dezembro de 2024 atingimos, pela primeira vez, um marco histórico de 100 000 contentores manuseados (embarque e desembarque).

Este é um máximo histórico que se verifica no manuseamento de contentores pelo Porto de Nacala”, afirmou há dias Augusto Abudo, director executivo da Empresa Porto e Caminhos de Ferro de Moçambique (CFM) Norte. Este valor global, acrescentou, representa o cumprimento em 100% daquilo que foi o plano para 2024, da produção mensal e anual das três terminais, nomeadamente de contentor, de carga geral e terminal de graneis e líquidos que compõem o complexo ferro portuário de Nacala. Assim, no período de Janeiro a Dezembro de 2024 o porto de Nacala registou uma realização global de 95,8%. No total, revelou o director executivo do CFM Norte, foram transportadas a partir do Porto de Nacala 1,423,804 toneladas de produtos diversos, destaque para gergelim, sisal, algodão, pedras semi-preciosas incluindo sucata e folhas de eucaliptos de e para países europeus, do Médio Oriente, Ásia e da América.

“Este é, sem dúvidas, um marco histórico na produção do Porto de Nacala desde a sua inauguração a 7 de Outubro de 2024 pelo presidente da República, Filipe Nyusi, numa cerimónia que contou com a participação dos presidentes da República do Malawi, Lazarus Chakwera e da Zâmbia, Hakainde Hichilema, e ainda pelo vice-ministro dos Negócios Estrangeiros do Japão, Hosaka Yasushi.

No entanto, o sucesso das operações ferro portuárias em Nacala teve em conta, segundo Augusto Abudo, vários factores, com particular enfoque na conclusão das obras de modernização e ampliação das três terminais da infra-estrutura, aumentaram a capacidade de atracagem de navios, cujo cais possui 400 metros de cumprimento e canal de acesso com 14,0 metros de profundidade. Para além destes factores, a modernização e ampliação das três terminais da infra-estrutura, classificada economicamente como o coração da província de Nampula, abriu também novos mercados do Médio Oriente, Ásia, Europa e América.

Aliado a esta posição geo-estratégica, está o facto de o porto ter uma baía natural protegida e, mais ainda, ter profundidades naturais grandes. O canal de acesso é de cerca de 60 metros de profundidade, 800 metros de largura. Portanto, isso quer dizer que não tem qualquer limitação para receber navios 24 horas ao dia, destacou.

“Depois da sua inauguração, o Porto de Nacala passou a contar com um cais reservado exclusivamente para receber navios porta contentores, assim como, a entrada em funcionamento de duas novas linhas de navegação, nomeadamente UAFL e COSCO Shiping, a implementação e utilização de novos equipamentos para o manuseamento de carga contentorizada, designadamente 2 QGC´s; BRTG; 7 Reachstackers e 12 camiões internos”, indicou o director executivo do CFM Norte.

A implementação de um TOS (Octopi), fornecido pela NAVIS 4, para a gestão dos processos de operacionais, assim como a introdução das operações de transhipment via porto de Nacala, saindo do porto de Maputo para as Comores, Madagáscar e Maurícias, são outros factores que contribuíram para o alcance das metas.

Nesse contexto, durante a cerimónia de inauguração do complexo ferro-portuário de Nacala, a 7 de Outubro de 2023, o presidente da República destacou que o mesmo permite o acesso às rotas marítimas para Malawi, Zâmbia, República Democrática de Congo, Zimbabwe, Reino de Eswatini, África do Sul e Botswana com impacto directo no desenvolvimento socioeconómico, nomeadamente, na promoção do comércio internacional, associado ao sector produtivo, estimulando a geração de emprego.

Instabilidade política desafia plano da TotalEnergies de reiniciar projecto de GNL

De acordo com o comunicado enviado a nossa redacção, a violência pós-eleitoral em Moçambique, após a confirmação da vitória do partido Frelimo nas eleições presidenciais contestadas de outubro, tem colocado obstáculos ao plano da TotalEnergies de reiniciar o projecto de GNL em Moçambique em 2025.

A Frelimo governa o país desde a independência de Portugal em 1975, mas Moçambique enfrenta elevados níveis de dificuldades económicas, pobreza e actividades terroristas, particularmente na região nordeste de Cabo Delgado, onde o projecto de GNL está localizado.

O CEO da TotalEnergies, Patrick Pouyanne, reiterou recentemente que o projecto “continua rentável” e a empresa permanece “comprometida” com ele, planejando reunir-se com o novo presidente de Moçambique para discutir o estado de desenvolvimento do projecto.

No entanto, a empresa lembrou que a decisão de reiniciar o projecto depende de garantias de segurança na região, resolução de diferenças com os contratantes sobre o custo extra do projecto e obtenção de sinal verde para o financiamento do projecto por parte das agências de crédito.

A TotalEnergies deseja ter “uma visão clara dos custos do projecto após uma interrupção de mais de dois anos, que devem ser mantidos e não aumentados”.

Anteriormente, o Global LNG Info Analytics relatou que a TotalEnergies adiou a data de início do projecto de exportação de GNL de Moçambique do primeiro trimestre de 2027 para o primeiro trimestre de 2029.

Agora, parece que a situação política foi adicionada às questões de custos e financiamento como fatores críticos antes que o projecto de GNL de Moçambique possa ser reiniciado.

De acordo com o Global LNG Database®, a construção do projecto de GNL de Moçambique, com capacidade de 12,88 MMT/Y, foi iniciada pelo principal contratante EPC, CCS JV (McDermott, Saipem e Chiyoda), no final de 2019. O projecto estava 21% concluído antes da suspensão, após o ataque terrorista de março de 2021 à cidade de Palma, nas proximidades do projecto.

Em abril de 2021, a TotalEnergies declarou força maior no projecto e retirou toda a sua equipe do local do projecto.

Informações completas sobre todos os projetos de importação/exportação de GNL no mundo, como o “Projecto de GNL de Moçambique”, estão disponíveis no Global LNG Database®. Saiba mais em: https://lnkd.in/dSG73cW

Siga o Global LNG Info em https://lnkd.in/e442DdDn para ver mais posts como este no seu feed.

A Impulsividade das Massas e os Caminhos para a Paz

“Na massa, o indivíduo adquire, pelo simples facto de fazer parte dela, um sentimento de poder invencível que lhe permite ceder a instintos que, isoladamente, ele teria mantido sob controle. A massa é impulsiva, volúvel, intolerante, e tende a acções que um indivíduo jamais cometeria sozinho.” – Gustave Le Bon (in Psicologia das Massas, 1895). Esta citação reflete exactamente o que vimos acontecer na semana passada (23 a 27 de Dezembro) quase em todo o país, onde as massas foram conduzidas a cometer actos que indivíduos isolados jamais teriam tido a coragem ou a frieza de cometer.

Neste momento, estamos diante da eminência da nova fase das manifestações, previstas para serem anunciadas nesta segunda-feira, 30 de Dezembro. Esta fase, que deverá culminar no dia 15 de janeiro, apresenta um cenário preocupante. À medida que analisamos os acontecimentos recentes, é impossível ignorar os sinais de uma potencial escalada para acções mais violentas e organizadas. Numa das minhas últimas publicações alertei sobre o risco de distribuição de a4mas de fogo a populares. Agora, o risco é o seu uso.

Se me perguntarem qual é a minha previsão, a resposta seria: início de uma nova onda de manifestações a 2 de Janeiro, precedida por acções preparatórias que poderão envolver dois cenários principais:

Cenário 1: O Uso de Armas e Ataques às Instituições do Estado

Com este cenário, prevejo um chamamento popular para bloqueios de vias de acesso e, simultaneamente, acções coordenadas de um grupo mais radical com a missão de atacar instituições centrais do Estado, como a Presidência, o Conselho Constitucional, o Tribunal Supremo e a Assembleia da República.

Há indícios de organização nesse sentido, como o vídeo amador que circulou recentemente mostrando populares de Boane apreendendo um carro com a4mas descaracterizadas. Esta abordagem busca explorar a dificuldade do governo em impor um Estado de Emergência, dadas as limitações legais, podendo levar a consequências devastadoras: uma guerra civil.

Cenário 2: Manipulação de Massas para Pressão Colectiva

Neste cenário, a estratégia giraria em torno da manipulação emocional das massas, com apelos para dias de “paneladas”, hinos e luto nacional – práticas já implementadas com sucesso no passado e às quais as massas não teriam dificuldades de aderir. Isso culminaria numa grande mobilização no dia 14 de janeiro, com marchas direccionadas a instituições como a Presidência e o Conselho Constitucional. As consequências seriam igualmente terríveis, com um provável confronto violento, chacinas e um prolongamento do clima de luto e divisão nacional.

Ainda tem a possibilidade de um terceiro cenário, sobre o qual a minha cabeça de recusa a debruçar-se, que seria a combinação dos dois primeiros cenarios em simultâneo. Este é um cenário que poderia ter aproveitamento de grupos terroristas .

Todos os cenários são alarmantes, não apenas pelos danos imediatos que podem causar, mas também pelas feridas profundas que deixarão em nossa sociedade. Será isto que, enquanto sociedade, queremos para o nosso país?

O Momento de Curar as Feridas

Todo aquele que, como eu, já foi enterrar um ente querido morto no âmbito destas manifestações, coloca-se a seguinte questão: quando chegará o momento de curar as feridas e reaproximar as pessoas que hoje se dividem em alas políticas?

Tenho convicção de que muitos dos que apoiam as manifestações não concordam com a violência, os saques ou a destruição de estabelecimentos públicos e privados. Porém, enquanto sociedade, precisamos traçar um limite claro contra qualquer tipo de agitação à violência ou provocação que levará à violência.

É hora de reflectirmos sobre como queremos que a história lembre este momento: como um período de divisão e destruição ou como um ponto de virada rumo à reconciliação e reconstrução.

Convoco todos, independentemente dos seus pontos de vista, a adoptarem o diálogo como ferramenta principal e a rejeitarem acções que perpetuem a dor e o sofrimento. A paz e a unidade só serão possíveis quando as lideranças – de todos os lados – e a sociedade como um todo priorizarem o respeito, o entendimento e o bem colectivo.

O futuro do nosso país depende das nossas escolhas hoje. Que possamos escolher construir pontes, em vez de cavar abismos.

Por: Vicente Sitoe

Fausia Gonçalves: “Buscava crescimento e encontrei no Be Like a Woman uma comunidade de apoio”

Em um mercado desafiador e dominado por estereótipos de género, Fausia Gonçalves se destaca como exemplo de perseverança no sector de transporte. Empreendedora de sucesso, ela busca constantemente a evolução. Em sua participação no programa Be Like a Woman, Fausia tem encontrado novas formas de expandir os seus horizontes, fortalecer a sua rede de contactos e aplicar práticas inovadoras no seu negócio.

Profile Mozambique: Como define o programa Be Like a Woman?

Fausia Gonçalves: Eu vejo o Be Like a Woman como um programa transformador, voltado para o empoderamento das mulheres em diversas áreas. Ele oferece não apenas capacitação técnica, mas também a mentoria e uma rede de apoio essencial. O programa vai além do aprendizado de habilidades, sendo um espaço que fomenta a criação de uma comunidade  onde as mulheres podem se apoiar mutuamente, se desafiar e crescer juntas.

PM: O que a motivou a concorrer ao programa como mentorada em 2024?

FG: A minha decisão de participar do programa Be Like a Woman, foi motivada pela necessidade contínua de crescimento e evolução, tanto no aspecto pessoal quanto no profissional. Actuo no sector de transporte, um ramo particularmente desafiador, que ainda é maioritariamente dominado por homens. Este cenário, por si só, exige que eu esteja constantemente me adaptando e buscando formas de me destacar.

O Be Like a Woman oferece exactamente o que preciso: network, aprendizagem, partilha e acesso a mulheres extraordinárias, que podem me ajudar a expandir os meus horizontes, além de me proporcionar uma visão mais ampla. Posso dizer de forma sumária que estava em busca de um espaço de troca genuína, onde a sinergia entre as participantes permita não só a partilha de conhecimentos, mas também o fortalecimento de cada uma de nós em busca de crescimento.

PM: Quais são os principais desafios que tem enfrentado em sua jornada como empreendedora?

FG: Como mulher, um dos principais desafios que enfrento é, muitas vezes, ser exigida a provar que domino o meu trabalho, simplesmente por ser mulher. Em um sector como o meu, que é predominantemente masculino, sou constantemente desafiada a demonstrar minha competência e conhecimento, algo que, frequentemente, não ocorre com os homens.

Esse processo constante de ter que “provar” o meu valor, de passar por testes de aceitação e de lidar com os estereótipos de género, é algo que muitas mulheres enfrentam no mundo dos negócios. Há uma expectativa de que, por sermos mulheres, temos que nos mostrar mais preparadas, mais competentes, ou até mais resilientes para conquistar o mesmo reconhecimento que os homens.

PM: Como a sua participação no programa Be Like a Woman tem impactado o seu negócio?

FG: A minha participação no Be Like a Woman tem gerado um impacto, especialmente em áreas-chave como o fortalecimento da minha força, a abertura para novos mercados e a implementação de práticas mais inovadoras. Ao longo do programa, apesar das limitações impostas pela tensão política que se vive no país, tenho estado a adquirir ferramentas eficazes para a gestão empresarial e alguns elementos essenciais de uma condução estratégica de negócios, como a importância do investimento em capacitação para os colaboradores e a partilha dos valores da empresa com a equipa.

Além disso, a troca de experiências com outras mulheres do programa tem sido uma fonte constante de inspiração. A interacção com mulheres de diferentes áreas tem me permitido adoptar a novas perspectivas, o que me deixa mais confiante.

PM: Que conselho daria para as mulheres que desejam entrar em um ramo de negócios desafiador?

FG: O conselho que eu daria é, sem dúvida, o de nunca desistir, mesmo diante das dificuldades. Vou dar um exemplo: “o eucalipto demora a crescer, mas quando cresce, se torna resistente e sólido”. Assim como essa árvore, o início de uma trajectória no mundo dos negócios é muitas vezes desafiador e exige paciência, mas é importante entender que esse tempo de crescimento é essencial para que, quando chegarmos à maturidade, possamos enfrentar qualquer obstáculo com firmeza. No entanto, não podemos parar quando começamos a ver os resultados.

O sucesso não vem de imediato, e é essencial persistir. A perseverança é o que transforma os desafios em oportunidades e aprendizado. Por fim, é importante entender que o caminho será cheio de altos e baixos, mas cada dificuldade enfrentada traz lições. A chave está na resiliência, na adaptação constante às mudanças do mercado.

Leia mais sobre o Be Like a Woman: Glayds Gande: “O Be Like a Woman empodera mulheres para liderar”

Megaprojectos ressentem-se

Nos últimos dias, Moçambique assistiu a uma intensificação de protestos que atingiram níveis preocupantes para a economia nacional, afectando directamente os megaprojectos que desempenham um papel significativo no Produto Interno Bruto (PIB).

As multinacionais são responsáveis por mais de 70% das exportações de Moçambique. Empresas como a fundição de alumínio MOZAL, a petroquímica Sasol e a Kenmare, que explora areias pesadas, são exemplos proeminentes.

Recentemente, na localidade de Topuito, distrito de Larde, província de Nampula, manifestantes invadiram o estaleiro da mineradora irlandesa Kenmare, que opera em Moma. Os protestantes impediram a aterragem da avioneta que transportava trabalhadores e executivos da empresa no aeródromo local. Relatos indicam que as principais vias de acesso à mina e ao acampamento da empresa foram bloqueadas por apoiantes do candidato presidencial Venâncio Mondlane. Exigiram que o administrador e o director-geral da Kenmare assinassem um acordo comprometendo-se a acelerar a construção da ponte sobre o rio Larde, infraestrutura considerada crucial para a população local.

A Kenmare é uma das multinacionais que regista lucros significativos em Moçambique, dados indicam que, em 2023, a empresa faturou 27,5 mil milhões de meticais com as suas operações.

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No início desta semana, manifestantes invadiram e ocuparam o centro de processamento de gás natural da Sasol em Temane, distrito de Inhassoro, província de Inhambane.

Interrupção do fornecimento de Gás para a África do Sul

Os manifestantes, provenientes das comunidades locais, expressaram descontentamento com a alegada falta de oportunidades de emprego e benefícios sociais proporcionados pela Sasol, empresa sul-africana que opera na região há vários anos. As reivindicações incluem maior inclusão nos postos de trabalho gerados pelo projecto e investimentos em infra-estruturas comunitárias.

Durante a ocupação, os manifestantes forçaram os funcionários a desligar o gasoduto que abastece a África do Sul, interrompendo temporariamente o fornecimento de gás natural ao país vizinho. Esta acção visa pressionar a Sasol e as autoridades moçambicanas a atenderem às demandas da comunidade local.

Bloqueio à principal via de exportação afecta operações da MOZAL

No município da Matola, um grupo de residentes bloqueou totalmente a estrada de acesso ao Parque Industrial de Beluluane, onde está situada a MOZAL, produtora de alumínio responsável por uma parte significativa das exportações moçambicanas. Os manifestantes ergueram barricadas e queimaram pneus na via que se conecta à Estrada Nacional Número 4 (EN4), principal rota utilizada pela MOZAL para transportar alumínio da fábrica ao Porto de Maputo e para os mercados de exportação. Consequentemente, os trabalhadores foram forçados a utilizar vias alternativas, enfrentando longas caminhadas.

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A MOZAL é um empreendimento conjunto de fundição de alumínio no Parque Industrial de Beluluane e integra os “megaprojetos” em Moçambique. A empresa dedica-se exclusivamente à produção de alumínio para exportação, tendo já sido responsável por mais de 50% das exportações totais do país.

Economista alerta para consequências graves da interrupção das exportações estratégicas

Para ilustrar o risco que esta nova vaga de protestos representa para o país, o economista Egas Daniel esclareceu que, embora os megaprojetos contribuam pouco para o desenvolvimento das comunidades locais, a sua paralisação pode desacelerar o crescimento do PIB, o que seria catastrófico para a economia.

Daniel alertou que as exportações estão concentradas nos megaprojetos, que são fundamentais para a obtenção de divisas necessárias para cobrir as importações. “No dia em que a MOZAL, Vulcan, Eni, Kenmare, Sasol e outras empresas não exportarem devido a um contexto político adverso, certamente teremos pressões no nosso câmbio, que neste momento é artificial”, afirmou.

Um relatório recente do Centro de Integridade Pública (CIP) estima que dez dias de manifestações podem resultar em perdas de 24,5 mil milhões de meticais, equivalentes a 2% do PIB previsto para 2024.

Contribuição dos megaprojectos para a economia

Apesar do seu peso nas exportações, a contribuição dos megaprojectos para as receitas do Estado e para o PIB tem sido considerada insignificante. Estudos indicam que, em determinados períodos, os megaprojetos contribuíram com apenas 0,004% para as receitas globais do Estado, equivalente a 83 milhões de meticais, e 0,01% para o PIB, cerca de 207 milhões de meticais.

Esta discrepância entre os lucros gerados e a contribuição fiscal tem sido alvo de críticas, com especialistas a defenderem a necessidade de políticas que assegurem uma distribuição mais equitativa dos benefícios provenientes dos recursos naturais.

Perspectivas

A continuidade dos protestos e a instabilidade política podem comprometer a operação dos megaprojectos, afectando negativamente a economia moçambicana. É imperativo que o governo e as empresas envolvidas adotem medidas que promovam o desenvolvimento das comunidades locais e assegurem uma distribuição justa dos benefícios económicos, de modo a mitigar tensões sociais e garantir a sustentabilidade económica do país.

Mapeamento de cargas pode viabilizar navegação costeira

A realização de estudos pormenorizados sobre a origem dos produtos e respectivos pontos de consumo pode ser determinante para a sustentabilidade de investimentos na cabotagem, conforme defende o ministro dos Transportes e Comunicações, Mateus Magala.

A cabotagem é o transporte marítimo de cargas entre portos do mesmo país, através de rotas ao longo da costa, contribuindo para a sustentabilidade do comércio interno.

Intervindo num evento organizado pelo sector privado, o ministro elucidou que em Moçambique existe ambiente favorável para o crescimento da cabotagem, considerando que muitos pontos do país são praticamente inacessíveis por comboio ou carro.

Caso a actividade assuma a posição que se pretende, o seu único concorrente seria o transporte aéreo, que consegue ser o meio que liga o país sem muitos constrangimentos.

“O grande problema da cabotagem é que um navio sai cheio de Maputo para Beira e volta para o ponto inicial sem mercadoria alguma. O preço vai ser, naturalmente, muito alto e a actividade não vai ser competitiva. Mas, se mapearmos todas as cargas que existem em Moçambique e sabermos a origem e destino, isso será um grande incentivo para o sector privado investir neste segmento de transporte”, disse.

O titular da pasta dos Transportes e Comunicações elucidou ainda que o desenvolvimento da cabotagem não deve ser visto como tarefa exclusiva do Governo, mas, sobretudo, do sector privado, considerando que se trata de uma actividade comercial.

“Existem algumas empresas que estão a investir na área. Há uma que está em Mocímboa da Praia (Cabo Delgado), mas ainda não opera na dimensão que nós queremos”, lamentou.

Entretanto, numa outra perspectiva, o ministro Magala reconheceu que, para além do mapeamento da origem e destino dos produtos, há necessidade de, igualmente, apostar-se na construção de mais infra-estruturas, incluindo armazéns.

116 Milhões de Meticais disponíveis para projectos ambientais

Dívida pública

Moçambique tem acesso a um fundo de 116 milhões de meticais, disponibilizado pela agência belga de desenvolvimento Enabel Moçambique, para financiar projectos destinados à proteção e salvaguarda do meio ambiente. O montante será atribuído entre 2024 e 2027, especificamente para iniciativas de combate às alterações climáticas ou de aceleração da transição energética.

De acordo com o gestor do projecto, Vicente Matsinhe, que recentemente discursou numa reunião de divulgação do Manual de Operações e Procedimentos do mecanismo de financiamento, espera-se que os fundos apoiem actividades que promovam um maior conhecimento sobre temas relacionados com as alterações climáticas e soluções inovadoras para enfrentar os desafios associados.

“Este projeto concentra-se em questões que afectam as comunidades mais vulneráveis e reconhece que muitos aspectos das alterações climáticas ainda são desconhecidos. Pretendemos fomentar mais conhecimento e colaboração entre os setores público e privado”, afirmou Matsinhe. As áreas prioritárias incluem o acesso à água, perdas e danos, energia e gestão de resíduos — sectores que enfrentam desafios significativos e necessitam de uma maior mobilização de financiamento climático para mitigar os seus impactos.

Samuel Buvane, Coordenador Adjunto para o Financiamento Climático da Enabel, afirmou que os fundos poderão também ser utilizados para actividades como estudos, pesquisas, seminários, consultorias e formação.

“Os estudos e informações resultantes serão disseminados para benefício de todos, encorajando uma colaboração mais eficaz entre as partes interessadas e o público em geral”, garantiu Buvane.

Anacleta Chiangua, representante do Gabinete de Financiamento Climático do Ministério da Economia e Finanças, sublinhou a importância destas iniciativas para o aprofundamento dos mecanismos de implementação de projectos.

“Esperamos que este seja o primeiro passo de uma interação contínua que conduza a outras fases de divulgação de diferentes iniciativas. Estamos optimistas de que estas reuniões culminarão na submissão de propostas relevantes e de alta qualidade para a salvaguarda do meio ambiente”, afirmou Chiangua.

A agência está empenhada em apoiar comunidades em todo o país, especialmente nas províncias que enfrentam os maiores desafios decorrentes das alterações climáticas.

Com este projecto, a Enabel visa lançar as bases para atrair recursos adicionais e garantir impactos sustentáveis, utilizando os recursos limitados de forma eficiente e racional.